SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se o mundo cumprir a meta de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, uma criança nascida na década de 2020 -a chamada geração Alpha- emitirá, ao longo da vida, uma pegada de CO2 dez vezes menor do que a de seus avós, nascidos nos anos 1950.
A projeção, que destaca uma transformação geracional sem precedentes, é um dos pontos centrais de um estudo recente da AIE (Agência Internacional de Energia).
O cenário, detalhado no relatório “Roteiro para o Zero Líquido até 2050”, é considerado a aposta mais viável para limitar o aquecimento global a 1,5°C e, assim, evitar os piores impactos da crise climática. Para tanto, será imperativa uma revolução completa na produção, transporte e consumo de energia em escala global.
Conforme os cálculos da AIE, um indivíduo nascido nos anos 1950 emitiria, em média, 350 toneladas de CO2 ao longo de sua vida. Em contraste, um bebê da geração Alpha, nascido a partir de 2020, emitiria apenas 34 toneladas.
A geração Z, nascida entre 1997 e 2012, ficaria em uma posição intermediária, com uma média de 110 toneladas de CO2 por pessoa durante a vida, caso a meta ambiciosa seja cumprida.
“Para mostrar como essas mudanças nos afetam como indivíduos, calculamos a pegada de CO2 média ao longo da vida de acordo com o ano de nascimento de uma pessoa”, explica o relatório, que baseou seus achados em dados de emissões, projeções populacionais da ONU e seu próprio cenário de emissões zero.
‘IMENSAMENTE DESAFIADOR’, MAS POSSÍVEL
A AIE ressalta que a tarefa é “realizável, mas imensamente desafiadora”. O caminho para a neutralidade de carbono inclui marcos agressivos, como quadruplicar a instalação de energia solar e eólica a cada ano até 2030, além de eletrificar setores como transporte e indústria.
O desafio é ampliado pelo fato de que quase metade das reduções de emissões necessárias em 2050 dependem de tecnologias que hoje se encontram em fase inicial de pesquisa e desenvolvimento.
A disparidade geracional na pegada de carbono é ainda mais acentuada em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos e na União Europeia, um cidadão nascido nos anos 1950 terá emitido cerca de 15 vezes mais CO2 que um descendente nascido nos anos 2020.
Em nações com emissões per capita historicamente mais baixas, a diferença é menor: na China, a proporção é de 4 vezes, enquanto na Índia é de 3,5 vezes. O relatório não traz dados específicos sobre a disparidade geracional para o Brasil.
A agência faz questão de pontuar que essa redução drástica na pegada de carbono não implica uma queda no bem-estar material. O cenário de emissões zero pressupõe que a economia global dobrará de tamanho de 2020 a 2050, com o PIB per capita continuando a crescer na maioria dos países.
O PAPEL DA JUVENTUDE
O estudo aponta que os jovens de hoje, mais expostos aos danos climáticos, estão na vanguarda do movimento por mudanças.
“São as gerações mais jovens que estão impulsionando a ambição de reduzir as emissões”, afirma o documento. A participação ativa em fóruns como a Conferência da Juventude da ONU sobre Mudanças Climáticas (COY) e a assembleia Youth4Climate é vista como um motor para pressionar governos e corporações.
Contudo, a AIE salienta que a responsabilidade não pode recair apenas sobre os indivíduos. “A descarbonização sistêmica abrangente é necessária”, diz o texto.
A agência defende que os líderes atuais, cuja idade média em gabinetes de economias avançadas é de 53 anos, devem implementar as políticas e os investimentos necessários agora. A inclusão das vozes dos jovens nos processos de tomada de decisão é considerada “essencial”.
A AIE recomenda ainda maior apoio financeiro e administrativo para que a juventude participe do planejamento e da ação climática em todos os níveis.
Para a agência, além de serem os mais impactados, os jovens também são os que mais têm a ganhar com uma transição energética bem-sucedida, que promete criar milhões de empregos em novas indústrias, reduzir a poluição do ar e trazer benefícios à saúde.