SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A recente onda de intoxicação por metanol colocou um holofote sobre o perigo das bebidas adulteradas. Não é de agora que o mercado de falsificações opera e deixa vítimas algumas fatais.
No momento, o metanol é considerado como causa principal dos casos suspeitos de intoxicação após o consumo de bebidas. A principal recomendação do Ministério da Saúde é procurar imediatamente atendimento médico de urgência em caso de suspeita de intoxicação. Nos hospitais, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, com o uso de antídotos específicos contra o produto tóxico.
Mas, há outras substâncias usadas na adulteração de bebidas, trazendo também sérios riscos à saúde. Criminosos as utilizam com objetivo do ganho econômico ou da dopagem, para cometer um crime, por exemplo. Para os dois fins, são usadas substâncias diferentes em quantidades diferentes, diz o farmacêutico Rodrigo Catharino, doutor em ciência de alimentos pela Unicamp.
Segundo Catharino, quando o objetivo é o lucro, falsificadores normalmente utilizam solventes líquidos capazes de dissolver outras substâncias. As bebidas falsas podem custar até metade do preço da original, segundo a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas).
O metanol é um deles, assim como o etanol, o isopropanol, a acetona, o tolueno, o xileno e o hexano. Alguns deles podem passar despercebidos no organismo. Porém, se usados indevidamente, podem ser tóxicos e causar danos hepáticos e neurológicos.
Ainda nas primeiras 24 horas após o consumo, os principais sintomas podem surgir: náusea, vômito, dor abdominal intensa, tontura, fraqueza e dor de cabeça forte. Também podem ocorrer visão turva, confusão mental, sonolência excessiva, dificuldade para respirar, convulsões e perda de consciência. Em casos mais graves, há redução ou ausência de urina, indicando possível lesão nos rins.
Quando há o objetivo de incapacitar a vítima para cometer outros crimes, como roubo ou abuso, são utilizadas substâncias psicotrópicas, como as do golpe “boa noite Cinderela”, em quantidades mínimas. Catharino diz que isso não é tecnicamente considerado “adulteração” no sentido econômico, mas sim uma ação com um intuito criminoso diferente.
Segundo o profissional, os solventes também podem ser usados para aumentar o teor alcoólico das bebidas, mas a fiscalização pode barrar mais facilmente. “O grau alcoólico é um dos primeiros testes e um dos pontos mais simples e rotineiros para se verificar quanto a especificações e qualidade das bebidas destiladas”, diz.
Além disso, produtos farmacológicos, como remédios para dor de cabeça ou enjoo, podem ser também colocados para mascarar a má qualidade do produto, segundo o profissional. Análises periciais já identificaram a presença de paracetamol e ácido acetilsalicílico (o princípio ativo da aspirina) em bebidas destiladas falsificadas.
Ele diz ainda que o falsificador que busca lucro geralmente tenta evitar que seu produto seja letal, pois ele depende de clientes recorrentes para manter seu negócio ilícito. “De alguma forma, ele não quer fazer com que as pessoas vão a óbito, na maioria das vezes, porque ele está interessado no rendimento, e não na morte do consumidor”, disse.
Mas, há casos em que a dose ou a substância seja errada e as bebidas podem causar intoxicação. Na quarta-feira, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo descartou que o metanol encontrado em algumas garrafas de destilados apreendidas pela Polícia Civil seja resultado da destilação natural. De acordo com a perícia, as altas concentrações identificadas indicam que a substância foi adicionada às bebidas.
As autoridades não informaram a quantidade de garrafas analisadas, nem o percentual de metanol verificado. Também não divulgaram os nomes dos estabelecimentos nos quais essas bebidas foram apreendidas segundo as autoridades, a divulgação pode atrapalhar as investigações.
COMO SE PROTEGER DE BEBIDAS ADULTERADAS
Assim como no caso do metanol, muitas vezes não é possível identificar a presença de substâncias tóxicas nas bebidas a olho nu, nem ao provar. No entanto, há sinais de alerta que devem chamar a atenção:
– Preço muito abaixo do mercado
– Ponto de venda informal
– Odor irritante
– Embalagens com rótulo mal impresso, torto ou com erros
– Ausência de CNPJ, lote ou data de validade na embalagem
– Lacre violado
– Turvação ou alteração de cor em bebidas que deveriam ser transparentes, como vodca, gin, saquê e cachaça.
As autoridades recomentam comprar de fontes confiáveis, como supermercados e distribuidoras autorizadas que sejam estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.