SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Arquiteto e designer contratado para fazer a planta, o projeto de decoração e toda a comunicação visual do restaurante Jamile, Rafic Farah diz acreditar que a estrutura antiga do prédio na rua 13 de Maio, região da Bela Vista, no centro de São Paulo, pode ter sido a causa do desabamento do mezanino na quarta-feira (8), deixando uma pessoa morta e cinco feridas.
A perícia da Polícia Científica ainda identificará o que aconteceu, mas Farah conta que sua impressão é que o lado direito da estrutura se desprendeu da parede, onde estava fixada por parafusos.
“A sensação que eu tenho é que as paredes eram muito velhas e esse mezanino, ao longo dos dez anos, escorregou da parede do lado direito de quem está de frente. Talvez tenha sido a amarração dessas vigas nessa parede muito antiga do Bixiga”, disse Farah à reportagem, lembrando que o prédio original era uma agência do banco Bradesco.
Para fazer o projeto estrutural e a reforma em si do prédio, inclusive a montagem do mezanino, Farah conta que os proprietários do restaurante contrataram uma construtora, que foi substituída durante a obra após alguns problemas técnicos serem identificados.
“Acho que em 2013, [a primeira construtora] que cometeu bastantes erros, que foram identificados depois pela construtora nova. Eles detectaram um monte de defeito e reforçaram esse mezanino com um monte de vigas. Achei exagerado na época, mas você vai ver que é uma estrutura muito sólida que foi feita. Acho que ela desgrudou da parede. Eu descartaria a explosão a gás”, afirma.
A hipótese de explosão também foi descartada pelos bombeiros.
Farah disse ter ido ao restaurante no início deste ano, quando observou novamente a estrutura do mezanino, o que lhe causou surpresa quando ficou sabendo do desabamento.
“Eu achei estranho ele ter caído dessa forma. Ele caiu retinho, caiu plano. E me parece que ele parou a um metro do chão, que as próprias mesas o seguraram.”
Ainda na quarta, a Defesa Civil estadual encaminhou uma equipe técnica ao local para apoiar nas vistorias. Foram vistoriados o local do acidente e os imóveis adjacentes. Após constatação de não haver indícios de abalo aos vizinhos, foi interditado apenas o prédio do restaurante, por haver risco de colapso.
Agora a Polícia Civil aguarda a conclusão da perícia iniciada na manhã desta quinta-feira (9) para dar desfecho ao inquérito.
O desabamento do mezanino ocorreu pouco antes das 12h de quarta, horário em que o Jamile abriria as portas e quando cerca de 20 funcionários estavam no local. A morte da cozinheira Suênia Maria Tomé Bezerra, 51, foi constatada horas depois, às 15h, mas as equipes só conseguiram retirar o corpo por volta das 18h30. Ela sofreu uma parada cardiorrespiratória.
Um homem também chegou a ficar sob a estrutura que cedeu, mas foi resgatado e encaminhado ao Hospital das Clínicas. Ele tinha fraturas no corpo e estava consciente, afirmou o Corpo de Bombeiros.
Além dele, quatro pessoas foram levadas a unidades de saúde e outras duas precisaram de atendimento psicológico. Segundo os bombeiros, as vítimas com ferimentos foram encaminhadas à UPA Vila Mariana, ao pronto-socorro de Santana, à UPA Mooca, ao hospital São Paulo e ao hospital Salvalus.
O CLCB (Certificado de Licenciamento do Corpo de Bombeiros) do prédio consta como válido, e as licenças de funcionamento e sanitária estão regulares, disse a subprefeitura da Sé.
Porta-voz dos bombeiros, a tenente Olívia Perrone afirmou que havia rachaduras no interior do restaurante. Ela não soube dizer, porém, se eram de antes do acidente.
Chef do Jamile, Henrique Fogaça divulgou nota na quarta em que “manifesta sua solidariedade integral às vítimas e a seus familiares, reafirmando que sua principal preocupação neste momento é o bem-estar de todos os envolvidos e o acompanhamento da assistência necessária”.