SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de São Paulo percebeu uma nova ameaça a adolescentes nas redes sociais. Nas últimas duas semanas, ao menos três meninos, de 12 e 13 anos, foram vítimas de golpes.
Eles conheceram supostas meninas por meio de uma plataforma de jogo, passaram a conversar e migraram a conversa para o Telegram. Lá, foram induzidos a encaminhar fotos íntimas. Depois disso, passaram a ser alvo de extorsão.
O caso chama a atenção porque geralmente são as meninas que são alvo deste tipo de crime, de acordo com o Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital da Polícia Civil), destinado ao combate a crimes que acontecem em plataformas digitais.
Porém, o mesmo modus operandi passou a ser observado em cries contra meninos nas últimas semanas. “Eles trocaram fotos íntimas com supostas meninas e, nessas fotos e vídeos, mostram inocentemente o rosto”, diz a delegada Lisandréa Salvariego, à frente do Noad.
Ela afirma que uma das vítimas fez transferências de cerca de R$ 2.000 mil. Os pais estranharam a movimentação financeira e foram investigar o que tinha acontecido. Na sequência, entraram em contato com a polícia. Salvariego afirma que os criminosos já foram identificados e a polícia trabalha para que a prisão deles seja decretada.
Um dos casos foi registrado na 16ª DP (Vila Clementino) como extorsão. Um jovem relatou ter baixado um aplicativo para encontrar pessoas interessadas em jogos online. No mesmo dia, começou a conversar com uma menina sobre um dos games, mas, logo, o diálogo se tornou íntimo.
A suposta menina mandou um vídeo em que não mostrava o rosto e solicitou uma imagem do menino. Ele mandou, também com a função de visualização única. Porém, logo soube que o vídeo foi gravado e recebeu prints das imagens. Assim como os perfis do seu Instagram e o da sua mãe, com dados como CPF e data de nascimento.
O menino então recebeu uma mensagem. O remetente se identificava um hacker e exigia o pagamento de R$ 1.000. Caso contrário, ameaça divulgar o vídeo com as imagens íntimas do jovem.
O criminoso disse ainda que o valor poderia ser parcelado. O menino realizou quatro transferências de R$ 200, dinheiro que foi solicitado para a mãe, que passou a estranhar os pedidos. Ela então o confrontou, e ele disse que tinha sido vítima de um golpe.
Criada em novembro de 2024, o Noad já foi responsável pela apreensão de ao menos 25 adolescentes e pela prisão de 17 pessoas que participavam e coordenavam crimes nas plataformas.
O núcleo realiza monitoramento 24 horas, principalmente no Discord e no Telegram. Hoje, há 742 alvos que são monitorados continuamente, com ao menos 162 vítimas identificadas, além de 107 acionamentos em outros estados.
Entre os casos que mais tiveram destaque foi o de Cayo Lucas, suspeito de ameaçar o influenciador Felca e a psicóloga Ana Beatriz Chamati após a divulgação do vídeo “Adultização”, que denunciava casos de exploração de crianças e adolescentes.
Como a Folha de S.Paulo já mostrou, o secretário de Segurança Pública paulissta, Guilherme Derrite, pretende transformar o Noad em uma delegacia.
“A violência nas redes saiu do patamar de responsabilidade de pais e virou um problema de polícia a partir do momento que uma organização criminosa foi formada, com lucros financeiros por trás dessas coações”, disse.