SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sexo pode até ser um tema tabu, mas não no perfil de Beatriz Rangel, influenciadora e sexóloga que soma 7,4 milhões de seguidores com conteúdo sobre sexualidade e prazer feminino. Nas redes sociais, ela compartilha curiosidades, dicas de posições, movimentações para “destravar o quadril’, brinquedos eróticos e esclarece dúvidas de quem busca melhorar a vida sexual.

É tanta gente querendo ajuda de Bea, como é mais conhecida na internet, que ela já reuniu mais de 100 mil alunos em seus cursos como o “Treinamento de Sentada”, “Além do Orgasmo” e “Manual para Deixar Ele Louco na Cama”. O conteúdo, ela garante, é todo baseado em demandas das suas seguidoras desde que começou a abordá-lo, há 6 anos.

“Eu tinha um curso de inteligência emocional, mas como estava fazendo pós de sexologia humana, as minhas alunas começaram a pedir essas temáticas porque não tinha alguém da confiança delas que falasse abertamente sobre o tema”, explica a influenciadora, que é formada em psicologia.

O “Treinamento de Sentada”, seu curso mais popular, por exemplo, surgiu a partir de um vídeo viralizado no TikTok e, neste ano, está em sua quinta edição. Ele é renovado todo início de ano. “Entendi naquele vídeo que existia uma questão que eu poderia solucionar.”

Além de ser psicóloga e sexóloga, Rangel também foi professora de dança e usa de toda a sua experiência e formação no curso em que ensina 50 variações diferentes da “sentada”. Ela explica que não adianta ensinar apenas a movimentação: antes é preciso trabalhar a autoestima, sentir-se confortável com o próprio corpo e estar presente no momento.

Só depois entra a parte da sexologia, que questiona o quanto a mulher conhece sobre si mesma, para então chegar aos movimentos.

As aulas não têm nada de explícito, nem nas redes, que derrubam conteúdos classificados como sexuais, nem na plataforma dos cursos. Bea e o namorado, que participa das gravações, estão sempre de roupa. O foco, diz, é educar de forma descontraída. “Eu busco tirar a objetificação e construir parceria. Quero que a aluna me veja como aliada, que possa ver o curso com o namorado, se quiser.”

Devido às restrições do Instagram e do TikTok, metáforas são parte da didática. No curso “Como Usar as Mãos e a Boca”, por exemplo, o conteúdo vai aparecer como tarefas domésticas, numa “grande faxina”.

Apesar da temática, Bea afirma que hoje não recebe quase nenhum assédio em suas redes. “Mais de 90% do meu público é feminino e o resto é casal. A gente construiu uma rede tão forte que, se algum cara fala besteira, ele sai envergonhado”, afirma.

“É muito legal, porque entendo o tabu, o medo de ser uma mulher falando sobre sexualidade”, completa. Ela conta que sempre teve o apoio da família e dos amigos, o que tornou natural falar sobre sexualidade e lhe deu a rede de apoio necessária para começar a construir o trabalho que tem hoje.

“Ninguém nasce sabendo fazer tudo”, afirma Bea Rangel ao lembrar do início da sua trajetória. “Eu comecei a estudar sexualidade porque buscava respostas que ninguém sabia dar. Hoje eu sou a pessoa que gostaria de ter encontrado lá atrás.”

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Existe certo e errado na cama?

Eu defendo que não existe certo e errado na cama. O certo é o que faz sentido para você, o que te dá prazer. O errado é tudo aquilo que você faz só para agradar o outro, sem pensar em você. Está tudo bem em querer agradar, mas a base precisa ser o seu desejo. Errado é, por exemplo, alguém tirar a camisinha sem avisar. Isso é violação, não tem discussão.

Muitas pessoas encaram sexo como performance em que você tem que estar sempre sexy ou bonito. Como se livrar disso?

Fazendo o “errado”. No começo, é normal ficar corcunda, torta, meio desajeitada. O problema é quando a pessoa fica presa à ideia de estar “bonita” ou “sexy” o tempo inteiro, preocupada com barriga, cabelo, posição. Isso rouba a experiência. Quando você tá curtindo de verdade, o que importa é o prazer real, não o performático.

Como descobrir seus próprios fetiches?

Se abrindo para conhecer o universo. Ler livros, contos eróticos, consumir conteúdos na internet, observar o que te desperta desejo. Às vezes você vai perceber que aquilo funciona só como fantasia, fica no campo do imaginário. Outras vezes, vai querer trazer para prática. É muito importante a gente continuar estimulando a nossa libido, porque no campo sexual, tudo que é diferente, tendemos a reprimir. O importante é não se julgar e entender o que desperta seu desejo. O prazer que você nunca sentiu pode estar escondido em uma experiência que você nunca testou.

Pornografia é problemática?

Existe uma indústria problemática por idealizar corpos femininos e um sexo performático, que pode trazer um malefício. Mas hoje também temos mulheres produzindo seus próprios conteúdos, o que muda um pouco o cenário. É uma linha muito tênue e pode prejudicar relações reais, por exemplo, ao não sentir mais prazer com um parceiro porque está idealizando um corpo do pornô.

Pergunta clássica: o que casais podem fazer para sair da rotina?

Ampliar o repertório. A sexologia chama de “repertório pobre” quando a pessoa só transa de um jeito e isso acaba travando o prazer.

Como fazer isso?

Ampliar repertório é testar coisas novas, se tocar, pesquisar sobre o assunto e pensar mais em sexo. Às vezes, o sexo só está na rotina porque você só sabe fazer daquele jeito ou porque você tem um parceiro e funciona sempre dessa forma. Então se está funcionando, para que mudar? O problema é que daqui a dois anos pode já não estar funcionando mais e aí vira um problema. Então não espere virar uma questão e traga novidades aos poucos.

E quando bate a vergonha de falar sobre fantasias com o parceiro?

A maioria dos parceiros quer, sabia? Mas muitas mulheres travam por medo de serem vistas de forma pejorativa. O que eu indico é começar pequeno: comentar uma cena de filme, puxar a conversa sem aquele peso de “precisamos falar de sexo”. Existem casais que estão juntos há anos e nunca conversaram sobre sexo fora da cama. Então é ir aos poucos e buscar momentos propícios para falar sobre isso até você entender também o limite da outra pessoa.

Três dicas essenciais para vida sexual?

Primeiro: faça sempre o que te dá prazer. Segundo: nunca deixe de usar camisinha só para agradar o ego do parceiro. Terceiro: entenda que lubrificante e sex toys são aliados, não inimigos.

Para você, tem um item de sex shop indispensável para quem quer explorar essa área?

O bullet [um tipo de vibrador pequeno para a área externa da vulva]. Ele é pequeno, discreto, barato e poderoso. Cabe até no nécessaire, dá para usar sozinha, acompanhada, no corpo inteiro. É um negócio pequenininho que faz estragos, no bom sentido.

Tem equivalente para os homens?

Ainda falta opção, mas já existem coisas legais. O “ovinho” texturizado, por exemplo, é ótimo. Dá para combinar com um bullet na base também durante a masturbação. Esses masturbadores mais tecnológicos já estão chegando no Brasil, mas ainda não são tão acessíveis.