PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – A secretária nacional dos Ecologistas da França, Marine Tondelier, revelou que Emmanuel Macron não nomeará um primeiro-ministro de esquerda, após reunião do presidente francês com líderes de diversos partidos nesta sexta (10).
“Saímos desta reunião perplexos. Consideramos que saímos sem nenhuma resposta, sobre nada, exceto que o próximo primeiro-ministro, que deve ser nomeado nas próximas horas, nos diz Emmanuel Macron, não estará em nosso campo político”, disse Tondelier.
Macron convocou uma reunião com os chefes partidários na tarde desta sexta, no Palácio do Eliseu. Não foram convidados apenas os líderes da Reunião Nacional (RN), de ultradireita, Marine Le Pen, e da França Insubmissa (LFI), de ultraesquerda, Jean-Luc Mélenchon. Os dois defendem a dissolução da Assembleia ou a renúncia de Macron.
O presidente deve anunciar em breve o novo primeiro-ministro e pôr fim a 48 horas de suspense, mas não à crise política que paralisa o país há mais de um ano.
O novo nome tentará êxito na missão em que seus três antecessores fracassaram no último ano: montar um gabinete capaz de sobreviver a um Parlamento rachado em três blocos irreconciliáveis, incapazes de aprovar o orçamento de 2026 e tratar de temas polêmicos, como a reforma das aposentadorias e o elevado déficit público.
Do sucesso do novo premiê dependem os últimos meses do mandato de Macron, que vai até maio de 2027. Ele não pode concorrer pela terceira vez à presidência, tendo vencido as eleições de 2017 e 2022. A maioria da população, segundo pesquisas, defende a convocação de novas eleições legislativas ou a renúncia do presidente.
Presidenciáveis, como Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, e até macronistas, como Édouard Philippe, do Horizontes (centro-direita), propuseram a saída antecipada do presidente.
A crise se arrasta desde que Macron tomou a fatídica decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas, em junho de 2024.
À época, o presidente alegou que era preciso deixar clara a vontade dos franceses, após o mau resultado de seu partido (Renascimento) nas eleições para o Parlamento Europeu.
Mas o resultado foi ainda mais confusão. A esquerda ficou com 193 deputados, o centro e a direita com 166 e a ultradireita com 142, todos longe da maioria absoluta de 289 necessária para aprovar leis.
Macron recusou-se a seguir a praxe e indicar o nome proposto pelo bloco com mais cadeiras, a esquerda, para o cargo de premiê, a economista Lucie Castets. A pretexto de aguardar o término dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Paris, procrastinou por dois meses, até indicar um político de direita, Michel Barnier.
Esquerda e ultradireita somaram seus votos para derrubar Barnier após apenas três meses no poder. O presidente nomeou, então, um veterano centrista, François Bayrou. Ele aguentou um pouco mais: nove meses, até ser, por sua vez, deposto por um voto de censura no Legislativo.
Macron recorreu a um aliado de longa data, o ministro da Defesa, Sébastien Lecornu. Depois de três semanas negociando a montagem de um ministério, Lecornu surpreendeu ao renunciar, na última segunda-feira (6), com apenas 27 dias no cargo, alegando falta de condições para governar.
O presidente pediu a Lecornu que tentasse, durante 48 horas, um último esforço para negociar com os partidos uma saída para o impasse. Ao final desse período, na quarta (8), Macron comunicou que indicaria um novo premiê até esta sexta.