BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O Brasil quer sair da COP30, em novembro, em Belém, com mais do que declarações, compromissos e metas. “Tudo isso é importante, mas precisamos de algo mais concreto, todos concordam. E o que é mais concreto, muito inovador, é o TFFF”, diz Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda, na embaixada do Brasil em Berlim, escala de uma viagem que começou na City, o centro financeiro de Londres, no início da semana.

TFFF é a sigla em inglês para Fundo Florestas Tropicais para Sempre, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a Assembleia Geral da ONU, no mês passado.

“Há um olhar do mercado financeiro internacional muito atento ao TFFF e já com uma série de compromissos, interesse em participar”, diz o braço-direito do ministro Fernando Haddad, frisando que há uma boa recepção ao projeto idealizado pelo Brasil tanto no Reino Unido como na União Europeia. “Em termos valorativos, em termos de políticas que estão sendo implementadas, nós estamos muito próximos do que a Europa vem defendendo.”

Durigan reitera que Alemanha, Noruega e Reino Unido vão investir no fundo, mas que os respectivos aportes ainda serão definidos. “Ainda não confirmaram valores porque tem um debate interno com os respectivos Ministérios da Fazenda. E eu sei o quanto isso dá trabalho”, brinca o secretário-executivo sobre a própria função. “É importante respeitar os processos de cada país.”

Em Nova York, em setembro, Lula anunciou aporte brasileiro de US$ 1 bilhão.

Fundos soberanos formam a base da arquitetura financeira elaborada pelo governo para o TFFF. Eles dão lastro ao empreendimento e também servem para atrair os agentes do mercado. A expectativa é que os países investidores forneçam uma contribuição inicial de US$ 25 bilhões (R$ 131,4 bilhões), montante que alavancaria US$ 100 bilhões (R$ 539,6 bilhões) adicionais do setor privado em alguns anos.

O fundo investiria em um portfólio de papéis de países em desenvolvimento, gerando remuneração para os investidores e, segundo projeções, até US$ 4 bilhões (R$ 17,1 bilhões) anuais para preservação ambiental, o que seria mais do que o triplo do valor direcionado para proteção de florestas atualmente.

“É diferente de um Fundo Amazônia, que paga para o país não desmatar. O Brasil já tem compromisso de ter desmatamento zero em 2030, não receberia mais nada. A lógica do TFFF é outra, é você sustentar que a floresta fique de pé”, explica o secretário.

Cada hectare preservado reverterá US$ 4 para o país que protege sua floresta. “E 20% dos recursos não vão para o Estado, mas para as comunidades locais. É uma engrenagem financeira inovadora, que terá como principais beneficiários países como Brasil, Congo e Indonésia.”

A engrenagem é tão inovadora que alguns críticos a descrevem como especulativa, algo que Durigan refuta. “Diferentemente de um fundo de mercado, o objetivo aqui é gerar uma externalidade muito positiva para as comunidades, para os Estados envolvidos e para o mundo, no fim das contas.”

Durigan e o subsecretário de Assuntos Econômicos e Fiscais da Fazenda, João Paulo Resende, lembram que o fundo será conservador em seu portfólio de investimento.

“É o feijão com arroz que existe no mercado francês. Não tem ações de empresas, não tem derivativos, não tem criptomoedas. É a mesma coisa que um banco faz. Eu pago para captar de uma poupança e empresto para a outra para construir uma casa.”

“O objetivo não é maximizar lucro. O objetivo é, dado o nível de lucro que a gente precisa, minimizar risco”, diz Resende. “Com a grande diferença da finalidade. A política de investimento não permitirá setores como carvão, óleo e gás”, completa Durigan.

Também foram evitados também mecanismos mais complexos de controle ambiental, como carbono ou biodiversidade. “Evitamos desde o começo. O que se tem é uma imagem de satélite de uma área que tem uma cobertura vegetal. Se aquela área, um hectare, tem até tantos por cento de cobertura vegetal, é considerada floresta e recebe. Se não tem, tá fora”, explica Resende.

Desenvolvido junto com o Banco Mundial, “uma instituição muito conservadora”, frisa o secretário, o fundo tem tido boa receptividade entre agentes do mercado e integrantes de governo. “Não há muita dúvida técnica de que funciona. Ah, sim, uma questão política colocada”, pondera.

“Tenho sentido que há, do ponto de vista local, aqui na Alemanha, mas principalmente na Inglaterra, uma preocupação com a repercussão de medidas contra mudanças climáticas de teor mais global que podem parecer, erroneamente, sem repercussão doméstica.”

No Reino Unido, Keir Starmer sofre uma crise de popularidade, com ascensão da ultradireita baseada em um discurso anti-imigração e antiambiental. O primeiro-ministro britânico chegou a ventilar que não tinha planos de participar da conferência no Brasil, em novembro, o que vem lhe custando pesadas críticas do restante do espectro político.

Ao mesmo tempo, o TFFF é finalista do Prêmio Earthshot, da fundação criada pelo príncipe William, voltada para a sustentabilidade. O herdeiro do trono britânico participará da cerimônia de premiação, no Rio, em 5 de novembro, e representará o rei Charles 3° na COP30, em Belém, logo em seguida.

“Está tudo bem encaminhado. Estamos otimistas”, afirma o secretário.