SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Banco Central indeferiu o pedido de transferência de controle do Bluebank (antigo Letsbank) do seu atual dono, Banco Master, para Maurício Quadrado.

O Bluebank é uma das instituições financeiras controladas pelo banco Master, de Daniel Vorcaro, que tenta levantar dinheiro no mercado para arcar com seus passivos, grande parte deles em CDBs emitidos com rendimentos exponenciais, enquanto enfrenta um inquérito da Polícia Federal.

A investigação veio após o órgão regulador também rejeitar a compra do Master pelo BRB (Banco de Brasília).

A presidência do Bluebank está sob Quadrado, que saiu do Master em 2024. O plano era que o executivo também assumisse a operação por completo, comprando a instituição de Vorcaro.

Em fevereiro deste ano, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou a operação. O BC, porém, negou o pedido.

Em seu site, o Bluebank informa ter sido inicialmente criado como um banco digital focado em soluções de Banking as a Service, mas sua nova estratégia visa posicioná-lo como um provedor de produtos de crédito para empresas.

O banco se viu envolvido em escândalos recentemente, por meio da gestora Trustee. Ela foi um dos alvos das operações contra a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) na cadeia produtiva de combustíveis e no setor financeiro e é acusada de elevar artificialmente o preço das ações da companhia.

A instituição é um dos ativos que Vorcaro colocou à venda para levantar recursos e honrar com vencimentos, especialmente de CDBs (Certificados de Depósitos Bancários).

Ao fim de setembro, ele vendeu sua participação na seguradora Kovr para Thiago Leão de Moura, Eduardo Viegas e Renato Rennó, sócios minoritários no negócio. O valor não foi divulgado.

Agora, o Master tenta vender o Will Bank. Como mostrou a Folha, pelo menos quatro investidores demonstraram interesse no banco digital, que tinha cerca de 9 milhões de clientes em abril e conta com forte presença no Nordeste, nas classes C e D.

Procurados, Master, Vorcaro, Quadrado e Banco Central não comentaram a decisão.

Em nota, a Trustee disse ter renunciado à administração de fundos antes mesmo da ação contra o PCC por decisão da área de compliance “por desconformidade da atualização cadastral identificada há alguns meses”.

QUEM É MAURÍCIO QUADRADO

Maurício Quadrado foi diretor de mercado de capitais no banco Bradesco, onde foi responsável pelos IPOs (oferta pública inicial, na sigla em inglês) de empresas brasileiras que abriram capital na Bolsa à época, segundo consta no LinkedIn do executivo.

Ele foi coordenador-líder da primeira empresa do país a ter suas ações listadas na Bolsa de Nova York por meio de ADRs (recibos de ações), a Aracruz Papel e Celulose.

Quadrado também integrou o grupo que liderou diversas privatizações durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com destaque para a desestatização da Vale.

Depois do Bradesco, durante 13 anos, de 2007 a 2020, esteve à frente da corretora Planner, sendo acionista e diretor de Investment Banking, área que faz operações financeiras para investidores institucionais ou clientes com uma alta quantia em dinheiro para gerir.

Em 2021, Quadrado entrou como sócio no Banco Master, onde se tornou o diretor do Banco Master de Investimentos. Nesse período, ele liderou operações relevantes de fusões e aquisições e privatizações. Em 2024, ele saiu do Master.

No início de 2025, Quadrado tentou comprar o Banco Digimais, antigo Banco Renner, controlado pela BA Empreendimentos e Participações de Edir Macedo.

Quadrado afirmou abdicar do negócio devido à deterioração do mercado, em um cenário de juros altos. Interlocutores, porém, apontam que também houve uma negativa do BC.