SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil registrou, até esta terça-feira (7), 17 casos confirmados de intoxicação por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas. As vítimas relataram sintomas depois do consumo de destilados, vendidos em garrafas de vidro.

Esses tipos de bebidas e de embalagens têm sido alvo de apreensões da polícia em bares suspeitos e fábricas clandestinas. A Polícia Civil chegou a apreender mais de 100 mil garrafas em São Paulo em um único local, nesta terça.

Bebidas enlatadas, por outro lado, ainda não apareceram relacionadas a nenhuma das confirmações —com a ressalva de que não foram divulgados os produtos consumidos antes dos sintomas em todos os casos.

A falsificação desse tipo de embalagem é mais difícil do que a de garrafas de vidro pelo custo alto, diz Antonio Cabral, coordenador da pós-graduação em engenharia de embalagem do Instituto Mauá de Tecnologia.

“Não é qualquer um que consegue piratear e falsificar latas de alumínio. Você só consegue fechar [as embalagens] tendo equipamento essencial, que custa muito caro e exige uma aprendizagem técnica aprofundada”, diz Cabral.

Segundo o engenheiro, os processos de envase (inserção do líquido na lata) e acondicionamento (proteção para evitar a deterioração) dependem de máquinas caras. O custo delas não faria sentido para os criminosos, já que as ações visam lucrar com a venda de produtos mais baratos que os verdadeiros.

A presença de gás em bebidas como cervejas e refrigerantes também dificulta a falsificação, diz o professor. “Para inserir o gás carbônico na lata e fechá-la, é preciso ter um equipamento específico. E se essa embalagem for violada, o gás é perdido e o produto também.”

No caso dos destilados, operações da Polícia Federal descobriram fábricas clandestinas com garrafas reutilizadas, tampas, selos e rútulos falsos, usados na reprodução.

Do ponto de vista químico, também é mais difícil adulterar a cerveja e o chope, diz o farmacêutico Rodrigo Catharino, doutor em ciência de alimentos pela Unicamp.

O pesquisador diz que a cerveja possui naturalmente uma concentração muito menor de metanol e menor risco de contaminação por essa substância, em comparação com bebidas destiladas: “Uma alta concentração de metanol em um grande volume de cerveja pode precipitar o produto, ou seja, deixá-lo estranho”.

No caso dos destilados, não é possível diferenciar o produto contaminado com metanol do original pelo cheiro, cor ou sabor. Isso porque o etanol e o metanol são moléculas muito similares.

Catharino explica que o metanol é um subproduto natural da fermentação alcoólica, gerado a partir da degradação da pectina, uma molécula encontrada em maior quantidade em frutas, especialmente nas cascas e polpas, como a uva usada no vinho. Já na cerveja, cereais como a cevada possuem uma quantidade muito baixa dessa substância, o que torna a formação natural de metanol praticamente irrelevante.

O professor diz ainda que “todo e qualquer produto nunca está livre de contaminação, tanto de origem química quanto microbiológica, mas os riscos são bem estudados e delimitados. Quando observadas as condições de boas práticas de fabricação, não importa se a produção é artesanal ou industrial —haverá segurança e níveis de risco controlados em relação ao metanol”.

O Brasil tem 17 casos confirmados e outros 200 em investigação de intoxicação por metanol após o consumo de bebida alcoólica, segundo informe do Ministério da Saúde desta segunda-feira (6).

O número inclui duas mortes confirmadas em São Paulo, além de outras 12 em investigação.

Das 217 notificações de intoxicação, o estado de São Paulo concentra 82,49% delas, com 15 casos confirmados e 164 em investigação. Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso descartaram os casos que estavam sob análise, segundo o ministério.