RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Em meio a uma discussão na Libra e em uma semana com críticas sobre a arbitragem, o presidente do Flamengo, Luiz Eduardo Baptista, o Bap, detalhou a visão do clube sobre alguns assuntos quentes dos últimos dias.

O dirigente fez uma crítica aos clubes sobre a falta de discussão mais detalhada sobre alguns assuntos e negou que o Fla esteja asfixiando os demais parceiros de Libra na discussão sobre a divisão da parcela de audiência dos direitos de TV.

“As histórias de que o Flamengo está asfixiando alguém… há 13 anos, a gente não tinha dinheiro para comprar lâmpada e nem papel higiênico no clube. Não me recordo, e eu estava lá, de alguém chegar e mandar um vale-ajuda para o Flamengo, vale-auxílio para o Flamengo e dizer: ‘Olha, vamos ajudar o Flamengo com isso aqui’. Não existe esse espírito de colaboração de coirmandade entre os clubes, não existe. Se você construir um conceito de liga, seja por meio da Libra ou da Liga Forte, pode ser que a gente entenda que algumas coisas fora de campo, a gente devia colaborar e não competir. Mas isso pressupõe o quê? Amadurecimento, comportamento diferente, uma relação diferente entre os clubes”, disse o dirigente rubro-negro, que participou do Fórum Rio Empreendedor na manhã desta quinta-feira (09).

Qual o nível de aproximação entre os dirigentes?

Alguém aí que está me ouvindo faz negócio com quem não conhece, com quem não tem um nível mínimo de conexão? Não. O que você acha que no futebol isso vai acontecer? Você tem uma discussão super acalorada durante três horas, você dizendo que está levando mais dinheiro de mim do que devia levar. E o outro dizendo: ‘Não estou, vamos votar, dane-se, vou embora antes do final da reunião’. Na hora da discussão do seu assunto, a pessoa que posa de boazinha, de generosa, de inclusiva levanta e vai embora da reunião e diz, olha, vou embora e meu voto é contra o Flamengo. Gente, quem bate esquece, quem apanha não esquece nunca. É isso que a gente tem que dizer para o torcedor médio. Isso é da vida, é parecido com a tua família, com a minha, com a de todo mundo. Gentileza gera gentileza, grosseria não gera gentileza.

Quem foi que foi embora? “Todo mundo sabe quem foi”.

Vai ter bandeira branca de algum lado na Libra?

“Eu não acho que seja o caso da gente falar de levantar bandeira branca. A gente não concorda com o critério de divisão. Nós discutimos durante seis meses sobre esses critérios. A visão do Flamengo é muito clara: 70% do dinheiro está sendo dividido como todo mundo achava que deveria ser, baseado em preceitos europeus. Os outros 30% reconhecem o tamanho de cada um. O Flamengo não vai aceitar que nos 30 tenha qualquer tipo de redutor na conta. Eu acho que qualquer redutor conceitual, social, filosófico que exista já está embutido nos outros 70 que estão sendo distribuídos.

Quando cria a Libra, a preocupação do Flamengo era de que ele perdesse dinheiro e de que se eles colocassem num processo de votação unitária, claro que os que têm menos peso econômico votariam contra o Flamengo. Por isso que foi colocado, olha, o Flamengo para fazer parte disso, ele tem que ter o direito de veto que se traduziria na unanimidade. O Flamengo está exercendo um direito que vem de trás, o que é combinado. Bap, presidente do Flamengo

E por que os clubes estão se insurgindo, na sua visão?

“Agora, a revolta de alguns clubes ou o destempero, porque o Flamengo está defendendo seu pedaço me parece surpreendente. E eu acho que por outro lado tem muito a ver com a briga por uma narrativa pública. Por que eu acho que é uma briga para controlar a narrativa do público aí fora? Porque não tem nada de novo, isso estava na essência do primeiro estatuto que foi construído. Então o Flamengo está apenas somente defendendo aquilo que era princípio, era princípio basilar da formação da Libra”.

