GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil recebeu nesta quinta-feira (9) um lote com 2.500 ampolas de fomepizol, principal antídoto para o tratamento de intoxicações por metanol. O medicamento, que não estava disponível no país, foi adquirido pelo Ministério da Saúde em meio ao aumento de casos e mortes.
De acordo com a pasta, cerca de 1.500 ampolas serão distribuídas imediatamente. São Paulo, que concentra o maior número de casos, receberá 288 unidades do medicamento. Os demais estados e o Distrito Federal receberão as ampolas a partir desta sexta-feira (10), e outras mil unidades ficarão guardadas em estoque.
Os medicamentos foram adquiridos da farmacêutica japonesa Daiichi-Sankyo, segundo a pasta. A carga, que saiu dos Estados Unidos, foi entregue no Centro de Distribuição do Ministério da Saúde, em Guarulhos, na Grande São Paulo.
A compra foi realizada pelo governo federal por meio do Fundo Estratégico da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde). O valor não foi divulgado. Segundo o ministério, a aquisição foi feita pela Opas, que depois repassará os custos ao governo brasileiro.
Estiveram presentes na recepção do lote a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Mariangela Simão, o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Leandro Safatle, e a coordenadora de Inovação, Acesso a Medicamentos e Tecnologias para a Saúde da Opas, Ileana Freitas.
Em entrevista coletiva no local, o diretor-presidente da Anvisa disse que não há, até o momento, pedidos de empresas interessadas em produzir o fomepizol no Brasil, já que se trata de um medicamento de uso restrito e pouco demandado no mercado. Safatle afirmou ainda que o volume de antídoto recebido agora é “preventivo”, para garantir estoque em caso de novos episódios de intoxicação.
Segundo ele, o país fortaleceu sua rede de vigilância sanitária e capacitou profissionais para lidar com as ocorrências de intoxicação por metanol. Em parceria com o Ministério da Agricultura e a Associação Brasileira de Produtores de Bebidas, foram qualificados mais de 5.000 agentes para identificar garrafas e bebidas adulteradas, ele afirmou.
A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente disse que a distribuição será feita por centros estratégicos estaduais. Segundo ela, além do fomepizol, o etanol farmacêutico está disponível em todas as unidades da federação e continua sendo utilizado como antídoto.
No tratamento de intoxicação por metanol, os protocolos médicos preveem o uso de cerca de 30 ampolas de etanol por paciente, enquanto o fomepizol requer em média quatro ampolas por pessoa, diz Mariangela Simão. A quantidade exata pode variar de acordo com o peso do paciente, quantidade ingerida e tempo decorrido após o consumo da bebida adulterada.
Ela destacou ainda que, embora o fomepizol seja raro e de uso restrito, o Ministério da Saúde já iniciou a compra de 5.000 unidades adicionais com a mesma empresa, para garantir estoque para os próximos dois anos. “A gente quer que esse tipo de antídoto esteja disponível no Sistema Único de Saúde daqui para frente”, disse.
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COMO SERÁ A DISTRIBUIÇÃO DO FOMEPIZOL POR ESTADO:
São Paulo (288)
Minas Gerais (152)
Rio de Janeiro (120)
Bahia (104)
Paraná (84)
Rio Grande do Sul (80)
Pernambuco (68)
Ceará (64)
Pará (60)
Santa Catarina (56)
Goiás (52)
Maranhão (48)
Amazonas (32)
Espírito Santo (28)
Mato Grosso (28)
Paraíba (28)
Alagoas (24)
Piauí (24)
Rio Grande do Norte (24)
Distrito Federal (20)
Mato Grosso do Sul (20)
Acre (16)
Amapá (16)
Rondônia (16)
Roraima (16)
Sergipe (16)
Tocantins (16)
COMO FUNCIONAM OS ANTÍDOTOS
O etanol farmacêutico e o fomepizol são os dois antídotos usados para casos de intoxicação por metanol, álcool que se transforma em ácido fórmico quando ingerido, sendo extremamente tóxico para o corpo humano. Ambos os medicamentos impedem a formação do ácido fórmico e permitem que o corpo elimine o metanol de forma menos prejudicial.
O etanol farmacêutico bloqueia o caminho pelo qual o metanol se transforma em ácido fórmico, mas provoca embriaguez como efeito colateral. O fomepizol faz o mesmo, mas com menor risco de efeitos adversos.
“Os efeitos colaterais do fomepizol, como náusea, tontura ou dor de cabeça, são mais leves e bem tolerados, o que ajuda o paciente a se recuperar de forma mais rápida e segura durante a eliminação do metanol”, disse Álvaro Pulchinelli, médico toxicologista e diretor técnico da Toxicologia Pardini do Grupo Fleury, em entrevista à Folha de S.Paulo na semana passada.
Os antídotos são administrados apenas em ambiente hospitalar por via oral ou intravenosa.