SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na véspera da divulgação do Prêmio Nobel da Paz, láurea pela qual Donald Trump desenvolveu uma obsessão particular, tanto a Ucrânia como a Rússia sinalizaram nesta quinta-feira (9) elogios aos esforços do presidente americano para tentar acabar com a guerra iniciada por Moscou em 2022.
Em uma fala mais direta e teatral, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que seu país indicaria Trump ao prêmio se ele conseguir uma trégua. “Se Trump der ao mundo, e ao povo ucraniano, a chance para tal cessar-fogo, então ele deve ser nomeado para o Nobel da Paz”, disse a repórteres.
Já a Rússia agiu de forma contraditória, com o assessor presidencial para assuntos internacionais Iuri Uchakov emitindo uma rara opinião pública inversa à expressa pela chancelaria do país.
“Alegações de que o momento de Anchorage está acabando, ou de que ele se exauriu, estão completamente incorretas. Nós continuamos a trabalhar com os americanos baseados no que foi acertado pelos nossos presidentes em Anchorage”, disse, referindo-se à cidade do Alasca em que Putin e Trump se encontraram em 15 de agosto.
Na quarta (8), o vice-chanceler Serguei Riabkov havia dito que o momento de negociações obtido no Alasca havia sido “amplamente exaurido”, acusando líderes europeus de bombardear os esforços iniciados pelo americano quando voltou à Casa Branca.
Tal dissonância aberta é incomum no governo Putin. Tanto Uchakov quanto Riabkov são diplomatas do topo da carreira, citados como eventuais sucessores do chanceler Serguei Lavrov. Parece difícil que o assessor de Putin falasse algo do gênero sem a aprovação do chefe, que não citou o tema em evento no Tadijiquistão.
Lá, o presidente russo disse nesta sexta apoiar outro esforço de paz de Trump, no caso o acordo que se desenha para encerrar a guerra entre Israel e o Hamas, iniciada em 2023 quando o grupo terrorista palestino da Faixa de Gaza atacou o Estado judeu.
Trump trombeteia ter acabado com “seis ou sete guerras” em seu mandato, algo que se prova bem exagerado quando não falso, e já disse merecer o Nobel da Paz. Observadores da política americana sugerem que a vontade passa pela rivalidade com Barack Obama, 1 dos 4 presidentes americanos a receber o prêmio.
O democrata o recebeu em 2009, seu primeiro ano de governo, sem ter feito nada em especial para isso. A indicação levou várias críticas à organização do Nobel, que sempre tempera com política suas premiações.
Recentemente, contudo, evitou premiar Zelenski apesar da campanha feita por ele na Europa, preferindo laurear ativistas ucranianos, russos e belarussos desde 2022. Antes, em 2021, premiou um jornalista russo crítico de Putin.
Trump está em um momento importante acerca da guerra. Ele já disse ter se decidido sobre o envio ou não de mísseis de cruzeiro Tomahawk a Kiev, mas aguou as expectativas ao afirmar que ainda quer saber onde os ucranianos pretendem empregar a arma.
Ela tem alcance de 2.500 km nas versões mais capazes, o que cobre toda a Rússia europeia. Putin já disse que o fornecimento romperia a retomada das conversas com Washington, e o Kremlin sustenta que o eventual uso em território russo implicará retaliação contra as plataformas de lançamento, que o presidente diz só poderem ser operadas por americanos.
A guerra, por sua vez, segue seu curso com novos ataques de lado a lado contra a infraestrutura energética. Zelesnki diz que a campanha atual russa visa destruir o sistema de gás e as ferrovias do país, gerando o que chamou de caos.
Segundo membros de seu governo disseram à agência Bloomberg, 60% da capacidade de produção de gás foi destruída na Ucrânia. Na via contrária, Zelenski disse ter reduzido em 20% o refino de petróleo com ataques de drones, uma alegação que é considerada exagerada por especialistas, que veem o dano na casa dos 5% e reversível no curto prazo.