SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O romancista húngaro László Krasznahorkai é o vencedor do prêmio Nobel de Literatura de 2025, anunciado na manhã desta quinta-feira (9) pela Academia Sueca.
Um dos autores mais celebrados da literatura contemporânea, Krasznahorkai é conhecido por seu estilo de escrita denso e obsessivo, em livros que dão pouco respiro aos leitores. O autor explora temas como desesperança, decadência e alienação com frases longas e cadenciadas.
Segundo o anúncio do Nobel, a obra visionária e envolvente do húngaro “reafirma o poder da arte em meio ao terror apocalíptico”. “O olhar artístico de Krasznahorkai, totalmente livre de ilusões e capaz de enxergar através da fragilidade da ordem social, combinado com sua crença inabalável no poder da arte, motivou a academia a conceder a ele esse prêmio.”
No Brasil, seu único livro disponível saiu pela Companhia das Letras há três anos -é “Sátántangó”, romance lançado originalmente em 1985 e tido como sua obra-prima. Virou também um filme referencial, um longa-metragem de mais de sete horas de duração dirigido pelo também húngaro Béla Tarr.
A obra de estreia de Krasznahorkai, que já foi traduzida como “o tango de Satã”, gira em torno de um protagonista misterioso que pode ser uma espécie de profeta, um mero vagabundo ou o próprio demônio.
Ele chega a uma aldeia lotada de pessoas desajustadas que o recebem entre bebedeiras e discussões caóticas, num enredo que espirala em tons apocalípticos e se passa logo antes da queda do comunismo no país.
A Companhia promete já para o ano que vem outro romance do autor, “O Retorno do Barão Wenckheim”, sobre um homem que retorna a sua pequena cidade natal ao final da vida.
A tradução do húngaro será de Zsuzsanna Spiry, após “Satántangó” ter sido vertido ao português por Paulo Schiller -que venceu o prêmio da Biblioteca Nacional pela tradução e define Krasznahorkai como “o Guimarães Rosa húngaro”.
O lançamento internacional mais recente do autor é “Herscht 07769”, obra de mais de 400 páginas escrita em uma única frase do início ao fim, sem pontuação. O livro também já foi arrematado para sair pela editora.
Lászlo Krasznahorkai, cujo nome se pronuncia “láslo crasnarrorcaí”, venceu o prêmio Booker Internacional pelo conjunto da obra em 2015. A pronúncia de seu livro mais famoso, no húngaro original, é “xatantangô”.
Atualmente, o autor de 71 anos vive recluso nas colinas de Szentlászló, em seu país natal.O escritor nasceu numa cidadezinha a sudeste da Hungria, parecida com a vila em que se ambienta “Satántango”. Seu segundo livro, o também consagrado “Melancolia da Resistência”, de 1989, também é carregado de um tom de fim de mundo, dessa vez num circo macabro onde há apenas o esqueleto de uma baleia.
O comitê do Nobel sublinhou que as obras de Krasznahorkai são repletas de “cenas de pesadelo e caracterizações grotescas”, que se desdobram para revelar “o conflito brutal entre a ordem e a desordem” e aproximar a beleza do horror.
O projeto literário do autor é marcado por épicos de musicalidade sombria, como bem retratado no filme de Tárr, no estilo burlesco típico do leste europeu em que o som embala danças desesperadas -mas, ainda assim, danças.
O estilo absurdo e desesperançoso do autor foi comparado pelo porta-voz do Nobel a dois dos maiores expoentes da literatura em alemão do século 20, Franz Kafka e Thomas Bernhard -aliás, dois autores que nunca ganharam o Nobel.
O húngaro é um raro autor favorito ao prêmio Nobel que de fato se confirma como vencedor. Seu nome já vinha ocupando o topo das bolsas de apostas por um motivo algo banal -o prêmio sueco vinha se alternando entre premiar um homem e uma mulher, nos últimos anos.
Além disso, europeus têm vantagem histórica sobre competidores de outros continentes, já que o comitê do Nobel costuma fazer pouco esforço para olhar além de suas fronteiras.
Uma exceção à regra aconteceu no ano passado, quando Han Kang se tornou a primeira pessoa sul-coreana a ganhar o troféu na história. Antes, foi a vez do norueguês Jon Fosse, que sucedeu a francesa Annie Ernaux.
Mesmo autores nascidos fora da Europa, como os recentes vencedores Abdulrazak Gurnah e Kazuo Ishiguro, costumam fazer carreira no continente e escrever em línguas da região como o inglês.
Cada vencedor do Nobel recebe 11 milhões de coroas suecas, um valor hoje equivalente a R$ 5,83 milhões.
