RIO DE JANEIRO, RJ, E BARCELONA, ESPANHA (UOL/FOLHAPRESS) – Torcedores gritando na porta do hotel e do campo de treinamento, em busca de fotos, autógrafos ou apenas um olhar dos jogadores da seleção brasileira.

Gente com camisas do time campeão mundial em 2002, com a 41 de Estevão no Palmeiras, a 7 de Vini Jr. no Real Madrid e uma profusão de uniformes da Premier League.

Os fãs sul-coreanos têm proporcionado um espetáculo que já foi comum, mas hoje em dia é cada vez mais raro: um frisson pela seleção brasileira que tem acontecido pouco nos últimos anos —com exceção feita aos jogos fora dos grandes centros, no próprio Brasil.

Na Ásia, a equipe mais vencedora da história das Copas do Mundo tem sido tratada como tal. É uma postura de respeito e veneração que não foi vista, nem nos últimos amistosos na Europa, nem durante a Copa América.

Na última década, os típicos torcedores que buscam contato com a seleção fora do país são brasileiros que vivem no exterior. Ainda assim, as manifestações são tímidas. Desde a Copa de 2022, a seleção saiu das Américas para jogar em Marrocos, Espanha (Barcelona e Madri), Portugal e Inglaterra.

Em nenhum deles houve o fenômeno de popularidade que acontece em Seul. Na Coreia do Sul, o perfil dos fãs é bem diferente: são torcedores locais, apaixonados pelo futebol brasileiro, que acompanham os jogadores na Europa e surpreendem até mesmo os atletas.

“É uma coisa incrível, ainda mais vindo de onde eu saí e estar recebendo esse carinho”, disse Estevão. O atacante do Chelsea, de apenas 18 anos, fará suas primeiras partidas fora do ambiente das Eliminatórias da América do Sul pela seleção.

RESPEITO CONSTRUÍDO

O fanatismo sul-coreano —e asiático, em geral— pela seleção brasileira tem origem no título da Copa do Mundo de 2002, que o país dividiu com o Japão, próxima parada da delegação.

O time que ganhou o quinto título mundial fez as três partidas da primeira fase na Coreia do Sul: venceu a Turquia na estreia (2 a 1) em Ulsan; depois, goleou a China por 4 a 0 em Seogwipo e a Costa Rica por 5 a 2, em Suwon. A partir das oitavas, a equipe de Luiz Felipe Scolari jogou em território nipônico.

“Pra falar a verdade, não lembro nada daquela Copa, porque tinha só três anos. Mas ter essa oportunidade de passar e ter esse caminho na Coreia e no Japão é importante para nós. Acho que dá uma força a mais pra gente seguir acreditando e evoluindo”, afirmou o goleiro Bento, em entrevista coletiva nesta semana.

A goleada contra a China, em 2002, foi a primeira partida do Brasil contra um asiático em Copas do Mundo, e o início de uma tradição de vitórias contra seleções do continente. Em 2006, a equipe comandada por Carlos Alberto Parreira goleou o Japão, por 4 a 1. Quatro anos depois, na África do Sul, o time de Dunga sofreu para superar a Coreia do Norte por 2 a 1.

O último duelo com um asiático em Mundiais foi no Qatar, justamente contra os sul-coreanos: vitória por 4 a 1, com uma boa exibição, a melhor do Brasil naquele torneio.

A ideia da excursão para a Ásia era confrontar duas escolas de futebol potentes do futebol do continente — depois, haverá duelos contra africanos, em novembro, e europeus, em março de 2026.

Só que um efeito colateral acabou sendo o contato com algo que a seleção brasileira há muito não sentia fora do Brasil: um calor humano que mostra que a maior vencedora da história das Copas ainda causa admiração e respeito.