SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Exército de Israel anunciou nesta sexta-feira (10) que o cessar-fogo em Gaza entrou em vigor ao meio-dia do horário local (6h em Brasília), um dia após o governo ter aprovado o acordo assinado com o grupo terrorista Hamas.
“As tropas começaram a se posicionar ao longo das linhas de retirada, em preparação para o acordo de cessar-fogo e para o retorno dos reféns”, informou as Forças Armadas em um comunicado, acrescentando que as tropas do Comando Sul “continuarão eliminando toda ameaça imediata”.
O recuo das tropas israelenses abre a contagem do prazo para a libertação dos reféns israelenses em até 72 horas, em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos detidos em Israel. O enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, disse que o Exército havia concluído a primeira fase da retirada em Gaza e que o período de libertação dos reféns havia começado.
Após o anúncio do início do cessar-fogo, milhares de palestinos deslocados pelo conflito começaram a caminhar em direção às suas casas. Uma fila enorme de pessoas avançava rumo à Cidade de Gaza, a capital e maior área urbana do território, que vinha sendo bombardeada por Tel Aviv.
“Graças a Deus minha casa ainda está de pé”, disse Ismail Zayda, 40, no bairro de Sheikh Radwan. “Mas o lugar está destruído, as casas dos meus vizinhos foram destruídas, bairros inteiros se foram.”
Porta-voz do Exército, o general Effie Defrin pediu aos palestinos que evitem entrar nas áreas que seguem sob controle militar israelense. “Faço um apelo daqui aos residentes de Gaza. Cumpram o acordo e garantam sua segurança”, disse.
Defrin também afirmou que o Hamas não é mais o grupo “de dois anos atrás”. “O Hamas foi derrotado em todos os lugares onde lutamos contra eles”, completou, em uma conversa com jornalistas.
A primeira fase do plano do presidente dos EUA, Donald Trump, para encerrar a guerra ainda prevê que as forças israelenses se retirem de algumas das principais áreas urbanas de Gaza, embora ainda controlem cerca de metade do território.
Uma vez implementado o acordo, caminhões carregados de alimentos e ajuda médica entrarão em Gaza para ajudar civis.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou nesta sexta-feira que as forças israelenses permanecerão em Gaza para exercer pressão sobre o Hamas até que o grupo se desarme. O premiê também declarou que todos os reféns retornarão nos próximos dias, além de indicas que 20 sequestrados continuam vivos em Gaza e os outros 28 morreram.
“O governo acaba de aprovar o marco para a libertação de todos os reféns vivos e mortos”, afirmou Netanyahu em um post no X.
Em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, algumas tropas israelenses se retiraram da área leste, perto da fronteira, mas disparos de tanques foram ouvidos, segundo moradores relataram à Reuters.
No campo de Nusseirat, no centro do território, alguns soldados israelenses desmontaram suas posições e seguiram para o leste em direção à fronteira israelense.
“Assim que ouvimos a notícia da trégua e do cessar-fogo, ficamos muito felizes e nos preparamos para voltar à Cidade de Gaza, mas nossas foram destruídas”, disse Mahdi Saqla, 40. “Mas estamos felizes apenas por voltar ao lugar onde nossas casas estavam, mesmo sobre os escombros.”
O principal negociador do Hamas, Khalil Al-Hayya, disse que recebeu garantias dos Estados Unidos e de outros mediadores de que a guerra havia acabado.
O acordo, se totalmente implementado, aproximaria os dois lados mais do que qualquer esforço anterior para encerrar a guerra.
Ainda há, porém, muitos riscos. Etapas adicionais do plano de Trump ainda precisam ser acordadas, incluindo como a devastada Faixa de Gaza será administrada e o destino final do Hamas, que até agora rejeitou as exigências de Israel de desarmamento do grupo.
O Ministério do Interior palestino, administrado pelo Hamas, disse nesta sexta-feira que implantaria forças de segurança nas áreas de onde o Exército israelense se retirou. Não estava imediatamente claro se os combatentes retornariam às ruas em número significativo, como fizeram durante cessar-fogos anteriores, ação que certamente seria vista por Israel como uma provocação.
Trump disse que viajará à região no fim de semana, possivelmente para participar de uma cerimônia de assinatura no Egito. O presidente do Parlamento de Israel, Amir Ohana, convidou Trump para discursar no Knesset.