BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), Milton Baptista de Souza Filho, disse que a função do irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na entidade é apenas política, sem atribuições administrativas ou financeiras. O sindicato é um dos investigados no caso dos descontos irregulares de benefícios do INSS.

A fala, uma das únicas proferidas pelo sindicalista em seu depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS nesta quinta-feira (9), busca afastar José Ferreira da Silva, o irmão de Lula, do escândalo. Frei Chico, como é conhecido, é vice-presidente do Sindnapi.

Milton Baptista ganhou o direito de ficar em silêncio na oitiva graças a uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Flávio Dino. Sua defesa anunciou no início da reunião que ele não prestaria esclarecimentos.

O sindicalista, porém, respondeu a uma pergunta do coordenador da bancada governista no colegiado, deputado Paulo Pimenta (PT-RS).

“Cotrariando o meu advogado, eu quero dizer que ele nunca teve esse papel administrativo no sindicato, só político. Político de representação sindical, nada mais do que isso. E não precisei, em nenhum momento, solicitar que ele abrisse qualquer porta do governo”, disse Milton Baptista após Pimenta questioná-lo sobre a função de Frei Chico.

Frei Chico é um dos principais alvos dos opositores do governo na comissão. Em um pausa da CPI, o presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), disse a jornalistas que colocará em votação um requerimento para convocar Frei Chico a depor por causa do silêncio do presidente do Sindnapi em outras partes da oitiva desta quinta.

“É urgente que nós coloquemos em votação a convocação do chamado Frei Chico, irmão do presidente Lula”, declarou o presidente da CPI. Ele disse que o depoimento seria importante para esclarecer eventual influência política no esquema de descontos irregulares.

Viana afirmou que colocará o requerimento em votação na próxima quinta-feira (16).

Aliados do Planalto tentam impedir investidas contra Frei Chico. Como mostrou a Folha de S.Paulo, os governistas se reorganizaram e retomaram a maioria dos votos no colegiado. Por isso, é improvável que a CPI aprove a convocação do irmão de Lula.

A fala de Milton Baptista motivou protestos da oposição porque, antes, o advogado de defesa, Bruno Borragine, disse que o depoente não tinha condições psicológicas de depor porque foi alvo de uma operação da PF (Polícia Federal) também relacionada ao escândalo do INSS pela manhã.

“O senhor Milton veio hoje de manhã preparado com um caderno de respostas para poder responder a toda e qualquer pergunta. Ocorre que ele foi alvo, às 6h30, da nova fase da operação Sem Desconto. Ele estava aqui, já presente. Como não tinha ninguém em sua casa, sua casa foi arrombada. Ele não tem condição psicológica de poder falar”, disse o advogado.

Além de responder a Pimenta, o depoente fez um rápido pronunciamento no começo da reunião. “Minha instituição, que estou na presidência há quase dois anos, estava comprometida e vai estar sempre comprometida com a verdade”, disse ele. O sindicalista também afirmou que, se seus advogados assim instruírem, poderá comparecer em outro momento para falar à CPI.

Quando o relator, Alfredo Gaspar (União-AL), começou a fazer perguntas, Milton Baptista disse que não responderia. Viana disse que ele precisaria responder ao menos às perguntas que não o incriminam.

Houve uma rápida conversa entre o depoente e seu advogado. Em seguida, Milton Baptista disse que responderia às perguntas de qualificação apenas -ou seja, informações burocráticas que não dizem respeito diretamente ao mérito da investigação.

Ele se recusou a responder sobre o esquema de descontos em aposentadorias tanto nas perguntas feitas pelo relator da CPI quanto dos congressistas que falaram em seguida.

Viana classificou como “absurdo” o habeas corpus concedido por Dino. “Só não foi pior do que o que foi dado pelo ministro Flávio Dino à esposa do Sr. Camisotti [Maurício Camisotti, um dos investigados], que deu a ela o direito de não vir”, disse o senador durante a reunião.

Antes do início da reunião, Viana usou palavras mais fortes. “Estamos diante de um grande movimento de blindagem de pessoas próximas, inclusive ao governo, aos sindicatos, e estão usando da legislação para poder não dar explicações aos brasileiros”, disse ele.

A deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP) deu declaração no mesmo sentido. “Eu estou aqui indignada com essa decisão, essa medida cautelar de habeas corpus do ministro Flávio Dino. Acho um desrespeito com esta comissão”, disse ela.