SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Parece um cenário de reality show, mas é uma instituição de ensino. Logo na entrada, o visitante é recebido por paredes de LED, estúdios coloridos, ring light por todos os lados e um banheiro digno de feed, toatlmente instagramável.
A reportagem foi conhecer a Community Creators Academy, apelidada de “Faculdade dos Influenciadores”, um ambiente parte estúdio, parte campus, localizado na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Durante o tour pelos corredores, é difícil decidir o que chama mais atenção: os mais de 200 cenários de gravação espalhados por um galpão de 14 mil m², ou a praia artificial que divide espaço com estúdios de beleza, academia, salas de podcast e auditórios.
A reportagem acompanhou de perto uma aula prática e conversou com alunos e professores que integram esse novo universo, em que o conteúdo para as redes é protagonista.
A ideia de criar uma universidade voltada à economia da influência veio do publicitário Fábio Duarte, fundador da Agência California, que firmou parceria com o grupo Ânima Educação, responsável pela Universidade Anhembi Morumbi.
Segundo ele, foram investidos cerca de R$ 40 milhões na estrutura. “Antes se exigia datilografar e dominar o pacote Office. Hoje, as novas habilidades são criação de conteúdo e inteligência artificial”, afirma.
Os cursos, com duração de seis meses, variam de R$ 25 mil a R$ 35 mil e são voltados tanto a criadores de conteúdo quanto a profissionais liberais. Eles não são reconhecidos pelo MEC (Ministério da Educação).
Médicos, advogados, arquitetos e dentistas dividem o espaço com influenciadores em ascensão e também entregadores de aplicativo que buscam transformar seus perfis em fonte de renda. “Hoje, 75% dos jovens querem ser influenciadores. E não existia, em nenhum lugar do mundo, uma faculdade voltada à formação dessa nova habilidade”, diz Duarte.
A reportagem também acompanhou uma aula do curso Creator+, voltado a quem já cria conteúdo e deseja transformar “influência em negócio”. Na tela, nomes conhecidos do mercado digital surgem como mentores convidados, entre eles Igor Coelho, do Flow Podcast.
“O objetivo é que o aluno entenda o conteúdo como negócio desde o início”, resume Gabriel Silva, professor e diretor de criação da instituição. “Não é só sobre ganhar seguidores, é sobre entender a própria audiência e criar valor a partir dela.”
Os professores explicam que o método de ensino da Community foge do modelo tradicional. “A gente acredita muito na prática”, complementa Breno Loyola, chefe do departamento educacional dos cursos. “Cada módulo termina com um desafio real proposto por marcas parceiras. Os alunos precisam criar campanhas, testar formatos e apresentar resultados. É um modelo figital mistura o presencial com a tecnologia.”
Entre as empresas parceiras estão YouTube, Spotify, Kwai, Ambev e Universal Music. Em pouco tempo, já surgiram histórias de sucesso: um aluno gravou uma música com a Universal; outro, com apenas 20 mil seguidores, faturou R$ 1 milhão no TikTok Shop após aplicar estratégias aprendidas nas aulas.
Mas o impacto da “faculdade dos influenciadores” vai além dos números. Rafaela Bacique, 36, jornalista e aluna do curso, conta que entrou para entender melhor o mercado, mas se surpreendeu com o ambiente.
“São estúdios, camarins e espaços que te convidam a criar o tempo todo”, diz. “Mesmo trabalhando há 13 anos com conteúdo, aprendo algo novo em cada aula. O contato com profissionais é o que faz diferença.”
Para ela, o espaço também ajuda a romper o estigma de que influenciador “não estuda”. “O curso mostra que existe técnica, estratégia e planejamento por trás do conteúdo. E isso precisa de formação.”
O campus também promove a integração entre alunos de diferentes áreas. Profissionais da saúde, do direito e da arquitetura aprendem sobre branding, storytelling, direito digital e ética, enquanto criadores desenvolvem planos de monetização e parcerias com marcas reais.
A reportagem percorreu o campus e acompanhou de perto o ritmo das aulas que mais parecem gravações de bastidores. Entre câmeras, roteiros e ideias surgindo a cada minuto, é possível entender que cada canto é um cenário em potencial.
“A criação de conteúdo é a nova habilidade universal”, afirma Duarte. “Assim como um dia a informática transformou o mercado, agora é a vez dos criadores.”