BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Antes de ser destituída da Presidência do Peru na madrugada desta sexta-feira (10), Dina Boluarte costumava dizer que havia quebrado a maldição de breves governantes ocupando a Casa de Pizarro, apontando que ela era a líder há mais tempo no cargo desde Ollanta Humala (2011-2016).

A primeira mulher presidente do Peru atribuía sua continuidade a ter se reconciliado com as forças políticas conservadoras que dominam o Legislativo. Essa união rachou, porém, e ela foi destituída após quase três anos, fulminada pelos partidos em que confiava para governar até julho de 2026.

Bastou que o grupo político de Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori (1938-2024), se voltasse contra ela para que a presidente fosse tirada do poder em questão de horas. Quatro dias antes, Keiko negou, em uma entrevista, que governasse nas sombras. “Um mito foi gerado sobre mim, que sou poderosa, que sou culpada de todos os males”, disse.

Com a queda de Boluarte, o Parlamento empossou o líder do Congresso, José Jeri, como o novo presidente do país. Uma nova eleição está marcada para abril de 2026. O desfecho do impopular último governo é mais um capítulo de uma crise em que, como lembrou a agora ex-presidente, uma sequência de políticos se reveza no cargo.

Ollanta Humala foi o último deles a completar seu mandato. Foi no governo dele que estourou o escândalo da Odebrechet no país, pelo financiamento da empreiteira brasileira a partidos em troca de benefícios em obras públicas. Humala e sua mulher, Nadine Heredia, foram mantidos em prisão preventiva de 2017 a 2018 e ainda são investigados. Em 2025, a ex-primeira-dama pediu asilo no Brasil. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o asilo foi concedido por questões humanitárias.

O economista Pedro Pablo Kuczyinski, conhecido como PPK, dirigiu o país de julho de 2016 a março de 2018, ganhando por uma margem estreita de votos de Keiko Fujimori no segundo turno. Em dezembro de 2017, PPK foi ligado ao escândalo da versão local da Lava Jato e teve de renunciar após denúncias de que tinha comprado votos para não ser destituído em troca da libertação de Fujimori. Em 2019, foi condenado a 36 meses de prisão preventiva por suposta lavagem de dinheiro, quando era ministro de Alejandro Toledo (2001-2006). Após prisão domiciliar, está hoje em liberdade.

Vice de PPK, Martín Vizcarra governou de 2018 a 2020. Um ano e meio após chegar ao poder, dissolveu o Congresso, mas teve sua imagem corroída por investigações de corrupção quando era governador. Em 2021, concorreu ao Parlamento, ganhou, mas foi impedido de assumir o cargo. O Ministério Público do país pediu que ele fosse condenado a 15 anos de prisão pela suposta cobrança de subornos em obras públicas.

A passagem de Manuel Merino pela Presidência foi breve. Ele governou por cinco dias, de 10 a 15 de novembro de 2020. Antes, foi deputado e militante da Ação Popular. Recebeu a faixa presidencial após a saída de Martín Vizcarra por incapacidade moral e vacância do cargo, mas teve que renunciar imediatamente devido a protestos contra sua nomeação, que deixaram dois mortos e cem feridos. Em junho de 2022, a Câmara o eximiu de responsabilidade política pelas mortes.

Em seguida, o engenheiro e escritor Francisco Sagasti assumiu a Presidência de forma interina, de novembro de 2020 a julho de 2021, em um período de convulsão social no país e em meio à crise sanitária pela pandemia de Covid-19. Enfrentou protestos no campo e falta de apoio parlamentar.

Anos de crise política trouxeram ao centro do cenário político o polêmico Pedro Castillo, de quem Dina Boluarte era vice. Ele é o último presidente peruano eleito nas urnas, após uma disputa apertada com Keiko. O político conquistou uma base nas áreas mais vulneráveis do país, prometendo uma reforma constitucional. Sem apoio parlamentar e isolado, o professor trocou mais de 70 vezes de ministros e deixou o cargo após uma tentativa fracassada de autogolpe, em dezembro de 2022. Cumpre prisão preventiva de 18 meses, acusado de conspiração.