WASHINGTON, EUA, BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu brevemente a situação da Venezuela com Donald Trump, durante a ligação que mantiveram na segunda-feira (6), e afirmou que qualquer solução para a crise no país vizinho deve ser pacífica e diplomática.

De acordo com pessoas com conhecimento da conversa, Lula disse que ele e Trump deveriam tratar da situação venezuelana oportunamente.

O presidente brasileiro também reforçou alguns argumentos já apresentados por auxiliares em discussões com autoridades americanas: o de que o governo do Brasil cobrou reiteradamente a apresentação das atas eleitorais do pleito de 2024 -nunca fornecidas pelo chavismo. Nesse momento, o petista afirmou a Trump que não conversa com Nicolás Maduro desde a votação que deu ao ditador mais um mandato, sob amplas evidências de fraudes.

O assunto ganhou mais projeção internacional nesta sexta-feira (10), com a decisão do comitê do Nobel da Paz de premiar María Corina Machado, líder opositora venezuelana e que foi impedida pelo regime de concorrer com Maduro em julho passado. A láurea, aliás, era uma obsessão para Trump, que ainda não havia se manifestado sobre o anúncio da vencedora.

Os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos conversaram por cerca de 30 minutos na manhã de segunda-feira.

Na ocasião, Lula pediu a Trump a retirada do tarifaço imposto pelo republicano ao Brasil. Solicitou ainda que fossem suspensas outras punições aplicadas a autoridades brasileiras, como a imposição da Lei Magnitsky -mas sem citar o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

A Venezuela foi um dos temas da conversa que o ministro Mauro Vieira (Relaçoõs Exteriores) teve com o enviado especial de Trump Richard Grenell, em setembro, no Rio de Janeiro.

Na ocasião, Grenell relatou informações sobre a situação em Caracas.

A crise na Venezuela é um dos temas que mais preocupam o governo Lula. A situação, já delicada pelas eleições contestadas pela oposição e não reconhecidas por diversos países, agravou-se desde que os EUA declararam cartéis venezuelanos organizações terroristas e deslocaram forças navais para a costa venezuelana.

Maduro classifica essa mobilização como um cerco e uma ameaça.

Quatro lanchas de supostos narcotraficantes já foram destruídas por ataques americanos nas últimas semanas, em áreas próximas às águas venezuelanas. Washington não apresentou evidências de que as embarcações transportavam de fato narcotraficantes ou drogas nem explicou por que as atacou sem antes abordá-las.

Caracas acusa Trump de utilizar o narcotráfico como pretexto para tentar derrubar Maduro e se apoderar das reservas de petróleo venezuelanas -as maiores do mundo.

Além disso, em outro episódio recente, a Venezuela afirmou, no início do mês, que cinco caças americanos se aproximaram da costa do país.

O governo Lula tem sido crítico das ações militares americanas na região. Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente afirmou que a via do diálogo não deve ser fechada na Venezuela. Ele também se opôs à equiparação entre criminalidade e terrorismo, em mais um recado à política de Trump para a região.

“Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento. Outras partes do planeta já testemunharam intervenções que causaram danos maiores do que se pretendia evitar, com graves consequências humanitárias”, declarou Lula na ocasião.

O governo Trump, por sua vez, indicou que pretende incluir a crise venezuelana nas conversas bilaterais com o Brasil que devem ocorrer a partir da ligação entre Lula e Trump.

Na manhã de quinta-feira (9), o secretário de Estado, Marco Rubio, conversou com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira. Após a ligação, o escritório de Rubio publicou uma mensagem em que informou que ambos concordaram em estabelecer em breve um “mecanismo bilateral para impulsionar interesses econômicos mútuos e outras prioridades-chave da região” -o que diplomatas brasileiros consideram uma menção à Venezuela.

De acordo com integrantes do governo Lula, não há objeções à inclusão do tema venezuelano nas conversas entre as equipes negociadoras de Brasil e EUA. Eles ressaltam, no entanto, que Brasília deve defender sempre uma abordagem dentro dos limites do direito internacional, sem apoiar ações unilaterais ou que contribuam para uma maior desestabilização da América do Sul.