SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para terminar a semana, mostro as repercussões da derrota do governo na MP que iria aumentar os impostos sobre investimentos. Será que acabou mesmo?

Também aqui: nem tudo o que reluz é ouro, a faculdade dos influencers e outros destaques do mercado nesta sexta-feira (10).

**FINTECHS NA MIRA**

Se nesta quarta-feira (9) falamos da morte da medida provisória que aumentava a incidência do Imposto de Renda sobre os rendimentos de vários tipos de investimento, hoje, falamos do velório. Assim como em qualquer cerimônia fúnebre, o dia foi marcado por lamúrias e homenagens à falecida.

ABRE ASPAS

Aí vai uma amostra das lamentações, vindas sobretudo do campo aliado do governo Lula —maior interessado em emplacar a medida, que garantiria um pequeno alívio nas contas de 2026, ano eleitoral.

“A gente vai propor que as fintechs paguem o imposto que é devido a este país”, disse o presidente Lula.

“A derrubada prejudica o maior ajuste fiscal da história recente do país”, afirmou Dario Durigan, secretário-executivo da Fazenda.

POR QUE AS FINTECHS?

Você pode ter se perguntado ao ler a fala do presidente. Há um interesse especial do governo em regulamentar melhor a atividade dessas instituições, que nasceram como alternativas aos grandes bancos, mas hoje “tem fintech maior que banco”, nas palavras exatas de Lula.

Fintechs são empresas financeiras calcadas no uso da tecnologia para facilitar operações: bancos digitais, corretoras de investimento online e seguros digitais são exemplos. A maioria nasceu pequena, mas algumas explodiram: Nubank, PicPay e PayPal são exemplos.

A MP pretendia aumentar a CSLL (Contribuição Social Sobre Lucro Líquido) cobrada dessas empresas, que era menor do que a paga pelos grandes bancos.

No caso das instituições de pagamento, a alíquota aumentaria de 9% para 15%, e no caso das financeiras, de 15% para 20%, a mesma cobrada de bancos.

SOFRÊNCIA

O setor não engoliu o sapo muito bem. As companhias apontam para uma “punição pelo sucesso” no argumento de Lula.

“A afirmação [de que algumas empresas ficaram grandes demais] pode estar correta quando você olha o número de clientes”, diz Eduardo Lopes, diretor de políticas públicas do Nubank.

“Mas, se você olhar as métricas que de fato importam no setor financeiro, nessas a gente está muito distante ainda [dos grandes bancos]”, diz o executivo.

DENTRO DO SAMSARA

O ciclo de reincarnações de medidas que aumentam os impostos sobre investimentos ainda não acabou, segundo falas recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O chefe da pasta econômica cancelou uma viagem para os EUA depois da derrota da MP na Câmara dos Deputados e disse que vai apresentar “várias alternativas” de medidas ao presidente.

Lula prometeu que vai reunir sua equipe na próxima semana para pensar em novos planos de ação. As repercussões, é claro, você vai ler aqui.

**O TOQUE DE MIDAS**

“O ouro está em alta” é uma frase que parece datada de séculos atrás, mas ela é plenamente atual. Em um mundo onde existe dólar, fundos de investimento, ações de big techs e criptoativos, os investidores ainda correm para o ouro quando bate o desespero.

As ações de mineradoras estão superando o bitcoin e as principais empresas de IA (inteligência artificial) em meio a uma disparada no preço de metais preciosos, que impulsiona ainda mais o rali de companhias antes esquecidas pelos traders.

129,9% é a alta acumulada no ano pelo índice S&P Global Gold Mining, que reúne ações de empresas que mineram o metal precioso;

É o melhor desempenho entre os setores monitorados pela agência de risco S&P.

COFRES TRANSBORDANDO

Fazia algum tempo que essas empresas não viam seu produto tão valorizado. Que o leitor não se engane, elas estavam ganhando muito bem —só não tão bem quanto agora.

“Tem sido um ano muito bom para as ações mineradoras de ouro. Elas têm mais dinheiro do que sabem o que fazer com ele”, disse Imaru Casanova, gestora de investimentos da VanEck.

O QUE ACONTECEU?

Você já leu aqui sobre as consequências do “furacão Donald (Trump)”. O mundo está em um momento de incerteza em relação aos próximos passos da economia, ainda que a fase mais intensa da tempestade tenha passado.

A imposição de tarifas sobre a exportação de produtos para os EUA e as ações do presidente americano em geral são fatores que geram incerteza no mercado financeiro. Guerras e juros altos não ajudam.

O apagão do setor público americano —ou “shutdown”— também contribui para o sentimento de confusão generalizada.

O dólar costuma ser o ativo para onde os investidores correm quando há temor sobre outros títulos, mas e quando o causador da instabilidade é o gestor do ativo de segurança? Daí, o ouro rouba um pouco desse espaço.

