SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Especialistas descartam que Donald Trump tenha chances de ganhar o Nobel da Paz neste ano, mesmo sendo considerado peça-chave no acordo de paz entre Israel e Hamas.
Apesar de sinalizar uma possível melhora, crise em Gaza ainda não foi resolvida, logo, ela não deve ser levada em consideração neste ano. O anúncio sobre o vencedor está previsto para 11h desta sexta-feira (10) em Oslo (6h no horário de Brasília).
Indicação de Trump é descartada neste ano, mas professor não acha impossível que o presidente dos EUA possa ser considerado em 2026. “Talvez no próximo ano? Até lá, a situação estará mais clara em suas várias iniciativas, incluindo a crise de Gaza”, disse à AFP o professor sueco Peter Wallensteen, especialista em assuntos internacionais.
Afirmações de que Trump é um “pacificador” são exageradas e escolhas políticas dele, que coloca “Estados Unidos primeiro”, podem ser desvantagem. “Além de tentar negociar a paz para Gaza, vimos políticas que, na verdade, vão contra as intenções e o que está escrito no testamento de (Alfred) Nobel, especialmente para promover a cooperação internacional, a fraternidade das nações e o desarmamento”, declarou Nina Graeger, diretora do Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo (PRIO, na sigla em inglês).
Trump tem uma longa lista de atitudes que não o alinham aos ideais do Nobel da Paz, como retirar os EUA de entidades internacionais e tratados multilaterais. Ele também lançou guerras comerciais contra aliados e rivais, ameaçou tomar a Groenlândia, mobilizou a Guarda Nacional em cidades de seu país, atacou a liberdade acadêmica das universidades, assim como a liberdade de expressão com suas ações judiciais contra meios de comunicação.
“Levamos em consideração todo o panorama”, explicou Jorgen Watne Frydnes, presidente do comitê de cinco membros que concede o prêmio. “Toda a organização ou personalidade completa da pessoa é importante, mas o primeiro e principal [aspecto] que observamos é o que estão fazendo pela paz”, disse.
EXPECTATIVA É DE QUE ESCOLHA DESTE ANO SEJA ‘CLÁSSICA’
Últimas seleções do comitê apontaram vencedores “mais próximos das ideias clássicas de paz”, afirmou Halvard Leira, diretor do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais. Em 2024, o grupo Nihon Hidankyo, formado por sobreviventes ao ataque com bomba atômica no Japão, foi premiado por seus esforços contra as armas nucleares.
Favoritos são russos ou africanos. Entre os nomes de possíveis escolhidos estão Yulia Navalnaya, viúva do crítico do Kremlin Alexei Navalny, as Salas de Resposta a Emergências do Sudão e a Corte Internacional de Justiça. Também há entre os considerados grupos de voluntários que arriscam as próprias vidas para ajudar pessoas em situação de guerra e entidades que lutam por liberdade de imprensa.
Neste ano, 338 pessoas e organizações foram indicadas ao Nobel da Paz. A lista de indicados permanece em segredo por 50 anos.
O PAPEL DOS EUA NO ACORDO ENTRE HAMAS E ISRAEL
Um rascunho feito pelos Estados Unidos foi o que deu início ao acordo de paz assinado nesta quarta-feira (08) entre Israel e Hamas. O papel, com 20 demandas, estipulava a libertação de reféns, troca de prisioneiros e retirada de tropas do local, assim como a anistia dos extremistas e um plano de reconstrução de Gaza.
Os EUA também fizeram parte das mesas de negociação antes do acordo de paz. Os enviados do país a Cairo, onde os papéis de intenção foram assinados, foram o enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e o genro de Trump, Jared Kushner.
O papel do país americano foi reconhecido por autoridades internacionais, que também elogiaram Qatar, Turquia e Egito pelos esforços. Benjamin Netanyahu, aliado próximo de Trump, agradeceu publicamente ao presidente dos EUA pelo suporte.
Trump não esconde seu desejo de ganhar o Nobel da Paz e tem declarado publicamente que “acabou com sete guerras”. Durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, ele afirmou que “todo mundo diz” que ele deveria ganhar o prêmio por causa disso. Alguns dos conflitos que ele menciona são apontados como tréguas momentâneas e frágeis por especialistas.