BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O baixo número de NDCs —as metas climáticas a que cada país se compromete— apresentadas até agora é decepcionante, afirma o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas).

O diplomata admite que isso pode prejudicar os relatórios temáticos elaborados pela ONU e, portanto, impactar também os debates da cúpula, que acontece em cerca de um mês na cidade de Belém (PA).

A apresentação de NDCs é uma obrigação do Acordo de Paris —tratado de redução de emissões de CO² assinado por quase 200 países.

O prazo para essa entrega era fevereiro deste ano, mas quase nenhuma nação o fez. Por isso, o prazo foi adiado para setembro, mas apenas 56 nações o fizeram.

“Sim, há uma decepção, não há dúvida, de que importantes países não tenham ainda apresentado suas NDCs”, afirmou o embaixador.

A fala aconteceu após evento do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, para lançamento de estudos para redução de até 90% das emissões de carbono em setores como energia, mineração e agronegócio.

A entrega até setembro era necessário para que a UNFCCC (o braço climático da ONU) pudesse usar estes documentos para embasar o seu relatório-síntese, um documento que avalia se essas metas são suficientes, ou não, para combater as mudanças climáticas.

Dentre os maiores emissores de CO² do mundo, apenas China e Estados Unidos apresentaram suas NDCs, mas os americanos fizeram ainda no governo de Joe Biden, e não irão cumprí-las sob Donald Trump, o que torna inócuo o documento.

A Índia não o fez, nem a União Europeia —segundo o embaixador, a expectativa é que o bloco europeu entregue o documento ainda em outubro—, e consequentemente os países que a integram também não.

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou os países pela falta de compromisso com as NDCs.

“Os estudos que vão ser apresentados [pela UNFCCC], e evidentemente teriam impacto sobre a COP, agora vão ser mais aproximativos, porque alguns dos números não vão ser formalmente apresentados”, afirmou André Corrêa do Lago.

“Há vários ajustes que tem que ser feitos com relação ao atraso das NDCs”, completou.

Ele afirmou, porém, que um dos motivos para este atraso é porque as nações estão elaborando NDCs mais complexas e com ligação direta a modelos de desenvolvimento econômico.

Isso demonstra, segundo o embaixador, uma preocupação em fazer dessas metas mais sólidas, mas também atrasa sua entrega.

“Sou um otimista, acho que é muito importante que o mundo esteja demonstrando o quanto estão levando a sério as NDCs, é uma prova de sucesso” completou.

Finalmente, o embaixador afirmou que os estudos econômicos para o Fundo Florestas Para Sempre (TFFF, em inglês) devem ficar prontos após a conferência, assim como a formalização da estrutura técnica do mecanismo.

Ele acrescentou, porém, que isso não deve atrasar o lançamento do fundo —que está previsto para a COP30— e nem impedirá que países anunciem seu compromisso de entrar nele.

Até agora, o Brasil foi o único país que prometeu injetar recursos no mecanismo, com uma entrada de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,3 bilhões), mas há a expectativa de que Alemanha, Reino Unido e Noruega também o façam em breve.

O objetivo do Brasil é conseguir cerca de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 107,5 bilhões) até o fim da COP30.