PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil do Rio Grande do Sul indiciou nesta quinta-feira (9) Adir Aliatti, 69, conhecido como Prem Milan, da Comunidade Osho Rachana, na zona rural de Viamão, na Grande Porto Alegre. Dois filhos dele (um homem e uma mulher) também foram indiciados.

A polícia gaúcha indicou que o trio é suspeito de ter cometido 12 crimes: associação criminosa, tortura psicológica, estelionato, redução à condição análoga à de escravo, curandeirismo, charlatanismo, crime contra a economia popular, violência sexual mediante fraude, exposição de crianças a constrangimento, falsificação de produto terapêutico, injúria racial e discriminação por orientação sexual.

O inquérito também aponta que os líderes do grupo faziam o uso de pseudoterapias ilegais, como ozonioterapia retal e a realização de rituais de “cura gay”, considerados formas de tortura e discriminação.

A defesa de Milan, feita pelo advogado Rodrigo Oliveira de Camargo, afirma que até o momento não teve acesso ao indiciamento, e que ele “confia na Justiça e não se furtará de, nos foros e momentos adequados, prestar todos os esclarecimentos devidos”. Afirma ainda que aguardará “as conclusões do Ministério Público e se reserva o direito de manifestação nos autos do processo penal”.

A investigação policial começou depois que ex-integrantes do grupo denunciaram Milan, que pregava na comunidade os ensinamentos do controverso líder espiritual indiano Osho, conhecido como “o guru do sexo”.

Em maio de 2024, a Folha revelou denúncias de 16 ex-integrantes da comunidade. Eles descreveram uma rotina de manipulações, humilhações, exploração do trabalho e episódios de agressão física tratados como parte de um suposto processo terapêutico que envolvia também sexo, meditação e exercício bioenergéticos. Alegaram ter sofrido e testemunhado coerção, ameaças e extorsões.

À época, em entrevista à Folha, Milan negou as acusações. Admitiu ocupar uma posição de liderança na comunidade e afirmou que as pessoas são convidadas a entrar para a Comuna -como era chamado o sítio sede da Osho Rachana, em Viamão- e o fazem voluntariamente, sendo livres para manifestar discordâncias e deixar o local quando quisessem.

Em dezembro, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul havia feito uma operação de busca e apreensão na comunidade no início da investigação.

ESQUEMA CRIMINOSO ESTRUTURADO’, DIZ POLÍCIA

A delegada Jeiselaure Rocha de Souza afirma ter descoberto a “existência de um esquema criminoso estruturado”, que explorava financeira e psicologicamente os seguidores, com denúncias de tortura, violência, crimes financeiros e abuso sexual.

Para ela, as provas reunidas demonstram uma “atuação sistemática”, que se valia da autoridade exercida na comunidade para “dominar, coagir e explorar” dezenas de pessoas.

A polícia afirma que, na comunidade, ocorriam “práticas sistemáticas de tortura psicológica, exploração econômica, manipulação emocional e violência simbólica”, realizadas “sob o disfarce de rituais espirituais e terapêuticos”. Os seguidores seriam submetidos a rituais coercitivos, isolamento social, humilhações públicas e trabalhos forçados.

A investigadora diz ainda que as ações dos líderes envolviam a captação de recursos financeiros de fiéis e simpatizantes, “sob falsas promessas de cura espiritual e prosperidade”. A delegada diz também que eram realizados procedimentos terapêuticos não reconhecidos, “com potencial lesivo à saúde física e mental dos envolvidos”.

CONFIRA A ÍNTEGRA DA NOTA DA DEFESA DE MILAN

“A defesa técnica de Adir Aliatti, realizada pelo advogado Rodrigo Oliveira de Camargo, refere que tomou conhecimento do encerramento das investigações, mas que não teve acesso ao conteúdo do relatório da autoridade policial.

Aliatti confia na justiça e não se furtará de, nos foros e momentos adequados, prestar todos os esclarecimentos devidos.

Neste momento, aguardará o acesso ao indiciamento policial e às conclusões do Ministério Público -a quem compete decidir pelo exercício, ou não, da ação penal- e reservar-se-á ao direito de manifestação nos autos do processo penal, onde finalmente serão asseguradas garantias como a imparcialidade, a ampla defesa, o contraditório e a presunção de inocência.”