VEJA TODOS OS VENCEDORES DO NOBEL DE LITERATURA ATÉ HOJE
2025: László Krasznahorkai (Hungria)
2024: Han Kang (Coreia do Sul)
2023: Jon Fosse (Noruega)
2022: Annie Ernaux (França)
2021: Abdulrazak Gurnah (Tanzânia)
2020: Louise Glück (EUA)
2019: Peter Handke (Áustria)
2018: Olga Tokarczuk (Polônia)
2017: Kazuo Ishiguro (Reino Unido)
2016: Bob Dylan (EUA)
2015: Svetlana Aleksiévitch (Bielorrússia)
2014: Patrick Modiano (França)
2013: Alice Munro (Canadá)
2012: Mo Yan (China)
2011: Tomas Tranströmer (Suécia)
2010: Mario Vargas Llosa (Peru)
2009: Herta Müller (Romênia-Alemanha)
2008: J.M.G. Le Clézio (França)
2007: Doris Lessing (Reino Unido, mas nasceu no Irã e cresceu no Zimbábue)
2006: Orhan Pamuk (Turquia)
2005: Harold Pinter (Reino Unido)
2004: Elfriede Jelinek (Áustria)
2003: J.M. Coetzee (África do Sul)
2002: Imre Kertész (Hungria)
2001: V.S. Naipaul (nasceu em Trinidad e Tobago, mas vive no Reino Unido)
2000: Gao Xingjian (China)
1999: Günter Grass (Alemanha)
1998: José Saramago (Portugal)
1997: Dario Fo (Itália)
1996: Wislawa Szymborska (Polônia)
1995: Seamus Heaney (Irlanda)
1994: Kenzaburo Oe (Japão)
1993: Toni Morrison (Estados Unidos)
1992: Derek Walcott (Santa Lúcia, ilha do Caribe)
1991: Nadine Gordimer (África do Sul)
1990: Octavio Paz (México)
1989: Camilo Jose Cela (Espanha)
1988: Naguib Mahfouz (Egito)
1987: Joseph Brodsky (EUA, de origem russa)
1986: Wole Soyinka (Nigéria)
1985: Claude Simon (França)
1984: Jaroslav Seifert (Tchecoslováquia)
1983: William Golding (Reino Unido)
1982: Gabriel García Márquez (Colômbia)
1981: Elias Canetti (Reino Unido, de origem búlgara)
1980: Czeslaw Milosz (Polônia)
1979: Odysseus Elytis (Grécia)
1978: Isaac Bashevis Singer (EUA, de origem polonesa)
1977: Vicente Aleixandre (Espanha)
1976: Saul Bellow (EUA)
1975: Eugenio Montale (Itália)
1974: Eyvind Johnson (Suécia) e Harry Martinson (Suécia)
1973: Patrick White (Austrália)
1972: Heinrich Böll (Alemanha)
1971: Pablo Neruda (Chile)
1970: Alexander Soljenítsin (URSS)
1969: Samuel Beckett (Irlanda)
1968: Yasunari Kawabata (Japão)
1967: Miguel Ángel Asturias (Guatemala)
1966: Samuel José Agnon (Israel) e Nelly Sachs (Alemanha e Suécia)
1965: Mikhail Sholokhov (URSS)
1964: Jean-Paul Sartre (França; recusou o prêmio)
1963: Giórgos Seféris (Grécia)
1962: John Steinbeck (EUA)
1961: Ivo Andric (Iugoslávia)
1960: Saint-John Perse (França)
1959: Salvatore Quasimodo (Itália)
1958: Boris Pasternak (União Soviética; renunciou ao prêmio)
1957: Albert Camus (França)
1956: Juan Ramón Jiménez (Espanha)
1955: Halldór Kiljan Laxness (Islândia)
1954: Ernest Hemingway (Estados Unidos)
1953: Winston Churchill (Reino Unido)
1952: François Mauriac (França)
1951: Par Lagerkvist (Suécia)
1950: Bertrand Russell (Reino Unido)
1949: William Faulkner (EUA)
1948: T.S. Eliot (Reino Unido, nascido nos EUA)
1947: André Gide (França)
1946: Hermann Hesse (Alemanha)
1945: Gabriela Mistral (Chile)
1944: Johannes V. Jensen (Dinamarca)
1940-1943: não foi concedido
1939: Frans Eemil Sillanpää (Finlândia)
1938: Pearl S. Buck (EUA)
1937: Roger Martin du Gard (França)
1936: Eugene O’Neill (EUA)
1935: não foi concedido
1934: Luigi Pirandello (Itália)
1933: Ivan Bunin (URSS)
1932: John Galsworthy (Reino Unido)
1931: Erik Axel Karlfeldt (Suécia)
1930: Sinclair Lewis (EUA)
1929: Thomas Mann (Alemanha)
1928: Sigrid Undset (Noruega)
1927: Henri Bergson (França)
1926: Grazia Deledda (Itália)
1925: George Bernard Shaw (Irlanda)
1924: Wladyslaw Reymont (Polônia)
1923: W.B. Yeats (Irlanda)
1922: Jacinto Benavente (Espanha)
1921: Anatole France (França)
1920: Knut Hamsun (Noruega)
1919: Carl Spitteler (Suíça)
1918: Não foi concedido
1917: Karl Gjellerup e Henrik Pontoppidan (ambos da Dinamarca)
1916: Verner von Heidenstam (Suécia)
1915: Romain Rolland (França)
1914: não foi concedido
1913: R. Tagore (Índia)
1912: Gerhart Hauptmann (Alemanha)
1911: M. Maeterlinck (Bélgica)
1910: Paul Heyse (Alemanha)
1909: Selma Lagerlöf (Suécia)
1908: Rudolf Eucken (Alemanha)
1907: Rudyard Kipling (Reino Unido, mas nasceu na Índia)
1906: Giosuè Carducci (Itália)
1905: Henryk Sienkiewicz (Polônia)
1904: Frédéric Mistral (França) e José Echegaray (Espanha)
1903: Bjornstjerne Bjornson (Noruega)
1902: Theodor Mommsen (Alemanha)
1901: Sully Prudhomme (França)