RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O governo brasileiro tenta abrir uma nova frente de exploração de petróleo na Amazônia. Desta vez, prevê oferecer blocos na bacia do Tacutu, em Roraima, perto da fronteira com a Guiana, uma região que chegou a ser avaliada pela Petrobras no início dos anos 1980.

Os blocos foram apresentados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) ao mercado nesta quinta-feira (9), em audiência pública que debateu a inclusão de 275 novas áreas à lista da oferta permanente de áreas para concessão de petróleo no Brasil.

A oferta de blocos na bacia do Tacutu foi aprovada pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) em dezembro de 2024. Se sua inclusão na oferta permanente for confirmada e houver interesse do mercado, eles podem ir a leilão já em 2026.

A bacia tem uma área de 12,5 mil quilômetros quadrados divididos entre Brasil e Guiana, onde é chamada de North Savannas. Fica em uma planície a cerca de cem metros de altitude com vegetação predominante de cerrado e savanas.

No início dos anos 1980, quatro poços foram perfurados, dois em cada país, mas depois a área saiu do radar da Petrobras. Segundo informações do governo, os poços não encontraram indícios de petróleo, mas há dados geoquímicos apontam para essa possibilidade e imagens sísmicas que podem indicar reservatórios.

Consultor com grande experiência na Petrobras, o geólogo Pedro Zalán não acredita em potencial para grandes acumulações de petróleo e gás na bacia de Tacutu, o que limitaria o interesse a petroleiras de menor porte.

Ainda assim, a tentativa de inclusão dos blocos na oferta permanente foi questionada por organizações ambientalistas na audiência pública da ANP nesta quinta.

O Instituto Arayara, por exemplo, disse entender que a área dos blocos tem sobreposições com cinco áreas de influência direta em terras indígenas: Jabuti, Bom Jesus, Canauanim, Serra da Moça e São Marcos, onde vivem, ao todo, 20,6 mil pessoas.

A ANP afirmou na audiência que os blocos já foram recortados para evitar as sobreposições e que sua oferta é respaldada por manifestações conjuntas dos ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente, que garantem aval ambiental a blocos exploratórios no país.

A pressão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela abertura de novas fronteiras para exploração de petróleo é alvo de protestos pelo mundo e deve ser tema relevante na COP30, a conferência do clima da Organização das Nações Unidas, em Belém.

O principal foco de críticas é a perfuração do poço 59, na bacia da Foz do Amazonas, em processo de licenciamento. As entidades defendem que o consenso científico indica a necessidade de redução da queima de combustíveis fósseis para conter a mudança climática.

O governo alega que o Brasil já tem uma matriz renovável e não pode abrir mão da riqueza do petróleo. Com a proposta de inclusão de 275 novos blocos à oferta permanente de áreas para exploração de petróleo, a ANP amplia a lista para 451 blocos à espera por manifestações de interesse das petroleiras.

A lista de novos blocos inclui sete áreas na bacia do Ceará, que também é parte da margem equatorial brasileira. Há ainda blocos nas bacias de Parnaíba, São Francisco, Potiguar, Tucano Sul, Recôncavo, Espírito Santo, Campos e Santos.