SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta quarta-feira (8), com foco voltado à agenda de votações do Congresso Nacional e aos movimentos nos mercados internacionais.
Os investidores também aguardam a divulgação da ata da última reunião do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), prevista para 14h (horário de Brasília).
Às 12h36, a moeda norte-americana recuava 0,09%, cotada a R$ 5,345. Já a Bolsa avançava 0,5%, a 142.065 pontos.
A comissão mista da MP (medida provisória) que aumenta impostos aprovou na terça uma versão desidratada do texto, que poupa as bets (casas de apostas) da alta na tributação e mantém a isenção sobre rendimentos de títulos imobiliários e do agronegócio. Mesmo com todas essas concessões, a medida foi aprovada por apenas um voto de diferença.
O placar de 13 a 12 na comissão se deu após dias de negociação entre deputados, senadores e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao fim da votação, o relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), reconheceu que as concessões não foram suficientes para garantir ao governo uma margem mais confortável de votos.
Um dos sintomas do cenário desafiador é a agenda do Congresso: a votação no plenário da Câmara estava inicialmente prevista para a noite de terça, mas foi adiada para esta quarta, último dia de vigência da MP.
O cronograma é arriscado: será preciso obter a aprovação dos deputados, concluir o trâmite burocrático para remeter o texto oficial ao Senado e realizar a votação entre senadores nesta quarta. Se alguma etapa der errado, o texto perde validade, e o governo fica sem uma medida importante para sustentar a arrecadação em 2026, ano eleitoral.
A MP visa garantir ganhos de R$ 35 bilhões no próximo ano, afastando o risco de uma crise nas contas públicas.
A questão fiscal voltou a rondar as mesas de operação, sob temores de que o governo se proponha a gastar mais e, assim, revisar as metas fiscais do arcabouço.
Na terça, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a proposta de zerar a tarifa de ônibus deve integrar a campanha de reeleição do presidente Lula no próximo ano. Um estudo técnico sobre a viabilidade da medida está em andamento. “Nós estamos fazendo, neste momento, uma radiografia do setor a pedido do presidente Lula. Ele sabe que esse tema é importante para os trabalhadores, para o meio ambiente e para a mobilidade urbana”, disse Haddad.
A concomitância da tarifa zero com a MP dos impostos gera mal-estar no mercado e a dificuldade em torno da medida provisória adiciona mais duas preocupações aos investidores, segundo Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX;
“O governo terá mais dificuldade em atingir as metas do arcabouço fiscal, mesmo se a MP for aprovada, já que o texto, desidratado, abre mão de fontes de receita, como a tributação das bets. E a segunda preocupação é: se não passar, o governo mostra que não tem força para avançar suas pautas econômicas no Congresso e vai ter uma dificuldade ainda maior de conseguir atingir as metas”, avalia.
As preocupações com a pauta fiscal gera uma percepção de risco para os ativos brasileiros. Na véspera, a Bolsa fechou em forte queda de 1,56%; o dólar, em alta de 0,75%.
No exterior, a moeda está em mais um dia de ganhos ante o euro e o iene, diante das tensões políticas na formação dos novos governos na França e no Japão. Em relação a moedas emergentes, porém, o dólar apresenta fraqueza.
Como em um cabo de guerra, o cenário fiscal de um lado e o exterior de outro levam o mercado cambial a oscilar, deixando as cotações próximas à estabilidade.
À tarde, porém, o movimento pode pender para um dos lados. O Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) divulga a ata da última reunião de política monetária, onde o comitê optou por cortar os juros pela primeira vez no ano.
A ata pode dar pistas ao mercado sobre a continuidade, ou não, do ciclo de cortes. Mas a paralisação do governo dos Estados Unidos limita a visibilidade do mercado e do Fed, uma vez que as agências federais estão suspendendo as divulgações de relatórios sobre a economia até o financiamento normalizar.
O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, é uma das métricas mais importantes para o Fed e teve sua divulgação, antes prevista para sexta-feira passada, adiada indefinidamente.
À medida que a reunião de política monetária no final do mês se aproxima, marcada para os próximos dias 28 e 29, as autoridades do Fed continuam sem acesso às estatísticas essenciais para tomar uma decisão.
Na última reunião do banco central, em setembro, que reduziu a taxa dos EUA pela primeira vez no ano, a maioria das autoridades do banco central americano previu cortes de 0,25 ponto percentual nas reuniões deste mês e de dezembro.