SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em alta nesta quinta-feira (9), com o mercado digerindo a derrubada da MP (medida provisória) dos impostos no Congresso Nacional na véspera.

Dados de inflação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) também estão no radar.

Às 13h14, a moeda americana avançava 0,41%, cotada a R$ 5,364. Já a Bolsa subia 0,12%, a 142.321 pontos.

A Câmara dos Deputados impôs uma derrota ao governo Luiz Inácio Lula da Silva ao retirar da pauta a MP (medida provisória) de aumento de impostos. Na prática, a decisão enterra de vez a medida, que o governo considerava importante para sustentar a arrecadação e reduzir despesas obrigatórias em 2026, ano eleitoral.

A retirada da pauta foi aprovada por 251 votos a 193. A votação ocorreu na noite de quarta-feira, último dia de vigência da MP, que agora perderá validade.

A derrubada da medida deve causar um bloqueio nas despesas de 2025, incluindo emendas parlamentares, e obrigar um ajuste de R$ 35 bilhões no PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2026. Para governistas, esse era justamente o objetivo de partidos do centrão e da bancada ruralista: restringir o espaço fiscal de Lula no ano em que ele deve buscar a reeleição.

Lula afirmou que não se tratou de uma derrota imposta ao governo, mas ao povo brasileiro. Segundo ele, a medida reduziria distorções ao cobrar a parte justa de quem ganha e lucra mais.

“Impedir essa correção é votar contra o equilíbrio das contas públicas e contra a justiça tributária. O que está por trás dessa decisão é a aposta de que o país vai arrecadar menos para limitar as políticas públicas e os programas sociais que beneficiam milhões de brasileiros. É jogar contra o Brasil”, publicou em rede social.

Para os operadores, a derrubada traz alívio e preocupação ao mesmo tempo.

De um lado, a decisão evita a cobrança de uma alíquota de 18% de IR (Imposto de Renda) nos rendimentos de aplicações financeiras, como fundos de investimento e letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCIs e LCAs). “Isso preserva a atratividade do mercado e impede migrações forçadas de recursos e distorções setoriais, fomentando maior liquidez e atração de capitais para o crescimento sustentável do setor”, diz Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital.

De outro, porém, a questão fiscal preocupa. Ao retirar do horizonte uma fonte de arrecadação para os próximos anos, o Congresso torna mais desafiadora a tarefa do governo de cumprir as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.

“O governo ainda pode atingir essas metas, mas terá de fazer cortes a contragosto, e investidores vão buscar saber exatamente que áreas serão represadas. Além disso, a derrubada mostra que o governo não tem força para avançar sua pauta econômica no Congresso”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

“O cenário mais desafiador para as metas fiscais e a baixa articulação política do governo tendem a aumentar a percepção de risco para os ativos brasileiros.”

Isto é, desestimula que o mercado invista nos produtos do país, como o real e a Bolsa.

Em viagem, Lula afirmou que vai se reunir com integrantes do governo na próxima semana para discutir soluções ao impasse orçamentário, inclusive sobre como garantir que as fintechs “paguem os impostos devidos”.

“Eu volto na quarta-feira e aí, sim, eu vou reunir o governo para discutir como é que a gente vai propor que e o sistema financeiro, sobretudo as fintechs, que tem fintechs maior que banco, que elas paguem o imposto devido a esse país”, disse à rádio Piatã, na Bahia.

Já Haddad afirmou que apresentará várias alternativas ao presidente. A redução dos gastos tributários é uma determinação constitucional, disse ele em Brasília, e que o STF (Supremo Tribunal Federal) garantiu “prerrogativas do presidente”.

O ministro se refere à decisão da Corte que reestabeleceu a vigência da maior parte de um decreto de Lula sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), após o Congresso votar pela sua revogação. A validade deste decreto foi motivo de disputa entre governo e Congresso no Supremo. Posteriormente, o governo negociou com o Congresso a MP, agora arquivada, justamente para substituir o aumento do IOF.

O histórico, segundo Haddad, dá “conforto” ao Executivo para chegar ao final do ano.

Os dados de inflação do IPCA também norteiam as negociações. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que os preços no país aumentaram 0,48% em setembro, após deflação (queda) de 0,11% em agosto.

O resultado, contudo, veio abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,52%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das expectativas ia de 0,47% a 0,57%.

O avanço foi puxado pela alta de 10,31% da energia elétrica residencial. Por outro lado, o grupo alimentação e bebidas ajudou a segurar a inflação. O segmento teve o quarto mês consecutivo de redução dos preços (-0,26%).

A leitura preliminar é benigna, diz o economista André Perfeito, ao menos no que tange a política monetária do BC (Banco Central).

“Importantes medidas de núcleos tiveram desaceleração, indicando que as pressões do mercado de trabalho estão menos intensas no índice. Não se pode dizer com isso que o BC irá cortar os juros por conta dos números divulgados, mas é razoável supor que as medianas das projeções no Focus podem melhorar para o horizonte de curto prazo.”

O BC trabalha com uma meta de inflação em 3% para balizar as decisões sobre a Selic, a taxa básica de juros do país. A meta tem um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo -isto é, o objetivo será considerado cumprido se o IPCA ficar entre 1,5% e 4,5%.

O índice estourou a meta contínua pela primeira vez em junho.

Na mediana, as projeções do mercado financeiro apontam IPCA de 4,8% no acumulado de 2025, conforme o boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda (6).

A previsão passou por uma série recente de revisões para baixo, mas continuou acima do teto de 4,5% da meta de inflação.