PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – Um dos locais cogitados para o encontro entre o presidente Lula (PT) e o republicano Donald Trump, a cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês) é o evento em que as principais lideranças do bloco —como presidentes, primeiros-ministros e ministros— se reúnem para discutir a estabilidade social, econômica e política dos países do sudeste asiático.

Realizadas duas vezes por ano, as cúpulas ocorrem desde fevereiro de 1976, quando o primeiro encontro foi sediado em Bali, na Indonésia. A associação, por sua vez, existe desde 1967, quando foi fundada para promover a paz e a estabilidade regional.

Joanne Lin, coordenadora do Centro de Estudos da Asean, afirma que as disputas bilaterais e o avanço do comunismo na região na época levaram as lideranças a identificar a necessidade de união. “Desde o início, os fundadores também pensavam em prosperidade econômica e desenvolvimento social. Por isso, a Asean tem essa dupla função de segurança e crescimento”, afirma.

Os encontros deste ano ocorrem em Kuala Lumpur, na Malásia, país que exerce a presidência da associação. A primeira cúpula de 2025 foi realizada em maio, e a segunda ocorrerá de 26 a 28 de outubro.

O local é um dos cogitados para sediar o encontro entre Lula e Trump, que após serem convidados como parceiros confirmaram presença no evento. A agenda entre os líderes ocorreria de forma paralela à programação oficial do evento, que trata apenas de temas de interesse da associação.

A reunião entre os presidentes será agendada após uma teleconferência entre os dois, realizada nesta segunda-feira (6), quando Lula pediu a Trump que retirasse o tarifaço imposto ao Brasil, e o republicano indicou o secretário de Estado, Marco Rubio, para liderar as negociações com as autoridades brasileiras.

O encontro também pode ocorrer em outros locais, como Washington, já que, durante a conversa, Lula se mostrou disposto a viajar aos Estados Unidos.

Embora a cúpula asiática seja destinada a discutir temas de interesse dos países-membros, é comum que ocorram reuniões bilaterais às margens da agenda oficial. O mesmo acontece em outros eventos do tipo, como a Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em português).

A cúpula é o espaço em que os estados-membros da associação debatem a formulação de políticas, discutem questões-chave sobre os objetivos regionais, abordam emergências, autorizam a criação de órgãos setoriais e nomeiam o secretário-geral, entre outras atribuições.

O bloco é hoje composto por Brunei, Camboja, Laos, Indonésia, Malásia, Tailândia, Mianmar, Filipinas, Singapura e Vietnã. A entrada de Timor-Leste como 11º estado-membro está prevista para este ano e é considerada um passo simbólico importante, já que, com sua adesão, todos os países do sudeste asiático passarão a integrar a Asean.

O principal objetivo dos membros continua sendo alcançar a paz em escala regional, embora hoje o propósito da associação tenha se ampliado, com foco também na integração econômica, explica Lin.

“A Asean enfrenta desafios internos e externos. Internamente, há a crise de Mianmar, que é membro da organização e representa um conflito civil dentro da própria região. Também há disputas de fronteira, como entre Camboja e Tailândia, que pioraram nos últimos meses, e tensões no mar do Sul da China, nas quais é difícil adotar uma posição unificada”, diz.

Hoje, a cúpula conta com a presença de parceiros comerciais como o Brasil e os EUA, que tem o título de maior investidor estrangeiro na região.

Enquanto os americanos são um parceiro de diálogo pleno, com acesso a todas as reuniões, o Brasil é um parceiro de diálogo setorial, com acesso apenas a parte dos eventos e sem direito a participar do encontro que reúne os dez líderes dos países. Além dessas duas categorias, há ainda os parceiros de desenvolvimento, cuja cooperação é técnica.

A cúpula deste ano ocorre em um momento em que os países seguem pressionados pelas tarifas impostas por Trump. Assim, Lin avalia que o convite feito ao americano é uma forma de negociar como bloco, o que poderia gerar algum tipo de vantagem.

“Sempre vimos os Estados Unidos como defensores da ordem internacional baseada em regras e multilateralismo. Mas estamos decepcionados com a atual falta de interesse de Washington por fóruns multilaterais e pela própria Asean. O presidente prefere negociar bilateralmente, o que enfraquece o poder coletivo da região”, afirma Lin, que atuou no secretariado da organização por sete anos.