BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que o fato de países como a Argentina de Javier Milei e os Estados Unidos de Donald Trump terem posturas negacionistas, isso “não significa um apagão da presença” deles na COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas).
Ela ressalta que estas nações estarão representadas na cúpula por meio de entes governos subnacionais, prefeituras e sociedade civil.
Ela lembrou, por exemplo, que o Brasil recentemente fechou um acordo com o estado da Califórnia, nos Estados Unidos, para transição energética, mesmo o presidente Donald Trump impondo políticas anti-ambientais em nível nacional.
Também afirmou que a prefeitura de Buenos Aires estará representada na cúpula, em que pese a postura de Javier Milei, chefe de Estado da Argentina, também contra o clima.
Ela admite, claro, que esses governos dificultam as negociações e o avanço de políticas de enfrentamento à mudança climática.
No início deste ano, Donald Trump inclusive já anunciou que os EUA vão sair do Acordo de Paris, o tratado global para enfrentamento da mudança climática.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, porém, diz que após 11 meses dessa decisão, os efeitos em outros governos foram pequenos.
“Nenhum outro país saiu [seguindo os EUA]”, afirmou.
Há um mês da COP30, 162 delegações já confirmaram seu credenciamento para o evento, que acontece de 10 a 21 de novembro, em Belém, no Pará.
A escolha da cidade para sediar a cúpula foi sendo questionada durante este ano e, como revelou a Folha, uma série de países pressionou o governo Lula (PT) para que a conferência mudasse de local, em razão dos altos preços de hospedagem –o que não surtiu efeito.
O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, voltou a ressaltar que é frustrante o número de países que já apresentaram suas NDCs, a meta de redução das emissões de CO2 a que cada país se compromete.
Mas ressaltou que o mais importante é que os países que mais causam o aquecimento global -notadamente, os de maior economia, do G20-, estejam neste debate.
Dentre os quatro maiores emissores do mundo, os Estados Unidos apresentaram uma NDC, mas ainda no governo Joe Biden, e não devem cumprí-la sob Trump. A China, por outro lado, já anunciou a sua.
Índia e União Europeia, que completam a lista, ainda não entregaram estes documentos.
Essas NDCs servem de base para um relatório produzido pela ONU, que em linhas gerais, qual qual a temperatura o mundo vai atingir se essas metas forem cumpridas -e se isso é suficiente para evitar o colapso global, ou não.
Embaixador de Clima do Ministério das Relações Exteriores, Maurício Lyrio, lembra que o fato de apenas 56 países terem apresentado suas NDCs dentro do prazo faz com que esse relatório perca força e tenda a chegar um resultado preocupante.
Ele também afirmou que uma das tarefas mais difíceis do Brasil será construir, junto com o Azerbaijão, o chamado roadmap, documento que precisa traçar um caminho de como o mundo conseguirá mobilizar US$ 1,3 trilhão em recursos para o financiamento climático.
Ele lembrou também que historicamente essas metas não foram cumpridas.
“Os países ricos não pagaram integralmente o que teriam que pagar”, afirmou.
Finalmente, Marina Silva voltou a reforçar a necessidade que os países façam uma transição energética para substituir as fontes de combustíveis fósseis pelas renováveis.
Isso porque cerca de 75% das emissões de todo o mundo são em razão da queima de carvão, gás natural e petróleo.
Para ela, o Brasil -que tem a maior parte de seu CO2 oriundo do desmatamento- mostrou que a reduzir o impacto climático não é um obstáculo para o crescimento econômico.
Ao contrário, completa, foi em razão das políticas ambientais que o país conseguiu abrir novos mercados para exportação, sobretudo com Japão e China, e também ajudou a fechar acordo de cooperação entre o Mercosul e a União Europeia.
“Fomos capazes de reduzir o desmatamento em 46% na Amazônia e 36% no país […] e o agronegócio cresceu 15%, e a renda per capta cresceu 11%, afirmou.