SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vamos falar sobre trajetórias breves: a morte súbita da MP que aumentava impostos e o adeus da Reag à listagem na B3.

Também aqui: BTG e XP na berlinda por COEs arruinados pelo mau desempenho de Ambipar e Braskem e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (9).

**R.I.P AUMENTO DE IMPOSTOS**

O Congresso tinha até às 23h59 da quarta-feira para decidir sobre a medida provisória (MP) que aumentaria a incidência do Imposto de Renda (IR) sobre os rendimentos da maioria dos investimentos. A morte do projeto, no entanto, foi fulminante —já estava enterrado antes das 19h de ontem.

A Câmara aprovou por 251 votos a 193 um requerimento que retirou a MP da pauta de votação e derrubou a proposta, que perdia a validade ontem.

O sepultamento é uma derrota para o Lula, que vai precisar tirar outras cartas da manga para 2026.

PEDRA NO SAPATO

A decisão deve causar um bloqueio nas despesas de 2025, que incluem emendas parlamentares, e abrir um impasse de R$ 35 bilhões no PLOA (projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2026.

Para governistas, esse era justamente o plano de partidos do centrão e da bancada ruralista: restringir o espaço fiscal de Lula no ano em que ele deve buscar a reeleição.

ESNOBADA

A proposta foi recusada —na verdade, nem chegou a ser discutida— mesmo depois de várias concessões do governo. A ideia inicial era aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que incide sobre transações cambiais e outras da família dos investimentos.

Depois da queda da primeira proposta, a segunda versão saiu desidratada da comissão especial criada para desenvolvê-la. Foram derrubados pontos como o aumento da taxação das bets e a tarifação sobre títulos imobiliários e do agronegócio na tentativa de aumentar o apoio à medida. Não rolou.

Portanto, leitor, até o momento, nada mudou na tributação dos seus investimentos: LCIs, LCAs, CRIs e CRAs continuam isentos de IR, a cobrança sobre a maioria dos ativos permanece progressiva e não há mudança nos impostos sobre criptoativos.

ALERTA VERMELHO

A negativa contundente mudou a percepção de aliados de Lula, que citam um acirramento da oposição na Câmara. Eles avaliam que o revés é uma tentativa de limitar o orçamento do presidente para ações em ano eleitoral.

R$ 20,9 bilhões era quando a Fazenda previa arrecadar com a MP em 2026, valor que havia caído para R$ 17 bilhões após mudanças na comissão especial.

Agora, resta saber se o governo terá novas ideias que ampliem a arrecadação ou se a solução será um corte de gastos (indesejado por ele).

**BOM DEMAIS PARA SER VERDADE**

Velhos ditados existem por um motivo. Não é incomum que situações se repitam a perder de vista. O dito popular que rege a notícia de hoje é: “quando a esmola é muita, o santo desconfia”.

Nos últimos dias, investidores têm relatado perdas substanciais com COEs (Certificado de Operações Estruturadas) da Ambipar e da Braskem.

COE? O QUÊ?

Os Certificados de Operações Estruturadas são como caixinhas montadas por bancos, que podem combinar ativos de renda fixa e renda variável, sob qualquer proporção —taxas de juros, índices, ações, moedas.

O lado bom é que esses investimentos são uma operação pronta, empacotada para o cliente final, que não precisa observar métricas calculadas por investidores profissionais. Isto é, o investidor pessoa física pode se expor a mais tipos de ativos com menos dificuldade.

O lado ruim é que, diferentemente de fundos, a política de investimentos deles não é necessariamente clara ao investidor final. Além disso, mesmo que os COEs contem com alguma porcentagem de renda fixa, eles não são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito).

TÁ, MAS O QUE ACONTECEU?

O BTG Pactual e a XP Investimentos venderam COEs lastreados a títulos da Ambipar e da Braskem, duas empresas que, antes em bons momentos, agora passam por crises.

Os títulos que acarretaram perdas de mais de R$ 200 mil são certificados de crédito privado, lastreados em bonds (títulos de dívida dessas empresas emitidos no exterior, semelhantes a debêntures).

No começo do mês, tanto a Ambipar quanto a Braskem suscitaram dúvidas no mercado sobre a saúde das contas. Ambas tiveram imbróglios com empréstimos.

Quando a percepção da situação financeira das empresas piorou, o valor desses ativos no mercado caiu —melhor dizendo, despencou.

