SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Presa durante a operação Última Fase, que investiga um esquema de fraudes em concursos públicos, a pernambucana Laís Giselly Nunes de Araújo, 31, prestou ao menos 14 seleções com suspeita de fraude, com três deles apenas em 2022, segundo a PF (Polícia Federal).
Nessa listagem não está incluída a última aprovação de Araújo, divulgada na última segunda-feira (6), para o cargo de auditor de controle externo na área de tecnologia da informação do TCE-PE (Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco), que oferece salário inicial de R$ 27.731,32.
Em relatório da PF, Laís é citada como líder na organização, atuando em parceria com seu namorado Thyago José de Andrade, na operacionalização das fraudes. A mãe dela, Erika de Matos Nunes, também é apontada como uma integrante do grupo, atuando na captação de interessados nas fraudes.
Em nota, a defesa da investigada diz que, em sua trajetória de vida, Laís sempre foi estudiosa e afirma que ela “não pode receber da mídia a condenação de fraudulenta, antes mesmo do trânsito em julgado do processo”. A defesa também diz que sua mãe não foi notificada pela PF ou pela Justiça Federal até o momento.
Em nota, a defesa técnica de Thyago de Andrade diz ter certeza da inocência e dos equívocos neste processo e afirma que, em momento oportuno, irá provar toda inocência do investigado.
O TCE-PE e a FGV, organizadores do último concurso em que ela foi aprovada, informaram que os passos seguintes do certame estão suspensos até que todos os fatos sejam esclarecidos. Afirmam também que estão tomando todas as providências cabíveis junto às autoridades policiais e judiciárias para proteger a integridade do concurso.
O cargo em que Araújo foi aprovada no TCE-PE tem uma carga horária de 30 horas semanais e oferecia apenas duas vagas de ampla concorrência. Para ser aprovada, a candidata precisaria demonstrar conhecimentos na área de TI (tecnologia da informação), além de possuir diploma de graduação em curso superior na área de tecnologia da informação.
A fraude investigada na operação envolvia acesso antecipado a provas, uso de ponto eletrônico para recebimento de respostas e utilização de documentos falsos para que outra pessoa, mais bem preparada, fizesse o certame no lugar do candidato.
Araújo também foi umas das classificadas para o cargo de AFT (Auditor-Fiscal do trabalho) na edição passada do CNU (Concurso Nacional Unificado), que tem remuneração inicial de R$ 22.921,71 e é um dos mais concorridos do certame e foi alvo de investigação da PF na operação Última Fase.
Apesar de ter sido aprovada no primeiro teste, ela não passou no curso de formação, segunda etapa do certame, que inclui duas provas e é obrigatória.
A análise da nuvem de dados vinculada ao celular de Araújo indica que, dentro da organização, ela era responsável por guardar arquivos de aprovações de envolvidos que serviam como “casos de sucessos” para mostrar para interessados que a fraude era possível.
No celular dela também foram encontrados documentos falsos que, segundo a PF, seriam usados para que outra pessoa realizasse provas de concursos públicos em nome de candidatos que teriam contratado a organização. Os arquivos indicam também que ela mantinha relação com ao menos oito dos investigados e que acompanhava de perto o andamento de processos judiciais e investigações sobre fraudes em concursos.
Atualmente, a suspeita é servidora pública da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), onde ocupa o cargo de técnica em assuntos educacionais. Em nota, a universidade diz que ainda não foi notificada, formalmente, sobre sua prisão. “O caso está sendo acompanhado pelas autoridades competentes e estamos à disposição para contribuir, no que for necessário. E, quando oportuno, a universidade tomará as medidas cabíveis, no âmbito administrativo”, diz a UFPE.
Segundo o inquérito da PF, ela também já foi aprovada em cursos de medicina e direito em universidades federais e no cargo de assistente de administração da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
No caso da fraude do CNU, a investigação da PF aponta que o gabarito dela era idêntico ao de outros participantes da organização, o que levantou suspeitas de acesso antecipado às provas e repasse de respostas durante o exame.