O Brasil consolidou em 2025 sua posição como principal fornecedor de soja para a China, beneficiando-se diretamente do prolongado conflito comercial entre Pequim e Washington. A disputa tarifária reduziu drasticamente as exportações norte-americanas e abriu espaço para que os produtores brasileiros dominassem o mercado chinês.

Segundo dados da American Farm Bureau Federation, as importações chinesas de soja dos Estados Unidos despencaram para 5,8 milhões de toneladas entre janeiro e agosto, o menor volume já registrado e quase 80% inferior ao mesmo período de 2024. Em contraste, o Brasil exportou mais de 77 milhões de toneladas no mesmo intervalo, consolidando uma liderança inédita.

O bloqueio temporário das compras da soja americana — suspensas pela China entre junho e agosto — fortaleceu também a presença da Argentina, que aproveitou o momento para ampliar embarques após reduzir impostos sobre exportações.

A preferência chinesa pela soja brasileira não é recente, mas se intensificou neste ano. Em poucas semanas, processadores chineses compraram ao menos 40 carregamentos no Brasil, somando 2,4 milhões de toneladas — movimento considerado atípico para o período, já que o volume costuma aumentar apenas a partir de fevereiro, durante a colheita sul-americana.

Impactos econômicos e políticos

A valorização da soja brasileira foi influenciada pela queda dos preços internos e pela maior rentabilidade da indústria de processamento na China, favorecida pelo aumento do valor do farelo de soja. No porto de Santos, principal via de escoamento do grão, mais de 85% das exportações têm a China como destino, evidenciando a dependência da demanda asiática.

Nos Estados Unidos, o cenário é oposto. Além da soja, as exportações de milho, trigo e sorgo para a China foram praticamente zeradas, e as vendas de carne suína e algodão caíram fortemente. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) prevê que as exportações agrícolas americanas somem US$ 17 bilhões em 2025, uma queda de 30% em relação ao ano anterior.

O órgão também projeta uma redução de 2,5% na renda agrícola do país — o menor patamar desde 2007. Além da perda de mercado, os produtores enfrentam aumento nos custos logísticos, agravado pela baixa do nível do Rio Mississippi, principal rota para o escoamento de grãos. O governo de Donald Trump já estuda um novo pacote de ajuda financeira para o setor, nos moldes do adotado em 2019.

Incertezas à frente

Apesar do bom momento para o agronegócio brasileiro, especialistas alertam que o cenário global segue instável. Caso o impasse entre China e EUA se estenda, o aumento da demanda pelo produto brasileiro pode elevar preços e pressionar o abastecimento mundial.

Há também o risco de escassez no fim do ano, período em que a China costuma recorrer à soja americana para equilibrar seus estoques. Essa combinação de fatores deve manter o mercado de commodities agrícolas altamente volátil, com impacto direto nas exportações e nos preços globais dos alimentos.