O preço da onça do ouro ultrapassou os US$ 4.000 (R$ 21.480) pela primeira vez na segunda-feira, 6 de outubro.

NEM TUDO SÃO FLORES

Na verdade, pouca coisa é, uma vez que toda essa valorização vem é oriunda do pavor generalizado nos mercados. Basta lembrar que na última vez que o preço do ouro subiu tanto, a queda foi feia.

Após a crise financeira global em 2008, houve uma corrida pelo metal—assim como desta vez, os investidores procuravam refúgio em uma situação de caos econômico. O aumento dos lucros com alimentou uma onda de fusões e aquisições, bônus milionários e custos de produção crescentes nas mineradoras.

O ajuste foi brutal: do pico em 2011, as ações das extratoras de ouro despencaram 79% nos quatro anos seguintes.

Vale a máxima: nem tudo o que reluz é ouro.

**PROFISSÃO: INFLUENCIADOR DIGITAL**

Afinal, o que é influenciar alguém? Uma prática? Uma técnica? Um talento? Um dom? No que é especialista o tal do “influenciador”, profissão dos sonhos de muitos?

Uma “faculdade de influenciadores” em São Paulo quer transformar a influência digital em área do conhecimento —o suficiente para justificar um curso de várias horas e uma gorda mensalidade. Será que um diploma é necessário para conquistar as redes sociais?

O cenário… da Community Creators Academy é mais parecido com o de um reality show do que com uma instituição de ensino. Na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, há sinais de LED e “ring lights” (aquelas lâmpadas em formato de anel, onde é possível encaixar o celular no centro) por todos os cantos. Estúdios também não faltam —há mais de 200 cenários de gravação no galpão de 14 mil m².

OS DIRETORES

Fábio Duarte, da Agência Califórnia, e o grupo Ânima Educação, responsável pela Universidade Anhembi Morumbi se uniram para empreender na economia da influência.

R$ 40 milhões foi o investimento inicial na estrutura.

R$ 25 mil a R$ 35 mil é o investimento exigido dos alunos para acompanhar as aulas por um semestre.

Os cursos são voltados tanto para quem deseja escrever “criador de conteúdo” em formulários que perguntam sobre a profissão do indivíduo e para profissionais autônomos que querem impulsionar os negócios.

DÁ DINHEIRO?

Para alguns, “digital influencer” pode ser um caminho para melhorar de vida. No entanto, menos da metade dos autodeclarados criadores de conteúdo vive exclusivamente da renda gerada pelo mercado de influência.

A pesquisa Creator POV 2025, da BrandLovers, mostra que 53,4% dos entrevistados têm a criação de conteúdo como renda complementar e, ainda, que 67% demonstram pouca segurança financeira.

O levantamento aponta que 59,2% dos “creators” têm dívidas ativas e somente 16,3% têm reservas de emergência. 38% dos entrevistados têm a criação de conteúdo como principal fonte de renda.

SOLO FÉRTIL

Mesmo que a atividade não seja extremamente lucrativa para todos, o Brasil é um dos países onde o conteúdo de influência mais prospera.

Em setembro, 40% da população conferia diariamente posts de influencers, contra uma fatia de 33% em março.

**PARA LER**

“Economism: Bad Economics and the Rise of Inequality”

James Kwak. Vintage. 221 páginas.

A cobertura econômica —e a discussão sobre economia, no geral— costuma encontrar alguns “lugares-comuns”. A esse discurso repetitivo, o autor James Kwak dá o nome de “economism” (“economismo”, em tradução literal).

Em suas palavras, o conceito define uma ideologia que distorce princípios válidos e ferramentas introdutórias do estudo da economia, propagada por especialistas que inventaram um léxico próprio, lobistas e políticos que não entendem do assunto.

A ideia do livro é explicar conceitos econômicos sem acionar o gatilho da repetição automática, que afasta o público de uma reflexão mais profunda sobre os assuntos.

A obra reflete sobre mercado de trabalho, impostos, finanças, comércio internacional e como entender o que é real e o que é jargão repetitivo na cobertura.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Café marcado. Marco Rubio e Mauro Vieira, chanceler brasileiro, marcaram encontro em Washington para discutir tarifas entre Brasil e EUA.

Bye bye! A B3 vai excluir as ações da Ambipar de todos os nove índices que elas compõem a partir de 15 de outubro e não vai renovar certificações verdes da companhia.

Quem tem amigo, tem tudo. Javier Milei conseguiu socorro do governo americano, que comprou pesos argentinos e prometeu US$ 20 milhões em ajuda.

Cadastro na portaria. A China determinou que a exportação de produtos com terras raras extraídas pelo país precisará de licença, o que efetivamente aumenta o controle da nação sobre as commodities.