SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na noite desta quarta (8) que Israel e o Hamas aprovaram a primeira fase do acordo de paz proposto por Washington para o conflito em curso Faixa de Gaza há mais de dois anos. Segundo ele, o entendimento prevê a libertação de todos os reféns israelenses pelo grupo terrorista e a retirada das tropas de Tel Aviv para uma linha previamente acordada.

“Estou muito orgulhoso em anunciar que Israel e o Hamas assinaram a primeira fase do nosso plano de paz”, escreveu Trump na rede social Truth Social. “Isso significa que todos os reféns serão libertados em breve, e que Israel retirará suas tropas até uma linha combinada como primeiros passos em direção a uma paz forte, duradoura e permanente”.

Após o anúncio, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reagiu ao anúncio. “Com a ajuda de Deus, traremos todos para casa”, disse em uma breve declaração.

Mais cedo, o Hamas entregou uma lista de reféns e prisioneiros palestinos que poderiam ser trocados em uma permuta e disse estar otimista quanto às conversas em Sharm el-Sheikh, no Egito, para uma trégua.

Além de mencionar a troca, o grupo terrorista afirmou que as negociações focam os mecanismos para interromper o conflito e a retirada das forças israelenses de Gaza. Trata-se de uma avaliação aparentemente positiva das conversas sobre o plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump -o mais próximo que os diplomatas chegaram de silenciar as armas.

Em uma reunião do presidente com influenciadores conservadores, também nesta quarta, o secretário de Estado, Marco Rubio, entregou a Trump um bilhete. Segundo a agência de notícias AFP, o papel continha uma frase afirmando que um acordo para Gaza estava “muito próximo”. “Precisamos que você aprove uma publicação no Truth Social em breve para que possa anunciar o acordo primeiro”, dizia o texto. Após mais algumas perguntas, ambos saíram apressadamente da reunião.

Mais cedo, Trump já havia dito que poderá viajar ao Oriente Médio no próximo fim de semana para acelerar as tratativas entre as partes.

Apesar disso, pontos de discórdia se mantêm: Israel exige que o Hamas entregue as armas para encerrar a guerra, uma questão que, segundo um palestino próximo às negociações, a facção não se mostrou disposta a discutir. O cronograma de implementação da primeira fase do plano, aliás, não havia sido definido até esta quarta, afirmou essa mesma pessoa à agência de notícias Reuters.

Autoridades israelenses relataram à mídia local que a facção terrorista também forneceu informações sobre aproximadamente 20 reféns vivos e, segundo os oficiais, o grupo disse estar procurando alguns dos reféns mortos -Israel confirma a morte de 26 dos 48 ainda em Gaza.

Nos próximos dias, autoridades das outras partes envolvidas nas conversas devem começar a chegar à cidade turística egípcia. Nesta quarta, o genro de Trump, Jared Kushner, que serviu como enviado para o Oriente Médio durante o primeiro mandato do republicano, e Steve Witkoff, seu enviado especial, chegaram ao local, assim como o ministro de Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer (confidente do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu).

Estavam previstas ainda a chegada de representantes do Jihad Islâmico de Gaza (menor do que o Hamas, mas que também mantém reféns israelenses) e do xeque Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, primeiro-ministro do Qatar e mediador de longa data.

Outro participante será o chefe de espionagem da Turquia, Ibrahim Kalin, o que aponta para o aumento da relevância de Ancara nas negociações. Apesar da influência do país na Otan, a aliança militar ocidental, e de seus contatos próximos com o Hamas, Israel não o considerava anteriormente um mediador.

Nesta quarta, aliás, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que Trump pediu ajuda para persuadir o grupo terrorista a aceitar o acordo. Para ele, porém, o principal obstáculo para a paz é Tel Aviv. “A paz não é um pássaro com uma única asa. Colocar todo o fardo da paz sobre o Hamas e os palestinos não é uma abordagem justa, correta ou realista”, afirmou.

Mesmo que um grande avanço seja alcançado, porém, ainda não há uma indicação clara de quem governará Gaza quando a guerra terminar. Países árabes que apoiam o plano dizem que ele deve levar à eventual independência de um Estado palestino, o que Netanyahu diz que nunca acontecerá. Sabe-se, porém, que o premiê, assim como Trump e Estados ocidentais e árabes, descarta qualquer papel para o Hamas, que tomou o território em 2007 após uma breve guerra civil com seus rivais palestinos.

No lugar da facção, o plano do republicano prevê que um organismo internacional liderado por ele mesmo e com a participação do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair desempenhe um papel na administração de Gaza após a guerra.

Também nesta quarta, o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou que, embora genérico, o plano de Trump é a melhor proposta em discussão no momento. “É a melhor opção em termos de aceitabilidade árabe e ‘não rejeição’ por parte de Israel”, disse ele ao canal de televisão Russia Today. Em guerra contra a Ucrânia, Moscou tem feito afagos à gestão do republicano -Washington financia armamentos a Kiev.

Diante dos impasses, autoridades americanas sugerem focar as conversas inicialmente na interrupção dos combates e na logística de como os reféns israelenses em Gaza e os detidos palestinos em Israel serão libertados.

Na ausência de um cessar-fogo, Israel continuou com os bombardeios, embora tenha reduzido os ataques à Cidade de Gaza nos últimos dias, a pedido de Trump. Mesmo assim, de acordo com autoridades locais, Israel matou pelo menos oito pessoas em todo o território palestino em um período de 24 horas -o menor número de mortes relatado até agora na última semana.

A indignação global aumentou contra a ofensiva de Israel, que deslocou internamente quase toda a população de Gaza e desencadeou uma crise de fome devido ao seu bloqueio à ajuda humanitária. Vários especialistas em direito internacional, além de uma investigação da ONU, dizem que isso equivale a genocídio, o que Tel Aviv nega.

De acordo com autoridades de saúde do território, controlado pelo Hamas, ataques israelenses mataram mais de 67 mil palestinos nesse período -número considerado confiável pela ONU. A ofensiva foi uma resposta ao ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas, quando 1.200 pessoas foram mortas e 251 levadas para Gaza como reféns, segundo números de Israel.