O preço das ações da Ambipar na Bolsa caiu 94,5% no último mês;

A queda da Braskem foi de 60% no último ano.

Há relatos de perdas de até 93% do valor investido em COEs lastreados às companhias. Tanto a XP quanto o BTG acionaram gatilhos que interrompem os ativos antes do vencimento previsto, devido à queda abrupta dos rendimentos.

DESCONFIANÇA

Os COEs ganharam visibilidade nos últimos anos em meio a uma onda de investidores que acionaram a Justiça contra suas corretoras depois de saírem no prejuízo. A aplicação é considerada complexa, com travas que impedem a retirada do dinheiro até a data de vencimento.

Ex-funcionários de corretoras disseram que sofriam pressão e ameaças para bater metas de venda de COE. Segundo eles, o produto rende uma das comissões mais vantajosas —tanto para o assessor quanto para o escritório— e a orientação era “empurrar” a aplicação para os clientes, independentemente do perfil de risco e dos objetivos patrimoniais de cada um.

Procurados pela Folha de S.Paulo, BTG e XP não comentaram.

**REAG, A BREVE**

O sonho da Reag Capital de ser uma empresa de capital aberto durou pouco: 8 meses e 10 dias. A gestora de investimentos, há algum tempo entre as maiores do país, despediu-se da bolsa de valores brasileira ontem, em meio a desdobramentos da megaoperação contra o PCC.

RECAPITULANDO

A empresa esteve entre os 350 alvos da Operação Carbono Oculto, de 28 de agosto, da Polícia Federal, Ministério Público de São Paulo e Receita Federal. Ela investiga a infiltração do grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital) no mercado financeiro formal.

A Reag Investimentos foi apontada como gestora de alguns fundos onde era alocado dinheiro de origem ilícita. A empresa negou a acusação, apontou que seu papel é gerir investimentos e disse não saber de que forma o cliente que a contrata obteve os recursos.

Do dia da deflagração em diante, a instituição passa por uma reorganização das empresas controladas pela holding Reag Capital.

A Reag Investimentos foi vendida para o Arandu, fundo formado pelos principais executivos da própria empresa.

Eles compraram a participação de João Carlos Mansur, fundador da companhia, que se afastou dela depois do escândalo.

A Ciabrasf, que tem R$ 340 milhões sob seu controle, foi vendida para a dona da corretora Planner.

COMEÇO DO FIM

Os acionistas da Reag Capital aprovaram o pedido de cancelamento voluntário do registro da empresa como companhia aberta perante a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

A solicitação foi definida ontem e teve efeito imediato: não é mais possível negociar ativos da companhia na Bolsa e ela passou a ter seu capital fechado. A justificativa dada pelos investidores é que a decisão faz parte de uma “estratégia de simplificação societária”.

A companhia era registrada na categoria B da CVM, isto é, podia emitir valores mobiliários (debêntures, notas comerciais, FIDCs, entre outros), exceto ações.

PELA PORTA DOS FUNDOS

A Reag passou a ser negociada na Bolsa a partir de uma operação chamada de “IPO reverso” ou “backdoor listing”. Ela comprou o controle da Get Ninjas, empresa que tinha o capital aberto desde 2021, e herdou a listagem. O ticker que era NINJ3 virou REAG3 em janeiro de 2025.

Vale a reflexão: empresas de capital fechado têm menos obrigações na prestação de contas do que companhias de capital aberto. Para uma empresa em crise deflagrada, como a Reag, pode ser benéfico reorganizar as operações a portas fechadas.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Voltando a ser doce. Depois de um ciclo de alta que durou dois anos, o preço do cacau despencou e é o menor em 20 meses.

apai, mamãe, titia. Uma família com três aprovados no CNU virou alvo da Polícia Federal por suspeita de fraude com gabarito que custou R$ 500 mil.

Offline. O Ministério da Justiça recomendou que marketplaces como Zé Delivery, Mercado Livre, Amazon e Americanas suspendessem a venda de destilados, após crise do metanol.

Fora do ar. Aeroportos dos EUA tiveram 10 mil voos atrasados em dois dias devido ao apagão das instituições federais.

Fecha o caixão. A Deloitte deu um ultimato ao Grupo VGB, dono de marcas como Siberian e Crawford, após pedir a falência da empresa. Só para a empresa de consultoria, que é a administradora judicial da RJ, o grupo deve R$ 3,3 milhões.