SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Bares e restaurantes estão em compasso de espera, consumindo estoques, enquanto verificam os desdobramentos da crise do metanol para entender se haverá uma tendência de queda na demanda por bebidas alcoólicas.

Donos de estabelecimentos relatam que estão com receio de repor suas reservas de bebidas, especialmente as destiladas, no momento em que o consumidor está assustado pelo noticiário das intoxicações.

A insegurança do público impacta a capacidade de previsão, segundo empresários do ramo. Ainda é cedo para concluir se a vodca e o uísque serão substituídos pela cerveja e o vinho ou se haverá outras mudanças no comportamento do consumidor e por quanto tempo.

A estratégia, por ora, é queimar os estoques para não empatar o capital de giro.

Paulo Solmucci, presidente da Abrasel (associação de restaurantes que reúne mais de 26 mil estabelecimentos), afirma que os impactos da crise do metanol têm sido percebidos com intensidade diferente conforme o padrão do estabelecimento.

“Os que atendem classe alta tiveram queda maiores, até o dobro dos estabelecimentos mais populares”, afirma.

Segundo Solmucci, houve quedas de até 55% nos destilados nos bares e restaurantes de classe alta, enquanto nos demais ficaram abaixo de 30%. Uma enquete realizada pela Abrasel entre seus associados sinaliza que a crise do metanol refreou o consumo do álcool mas não espantou os clientes, já que a venda total foi menos afetada.

“Quase 70% afirmam que não perderam faturamento, sendo que 11% dizem ter aumentado. Mais de 30% relatam perdas totais que variam de 10 a 15% em média”, diz Solmucci.

Para Edson Pinto, presidente da Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo), a crise já está no fim de seu momento mais agudo. Ele vê um movimento de procura maior por bebidas enlatadas, já que as engarrafadas estão mais suscetíveis à falsificação.

“Há uma queda no movimento de 15% a 20%, mais acentuado nas casas noturnas e nos bares. Nos restaurantes, há uma queda menor, quase imperceptível, mas com uma queda no consumo de bebidas alcoólicas acima de 52%. E a maioria dos clientes estão migrando para outras bebidas, como cervejas e vinho ou bebidas alcoólicas destiladas enlatadas”, diz.

Fabio Aguayo, presidente da Abrabar (Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas), afirma que muitos estabelecimentos pararam de enviar pedidos para algumas adegas e distribuidoras.

“Estão esperando dez dias para fazer o balanço, ver como ficou o mercado. Tem esse ajuste. O cara vai comprar no Atacadão, no Assaí. E não vai nas adegas pequenas, porque está com medo de comprar lá. A gente não sabe se as pequenas estão trabalhando com empresa certificada e homologada”, diz Aguayo.

Desde a divulgação das primeiras notícias sobre o assunto, quando o Ministério da Justiça e Segurança Pública, por meio da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos), revelou a existência de uma série de casos de intoxicação por metanol no estado de São Paulo, a queda do volume de vendas de bebidas alcoólicas começou a chamar a atenção no monitoramento realizado por empresas que acompanham o desempenho das vendas em estabelecimentos comerciais.

Na semana passada, a venda de destilados, em litros, que já havia começado a cair na semana anterior, apresentou um novo recuo, superior a 30% em relação ao mesmo período de 2024, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Varejo 360. A bebida mais afetada foi a vodca, cujas vendas caíram quase 38%, segundo o levantamento, que abrange adegas, supermercados, atacarejos e lojas de conveniência.