SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cidade de São Paulo tinha um total de 152 mil pessoas que levavam mais de duas horas no trajeto de casa até o trabalho, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (8).
Em números absolutos, é o município brasileiro com a maior população que passa tanto tempo no trânsito, ao menos três vezes por semana. É o equivalente à população de Pouso Alegre, a 17ª maior de Minas Gerais.
Com 11,4 milhões de habitantes, a capital paulista tem uma frota de 12,8 mil ônibus municipais em operação, 104 km de metrô –que, somados às linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), chegam a cerca de 380 km no sistema metroferroviário.
Nas composições desses modais está a maior parte daqueles que passam mais de duas horas para chegar ao serviço, segundo o IBGE.
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Meios de transporte usados pelos trabalhadores na cidade de SP
Em %
36,92 – Ônibus
29,64 – Automóvel
11,19 – Trem/metrô
4,14 – Motocicleta
1,01 – Bicicleta
0,82 – Táxi/aplicativo
0,64 – Outros
0,57 – Van/perua
0,38 – BRT
0,24 – Mototáxi
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2022
Os usuários do transporte coletivo da capital são 87% daqueles que ficam tanto tempo em deslocamento. Quem usa automóvel, como motoristas ou passageiros, representam só 6,4% daqueles que ficam mais de duas horas no trânsito até o trabalho.
Isso se reflete também nos deslocamentos da região metropolitana: 90% daqueles que passavam mais de meia hora no trajeto até o trabalho, na capital e nos municípios vizinhos, usavam trem e metrô. Ao mesmo tempo, a capital paulista tem uma proporção de usuários do transporte coletivo acima da média nacional afinal, é o maior sistema de transporte metropolitano do país.
O ônibus era o meio de transporte mais usado na cidade, com 37% dos trabalhadores que se deslocam três ou mais vezes por semana. Em seguida estava o automóvel, com quase 30%.
Entre as capitais, São Paulo teve o segundo pior resultado de tempo de deslocamento perdeu apenas para o Rio de Janeiro. Os paulistanos que levam mais de uma hora para chegar ao trabalho são 28% do total, e apenas 4% chegam em até cinco minutos. Três em cada dez (31%) levam de meia hora até uma hora no trajeto.
Algumas das desigualdades brasileiras no acesso ao transporte eram mais acentuadas em São Paulo. Uma das maiores mais diferenças é o tempo gasto pelos ricos e pelos pobres para chegar ao trabalho. Enquanto 38% daqueles que ganhavam até meio salário mínimo (R$ 606, em valores de 2022) levavam mais de uma hora para chegar ao trabalho na capital, essa proporção era de 12% entre quem ganhava mais de cinco salários (R$ 6.060).
Entre os brancos, um a cada quatro (25%) precisavam de mais de uma hora para fazer esse trajeto. Essa proporção chegava a 36% entre os pretos uma diferença de 11 pontos percentuais, enquanto na média nacional a diferença é menor, de 7 pontos.
No extremo oposto, dos casos em que o trajeto casa-trabalho durava até meia hora, há proporções maiores de amarelos (49% faz o caminho em até 30 minutos) e brancos (41%). Entre os pretos, essa proporção era de três a cada dez.
Há também desigualdades de acordo com o nível de escolaridade. Entre aqueles sem instrução e com ensino fundamental incompleto, 37% levavam mais de uma hora no trajeto até o trabalho. Essa proporção é menor, de 22%, entre aqueles com ensino superior completo.
O meio de transporte utilizado ajuda a explicar essas diferenças. A maior parte dos trabalhadores que chegavam ao trabalho em até meia hora na cidade de São Paulo usa carro na maior parte ou em todo o trajeto. São 609 mil paulistanos que têm essa condição.
Ao mesmo tempo, 242 mil passageiros do sistema de ônibus conseguiam fazer esse tipo de trajeto em 30 minutos ou 16% do total de entrevistados que declaravam usá-lo como principal meio de transporte.
O uso de carros e motocicletas nos deslocamentos diários, porém, é considerado ruim pela maior parte dos especialistas em mobilidade devido aos efeitos para as cidades: poluição, maior probabilidade de acidentes em comparação com outros modais, e acesso desigual.