SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A população mais pobre, preta e menos escolarizada levava mais tempo para chegar ao trabalho, mostram dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quinta-feira (9).
A desigualdade se repetia no acesso aos meios de transporte individuais, que na maior parte dos casos garantem tempos de deslocamento mais curtos.
As diferenças entre ricos e pobres estão principalmente nos casos extremos de tempo de deslocamento. Entre aqueles tinham renda domiciliar per capita até meio salário mínimo (R$ 606, em valores de 2022), 7% chegavam ao trabalho em até cinco minutos e 13% levavam mais de uma hora.
Já entre quem tinha renda acima de cinco salários (R$ 6.060 em 2022), 12% chegavam em menos de cinco minutos e 8,8% levavam mais de uma hora.
As diferenças também ficam nítidas nos diferentes segmentos raciais da sociedade, principalmente entre os pretos e as demais. Entre os pretos, 17% levava mais de uma hora para chegar ao trabalho, enquanto entre brancos e amarelos essa proporção é de 10%, e entre pardos, 13%.
Além disso, 8% da população preta leva até 5 minutos para esse tipo de deslocamento, a menor proporção entre todos os segmentos. Uma proporção maior (10%) de pardos e amarelos tem essa comodidade. Entre brancos, ela alcança 11%.
Há diferenças no tempo de trajeto também quando se considera o nível de escolaridade. Entre aqueles com ensino superior completo, 12% chegam no trabalho em até 5 minutos. Uma proporção menor, de 9%, de pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto consegue fazer o trajeto no mesmo tempo.
Os dados do Censo indicam que, em comparação com 2010, há menos brasileiros que trabalham em municípios diferentes do local de moradia ou em outro país (o que é mais comum em cidades fronteiriças).
Eram 10 milhões de pessoas que trabalhavam em outros municípios de residência em 2010, e 9,2 milhões em 2022. O número de residentes no Brasil que trabalhavam em outros países caiu em 3.700 de um Censo para o outro de 35,7 mil para 32 mil.
Outra curiosidade é que, em relação a 2010, havia um número menor de pessoas declarando que trabalhavam no mesmo domicílio de residência, apesar de 2022 ainda ter um período em que muitas empresas ainda não haviam feito o retorno ao trabalho presencial regular.
Os dados não são exatamente comparáveis pois o IBGE mudou a maneira como avalia esse quesito, o que ajuda a explicar a quebra de expectativa. Antes, o instituto perguntava se os entrevistados faziam deslocamentos “diariamente” até os locais de trabalho. Em 2022, o Censo considerou aqueles que faziam viagens três vezes ou mais por semana.
Entre as capitais brasileiras, aquela que teve os melhores resultados de tempo de deslocamento é Florianópolis (SC). Quase 79% das viagens até o trabalho eram realizadas em até meia hora. Em Goiânia, 63% podiam dizer o mesmo.
As maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro, tinham os piores índices de deslocamento. No Rio, três em cada dez entrevistados disseram que levavam mais de uma hora para chegar ao serviço. Na capital paulista, 28%.
Entre as cidades com mais de 100 mil habitantes no Brasil, Queimados (RJ) era aquela que possuía o maior percentual de trabalhadores que demoravam mais de duas horas para chegar ao trabalho. Na cidade de 140.523 habitantes, 12,5% demoravam mais de duas horas no deslocamento casa-trabalho.
Dos 20 municípios com população superior a 100 mil habitantes que tinham os maiores percentuais de trabalhadores com tempo de deslocamento para o trabalho superior a duas horas, 11 estão no Rio de Janeiro, 7 em São Paulo e 2 no Pará.