SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Apesar de mais escolarizadas, inclusive em nível superior, as mulheres brasileiras ganhavam quase 20% menos do que os homens na média do mercado de trabalho em 2022, segundo dados do Censo Demográfico divulgados nesta quinta (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o levantamento, 28,9% das mulheres ocupadas com algum tipo de trabalho tinham ensino superior completo em 2022. A proporção superava em 11,6 pontos percentuais a registrada entre os homens (17,3%).
Ter mais anos de estudo, contudo, não era garantia de salários maiores. Para especialistas, o fato demonstra discriminação de gênero arraigada no mercado de trabalho levando mulheres a ganharem menos do que homens mesmo em profissões, cargos e escolaridade equivalentes.
Considerando o total de mulheres ocupadas, o rendimento médio de todos os trabalhos foi de R$ 2.506 por mês em 2022. O valor ficou 19,6% abaixo do encontrado entre os homens ocupados à época (R$ 3.115).
O IBGE afirma que eles ganhavam mais do que elas em qualquer nível de instrução. A maior diferença é justamente na população ocupada com ensino superior completo.
As trabalhadoras que haviam concluído a faculdade recebiam R$ 4.591 por mês em 2022. Isso era 37,5% menos do que o rendimento dos homens com o mesmo nível de estudo (R$ 7.347).
Além da discriminação intrínseca, o pesquisador Marcos Hecksher, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), afirma que há proporcionalmente mais mulheres com ensino superior em profissões que pagam menos (como enfermagem, pedagogia e psicologia); e quantidade menor em áreas mais bem remuneradas (matemática, engenharia e tecnologia). No agregado, isso puxa a média salarial feminina para baixo.
“Mas o viés de gênero é claro, o que acaba oferecendo menos oportunidades de ascensão para as mulheres em profissões equivalentes”, afirma.
Segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social, as diferenças salariais entre homens e mulheres ficam maiores nos estratos mais ricos. “Apesar de elas serem hoje mais escolarizadas do que os homens, inclusive porque há mais mulheres que homens em universidades, seguem ganhando menos”, diz Neri.
O IBGE divulgou os valores em termos nominais ou seja, do período analisado, sem a correção pela inflação. O instituto não publicou dados comparáveis do recenseamento anterior, de 2010.
De acordo com o órgão, o Censo 2022 teve mudanças metodológicas. A comparação entre as duas pesquisas exigiria o que o IBGE chamou de “compatibilização” dos conceitos, ainda não disponível para todos os recortes.
Em 2010, a definição de pessoas ocupadas incluiu aquelas que produziam bens destinados exclusivamente à alimentação no domicílio, e a análise do mercado de trabalho foi realizada para a população de dez anos ou mais.
O Censo 2022 também captou informações sobre o consumo próprio, mas não as incorporou na análise de trabalho. Além disso, a contagem mais recente se concentrou nas pessoas ocupadas de 14 anos ou mais. As mudanças, segundo o IBGE, seguiram recomendações internacionais.
AMARELOS E BRANCOS GANHAM MAIS EM QUALQUER NÍVEL DE INSTRUÇÃO
As diferenças salariais não aparecem apenas no recorte por sexo. Também são visíveis no detalhamento por raça ou cor.
Conforme o Censo 2022, a renda média mensal de todos os trabalhos foi maior entre os amarelos (R$ 5.942) e os brancos (R$ 3.659) na comparação com os pardos (R$ 2.186), os pretos (R$ 2.061) e os indígenas (R$ 1.683).
Os trabalhadores amarelos e brancos recebiam rendimentos mais elevados em todos os níveis de instrução.
Na população ocupada com ensino superior completo, a renda do trabalho foi de R$ 8.411 entre os amarelos, mais que o dobro da verificada entre os indígenas (R$ 3.799).
Já os trabalhadores brancos com faculdade recebiam R$ 6.547 em média. É um valor 56,8% acima do encontrado entre os pretos (R$ 4.175) e 43,6% superior ao dos pardos (R$ 4.559).
Como o Censo é relativo a 2022, não capta toda a recuperação do mercado de trabalho no pós-pandemia. Em uma tentativa de reduzir as desigualdades, o governo Lula (PT) apostou em uma lei de paridade salarial entre homens e mulheres que exercem as mesmas funções. A medida entrou em vigor em julho de 2023, mas foi alvo de questionamentos na Justiça.
RENDA DO TRABALHO E DE OUTRAS FONTES
O Censo 2022 ainda trouxe dados do rendimento domiciliar per capita do trabalho e de outras fontes. As outras fontes podem incluir opções como benefícios sociais, aposentadorias e aluguel. O levantamento, porém, não detalha o valor de cada uma delas.
Na média do Brasil, o rendimento domiciliar per capita de todas as fontes foi de R$ 1.638 por mês em 2022. O maior valor foi o dos amarelos, calculado em R$ 3.520. O menor, por outro lado, foi o dos indígenas: R$ 669.
Na população branca, a renda per capita de todas as fontes ficou em R$ 2.207. É quase o dobro da registrada entre os pretos (R$ 1.198) e os pardos (R$ 1.190).
Nesse caso, a diferença entre os resultados dos homens (R$ 1.665) e das mulheres (R$ 1.613) não foi muito expressiva, afirmou o IBGE.
Os números foram calculados a partir dos questionários da amostra do Censo. São considerados preliminares pelo instituto. Ou seja, ainda podem passar por pequenos ajustes após a delimitação das áreas de ponderação do recenseamento.
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