SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma juíza federal suspendeu temporariamente a mobilização da Guarda Nacional em Chicago, Illinois, cidade aonde cerca de 500 soldados chegaram nesta quinta-feira (9) sob ordens do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A decisão ocorreu cinco dias depois de outro juiz ter bloqueado uma medida semelhante em Portland, no estado do Oregon.

A juíza federal April Perry considera que não há risco de insurreição, como diz o governo. Ela afirmou que permitir a presença das tropas da Guarda no estado apenas “colocaria mais lenha na fogueira”, após ouvir mais de duas horas de argumentos de advogados do governo dos EUA e do estado de Illinois, que processou o governo Trump por causa do envio.

Sua medida valerá por cerca de 14 dias, segundo a imprensa americana.

O governo republicano diz que as tropas são necessárias para a proteção dos agentes federais durante as operações de imigração nessa “fortaleza democrata”, à qual Trump costuma se referir exageradamente como uma “zona de guerra”.

Enquanto isso, funcionários locais democratas defendem que a polícia e as forças de segurança são suficientes e acusam Trump de instigar os protestos com o envio da Guarda Nacional.

“Donald Trump não é um rei, e seu governo não está acima da lei”, publicou o governador de Illinois, J. B. Pritzker, na rede social X. Um dia antes, na quarta-feira (8), o presidente havia pedido a prisão do prefeito de Chicago, Brandon Johnson, e do próprio Pritzker.

Ao proferir sua decisão nesta quinta-feira, Perry disse ter dificuldade em dar credibilidade aos argumentos do governo sobre violência durante os protestos em uma instalação de imigração no subúrbio de Broadview, Illinois, onde um pequeno grupo de manifestantes se reúne todos os dias há semanas.

Ela citou uma decisão de outro juiz de Chicago, também emitida nesta quinta-feira, que limitou temporariamente a capacidade de agentes federais de usar a força para dispersar multidões.

Manifestantes e jornalistas haviam movido uma ação separada pedindo essa ordem, afirmando que agentes federais os feriram no centro de Broadview.

Perry afirmou que o comportamento dos agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) motivou os protestos e que o envio de soldados da Guarda para Broadview “apenas colocaria mais lenha na fogueira que os próprios réus acenderam”.

Ao mesmo tempo, um painel de três juízes de um tribunal federal de apelações em São Francisco pareceu inclinado, nesta quinta-feira, a anular a decisão que bloqueou o envio de Trump a Portland, governada por democratas, o que pode abrir caminho para que centenas de soldados entrem na cidade.

Os desfechos dos dois casos podem ter implicações significativas para a campanha em expansão de Trump de enviar pessoal militar às ruas.

Advogados do governo em ambos os tribunais afirmaram que os soldados da Guarda eram necessários para proteger agentes e propriedades federais contra manifestantes. Os governadores democratas de Illinois e Oregon acusaram Trump de caracterizar protestos pequenos e, em sua maioria, pacíficos como violentos e perigosos, a fim de justificar os envios da Guarda Nacional.

Esses não são os primeiros estados a contestar legalmente o uso extraordinário da Guarda pelo governo. A Califórnia entrou com ação depois que Trump enviou tropas para Los Angeles no começo do ano para reprimir manifestações relacionadas à ofensiva do governo contra imigrantes. Um juiz federal declarou esse envio ilegal, mas a medida foi posteriormente confirmada por uma corte de apelações.

O destacamento ordenado pelo governo em Chicago inclui 200 soldados da Guarda Nacional procedentes do Texas e 300 de Illinois, segundo o Comando Norte do Exército americano. O soldados foram mobilizados por um período inicial de 60 dias.

A Guarda Nacional faz parte das forças armadas e pode ser mobilizada tanto no exterior quanto no país. Nos Estados Unidos, a Guarda normalmente é dirigida por governadores e responde a eventos como desastres naturais. Pela lei norte-americana, a Guarda Nacional e outros militares geralmente não podem atuar em atividades de policiamento civil.

Trump reiterou nesta quinta-feira que pretende expandir seu esforço de envio de tropas a cidades americanas para combater o que afirma ser uma violência desenfreada. Além de Los Angeles, o presidente também já havia enviado tropas a Washington, D.C., Memphis e Tennessee.

“Temos um exército muito poderoso”, disse ele. “Temos uma Guarda Nacional muito poderosa. Estamos enfrentando diretamente a ameaça sinistra do terrorismo e da violência doméstica de esquerda, incluindo o grupo terrorista antifa”, afirmou, referindo-se a um movimento antifascista descentralizado e sem estrutura formal.

Galeria Residentes de Washington protestam contra o envio de tropas da Guarda Nacional por Trump Manifestante gritaram palavras de ordem e seguraram cartazes contra o presidente https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1842537348394128-residentes-de-washington-protestam-contra-o-envio-de-tropas-da-guarda-nacional-por-trump *** Uma porta-voz da Casa Branca disse que o governo recorrerá da decisão de Perry. “O presidente Trump não vai fechar os olhos para a ilegalidade que assola as cidades americanas, e esperamos ser vindicados por uma instância superior”, disse a porta-voz Abigail Jackson.

Na noite de quinta-feira, por volta do horário da decisão de Perry, cerca de meia dúzia de soldados da Guarda estavam circulando dentro dos portões do centro do ICE em Broadview. Do lado de fora, havia cerca de 10 manifestantes.

Trump disse nesta semana que poderia invocar a Lei da Insurreição, que permite ao presidente mobilizar o Exército nos Estados Unidos para reprimir rebeliões. Em reunião de gabinete nesta quinta-feira, ele reiterou sua afirmação de que a criminalidade está fora de controle em Chicago e Portland.

“Lançamos uma campanha histórica para resgatar nossa nação das gangues e dos criminosos de rua, reincidentes violentos, infratores ilegais da lei migratória, extremistas e cartéis selvagens e sanguinários”, declarou o presidente, acusado por críticos de mostrar uma tendência autoritária enquanto tenta cumprir sua promessa de campanha de deportar milhões de imigrantes sem documentos.

Considerado um possível candidato democrata para as eleições presidenciais de 2028, Pritzker chamou Trump de “desequilibrado”. “É um ditador frustrado, e tem algo que realmente quero dizer a Donald Trump: se você vier atrás do meu povo, terá que passar por mim. Então venha me pegar”, disse ontem.