BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Passagens aéreas de até R$ 8.000 fizeram o governo federal cancelar a missão que apresentaria o pirarucu como modelo de sustentabilidade global. O evento, batizado de “Missão Pré-COP30 – Manejo Sustentável do Pirarucu”, estava previsto para acontecer no fim de outubro.
O evento reuniria autoridades brasileiras, cientistas e diplomatas estrangeiros, numa ação coordenada pelo MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura), MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) e o Instituto Mamirauá, com a meta de levar ao mundo o exemplo brasileiro de manejo comunitário do peixe símbolo da região amazônica.
Cerca de 30 representantes de ministérios brasileiros, pesquisadores e diplomatas estrangeiros fariam visitas de campo a comunidades ribeirinhas manejadoras dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
O roteiro discutiria a recuperação dos estoques naturais do pirarucu, que passou da beira da extinção à abundância controlada, a geração de renda para centenas de famílias ribeirinhas que vivem da pesca manejada e a consolidação de uma cadeia produtiva com rastreabilidade e certificação reconhecidas nacional e internacionalmente.
O preço alto das passagens entre Brasília, Manaus e Tefé, no estado do Amazonas, porém, acabou por levar ao cancelamento do evento. “O aumento expressivo dos custos de deslocamento aéreo para Tefé (AM), com tarifas que ultrapassaram R$ 8.000, inviabilizou a realização da missão na data originalmente prevista”, afirmou o MPA, conforme documento ao qual a reportagem teve acesso.
O plano previa que, durante uma semana, de 14 a 21 de outubro, o Instituto Mamirauá receberia uma comitiva de servidores públicos, pesquisadores, diplomatas e representantes de organismos multilaterais.
O Instituto Mamirauá, em Tefé, é conhecido como referência em manejo comunitário do pirarucu, para garantir conservação ambiental, geração de renda e respeito às populações ribeirinhas.
A intenção era mostrar a prática no campo, em plena floresta, como forma de ajudar a projetar o Brasil como uma liderança em ações de bioeconomia na COP30, a conferência do clima da ONU que acontecerá em Belém, em novembro de 2025.
O custo logístico até o local, porém, inviabilizou o plano, já que cada convidado arcaria com suas passagens e diárias, ou seja, não havia orçamento público específico para custear diplomatas.
Os convites chegaram a ser enviados a embaixadas e organismos internacionais sediados em Brasília, como a Delegação da União Europeia e a OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), além de representações diplomáticas de Reino Unido, Itália, Dinamarca, Japão, Nigéria, Etiópia e dos países amazônicos vizinhos, como Peru, Equador, Guiana e Suriname.
Por meio de nota enviada à reportagem, o MPA declarou que “o fim do Codeshare entre Azul e Gol elevou o custo das passagens no trecho Brasília-Tefé de cerca de R$ 1.700 para mais de R$ 8.000 e aumentou o tempo de deslocamento de 5 para até 18 horas, com necessidade de pernoite”.
Hoje a única companhia aérea que presta o serviço é a Azul. Se não for por via aérea, a única forma de se chegar a Tefé é por barco, em viagens que levam ao menos 12 horas.
“Diante disso, a missão foi adiada para 2026, em comum acordo com o Instituto Mamirauá”, afirmou a pasta.
O evento cancelado seria a primeira apresentação conjunta dos resultados de duas décadas de manejo para a comunidade internacional, em pleno território amazônico, antes da COP30.
Em parecer sobre o cancelamento, a pasta declarou que o adiamento pretende “garantir ampla participação de parceiros nacionais e internacionais, evitando que limitações logísticas impeçam o êxito da missão”.
A alta nos preços das passagens são apenas uma parte dos problemas com custos que tem comprometido o acesso à COP30. Nesta semana, a 5ª Vara da Fazenda Pública e Tutelas Coletivas do Tribunal de Justiça do Pará concedeu liminar para restringir a alta dos preços de hospedagem nas plataformas Booking.com e Agoda durante o período da convenção.
A decisão obriga sites a limitarem o aumento das diárias em até três vezes o valor da alta temporada na cidade e a comunicarem hotéis e pousadas com valores exagerados. Também impõe uma multa de R$ 50 mil por dia em caso de descumprimento das medidas.
A determinação atende a uma ação movida em setembro pela Defensoria Pública do Estado do Pará. O processo corre em segredo de justiça.