Para onde vai a briga na Justiça?

“Nós vamos para a arbitragem, nós tentamos durante oito meses chegarmos ao acordo, não chegamos ao acordo, o próximo passo é a Justiça, arbitragem, e a arbitragem vai decidir como é que isso vai ser. E nós todos vamos ter que conviver com a decisão da arbitragem, que também tem previsão estatutária, assim como foi no Rio de Janeiro”.

Por que o processo está no Rio?

“O Flamengo não escolheu o foro do Rio de Janeiro. Não fui nem eu que participei disso, mas foi decidido em comum acordo que o foro seria no Rio de Janeiro. Se fosse no Amapá, não mudaria a decisão do Flamengo. O Flamengo estaria entrando com o pedido de arbitrar, de revisão, de liminar. Então, não existe um bairrismo, nem sectarismo por parte do Flamengo”.

O que vai ser da negociação de 2029 para frente?

Quando você casa, você não sabe se vai ser eterno, se vai durar um ano, três anos, cinco anos, certo? Número dois, todo mundo que casa, porque está casado, sabe que às vezes você passa por crises. As crises não significam necessariamente que você vai separar no futuro, tá certo? Da mesma forma que você conviver super bem nesta quinta-feira (09), não é nenhuma garantia de que você vai estar casado daqui a cinco anos. O futuro vai dizer, a dinâmica dessa relação entre os mercados é que vão determinar como é que nós vamos estar.

“Agora, o fato de haver uma discordância comercial não afeta o fato de ter muita coisa para ser feito no futebol para além da parte comercial. Então, quando a gente fala de liga, as pessoas entendem que se tem que ter todo tipo de alinhamento, não é necessariamente verdadeiro. Você pode ter alinhamento de perto econômico, financeiro, regulatório do campeonato, você pode ter uma série de mecanismos”.

Nós vamos organizar um campeonato brasileiro? Você que tem um diretor de competições. Como é que seria a arbitragem dos clubes? Vocês acham que os clubes do Brasil, que não conseguem dividir R$ 70 milhões, R$ 80 milhões por ano, estão preparados emocionalmente, psicologicamente, para discutir quem é o árbitro que vai arbitrar o jogo daqui a três dias? Bap

Os demais clubes chamaram para debate ou discussão de mudanças, para além do dinheiro?

“Não houve essa parte que você está falando da proposta das mudanças. O assunto não entra em pauta. Nós estamos há nove meses discutindo o dinheiro que o Flamengo cede aos outros. E que eu acho que está errado pelo critério. É como se fosse um restaurante: ‘Mas o que você vai querer de sobremesa? Eu quero comer um filé com fritas’. O que você quer beber? Eu quero um filé com fritas. O senhor vai ficar aqui até tarde. O senhor vai comer uma entrada? Eu quero um filé com fritas’. O resto simplesmente não é discutido.

“A conversa sobre a liga é uma conversa parecida com a que eu estou tendo com vocês aqui. Ela tem um palmo de profundidade. É só uma conversa conceitual. O que vai vir daí? Nada. Então isso é uma autocrítica, e eu me incluo nisso, que os clubes reclamam da CBF, mas o que que a gente faz de fato de proposta concreta? Nada”.

Dentro da libra não há nenhuma discussão sobre absolutamente nada que não seja divisão de dinheiro. Eu pergunto para quem acompanha o futebol, qual é a diferença disso no Clube dos 13? Nenhuma. A diferença é que estamos todos mais velhos, com menos cabelo, mais gordos e discutimos mesmos problemas. Bap

Não acontece por quê?

“Talvez por uma questão mais imediatista, né? Quem está vendendo um almoço para pagar um jantar, talvez não consiga pensar em alguma coisa de mais longo prazo, eu entendo. Mas o fato, deu a entender, não significa dizer que a gente não deu pra fazer”.