RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O setor elétrico diz que pode ajudar a descarbonizar transportes e indústria no Brasil, contribuindo para as metas de redução de emissões do país, mas cobra maior ação do governo para organizar o mercado, hoje alvo de lobbies que preocupam investidores e elevam o custo das tarifas.
A mensagem foi entregue nesta quinta-feira (9) à presidência da COP30 por uma coalizão envolvendo 73 empresas e oito associações. Estão fora da lista, porém, representantes da energia solar, que vêm se beneficiando de subsídios criticados no manifesto.
O trabalho elaborado com apoio da consultoria PSR parte do princípio de que a matriz elétrica brasileira já é 90% renovável, então o objetivo de longo prazo é manter esse percentual, que hoje já representa mais do que o dobro da média global.
Para isso, diz, é necessário mais do que dobrar a capacidade atual de geração de energia, inserindo 345 GW (gigawatts) em potência nova de energia limpa. Assim, o país chegaria a 2050 com 88% da matriz elétrica renovável.
O presidente da PSR, Luiz Barroso, diz que a projeção considera o avanço da eletrificação sobre os setores de transporte e indústria e a implantação de projetos de grande consumo, como data centers ou plantas de hidrogênio verde.
E conclui que a manutenção da matriz 90% da matriz renovável tem potencial de promover sinergias para a descarbonização nacional e global da economia em até 176 milhões de toneladas de CO₂ por ano. O valor é equivalente a 11% das emissões totais do Brasil atualmente.
“Hoje, a indústria vive de usar combustível fóssil, seja carvão ou gás para esquentar água ou gerar vapor. A gente assume que muitos desses processos podem ser eletrificados”, afirma ele. “Por isso é importante manter a renovabilidade [da matriz].”
O manifesto defende, porém, que essa ambição depende de correção de rumos de governança. A avaliação é que o governo deixou de ser o agente central de planejamento do setor, que vem sendo feito de forma equivocada pelo Congresso Nacional.
Esse cenário permitiu, por exemplo, a aprovação de leis para a contratação sem necessidade de energias fósseis e diversas prorrogações de subsídios que levaram ao crescimento descontrolado da geração distribuída de energia solar no país.
Entre as propostas entregues à presidência da COP, portanto, estão vedações para a contratação de energia fóssil que não esteja prevista pelos órgãos planejadores e para a concessão de novos subsídios setoriais, além daqueles com objetivo social.
O setor diz ainda que é importante reduzir subsídios vigentes, modernizar tarifas para fomentar eficiência energética, fomentar investimentos de adaptação da rede de transmissão às mudanças climáticas e reforçar a governança do setor.
“A escolha é se vamos ter transição organizada ou caótica. O que enfrentamos agora é transição caótica, o que é sintoma de desordenamento setorial”, diz o diretor executivo de Regulação da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica), Ricardo Brandão.
Segundo o estudo, a redução da renovabilidade da matriz limita seu impacto sobre a descarbonização da economia brasileira. No limite, o setor pode passar a ser emissor líquido de carbono caso a participação das renováveis seja menor do que 70%.
“O recado do setor privado é que precisa de previsibilidade e planejamento”, diz a presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), Marina Grossi. “Não se faz nada para 2050 sem planejar um plano de ação para o curto prazo.”