SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar sobe nesta terça-feira (7), com investidores atentos à votação da MP 1.303 no Congresso, que define medidas de compensação para o recuo na cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), e às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre tarifa zero no transporte público.

Às 13h57, a moeda norte-americana registrava alta de 0,64%, cotada a R$ 5,344. A movimentação acompanha o cenário internacional, com o índice DXY —que mede o desempenho da moeda americana ante outras moedas— em alta de 0,34%.

No mesmo horário, a Bolsa tinha forte queda de 1,69%, a 141.170 pontos, com as ações da MRV liderando as perdas do pregão após geração de caixa no 3º trimestre frustrar analistas.

O mercado acompanha às negociações envolvendo a MP 1.303, que busca compensar a revogação do aumento do IOF. A votação na comissão, que estava prevista para a manhã desta terça-feira (7), foi adiada para às 15h30.

Mais cedo, o relator da MP (Medida Provisória), o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) tirou da proposta o aumento de imposto sobre bets (casas de apostas).

Ele, no entanto, propõe um programa para tributar as bets que operaram no Brasil antes da fase de regulamentação –o Regime Especial de Regularização de Bens Cambial e Tributária (RERCT Litígio Zero Bets). A ideia é cobrar o imposto de forma retroativa, para evitar disputas judiciais.

Em entrevista, Fernando Haddad disse não acreditar que a medida provisória perderá validade e que as conversas para aprovar a medida estão bem encaminhadas.

“Eu acredito que a negociação está indo bem e sabendo a dose, que eu acho que está sendo bem administrada, vamos sair do outro lado numa situação melhor.”

Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o mercado financeiro apresenta volatilidade com a incerteza envolvendo a MP. “[Os principais motivos] são a questão fiscal e a votação da MP 1.303. O governo prevê perda de arrecadação e teria que compensar com a medida provisória, porém o aumento de cobranças está gerando desconforto”, diz.

Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o governo terá que aceitar concessões para aprovar a medida, e deve arrecadar menos do que esperava. “A arrecadação menor trará mais dificuldades para o governo se manter dentro do arcabouço, e isso piora a perspectiva fiscal brasileira”.

A MP foi publicada pelo governo Lula (PT) para compensar um recuo do Executivo na tentativa de aumentar o IOF. A previsão é de que a medida gere uma arrecadação para 2026 de R$ 17 bilhões, caso aprovada.

Os investidores também estão receosos com o debate envolvendo a tarifa zero de ônibus. Em entrevista nesta manhã, Haddad afirmou que a proposta deve integrar a campanha de reeleição do presidente Lula em 2026.

Segundo Haddad, um estudo técnico sobre a viabilidade da medida está em andamento. “Nós estamos fazendo, neste momento, uma radiografia do setor a pedido do presidente Lula. Ele sabe que esse tema é importante para os trabalhadores, para o meio ambiente e para a mobilidade urbana”, disse Haddad.

Para Mattos, da StoneX, o fato de o Ministério da Fazenda estudar a proposta aumentou a percepção de risco no mercado. “Há um temor de que o governo federal tente expandir gastos públicos antes das eleições de 2026, o que também poderia prejudicar a sustentabilidade da dívida nacional”, afirma.

Também nesta manhã, Haddad afirmou que espera se reunir com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, nesta semana. O ministro vai a Washington participar de reuniões do G20, do Banco Mundial e do FMI (Fundo Monetário Internacional).

“Pode ser que nós encontremos espaço para uma nova conversa com Scott Bessent”, afirmou durante entrevista no programa Bom Dia, Ministro, no Canal Gov. “Devo fazer até o final da semana um movimento para saber da disponibilidade, do interesse.”

Na segunda-feira (6), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump conversaram por telefone sobre economia e comércio.

Trump classificou o diálogo como “muito bom”, em postagem na rede Truth Social. “Teremos mais conversas e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei muito da ligação. Nossos países irão prosperar juntos!”, escreveu.

Ambos líderes concordaram em realizar uma reunião presencial em breve, e Lula sugeriu a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), no fim de outubro na Malásia, como uma opção. Lula também se colocou à disposição para viajar aos Estados Unidos.

Na ponta internacional, o mercado permanece atento ao ciclo de cortes de juros nos EUA. O shutdown do governo prejudica investidores, já que a divulgação de novos dados oficiais está suspensa. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para sexta-feira passada e foi adiado indefinidamente.

À medida que a reunião de política monetária no final do mês se aproxima, as autoridades do Fed estão sem acesso às estatísticas essenciais para tomar uma decisão.

Na última reunião do banco central, em setembro, que reduziu a taxa dos EUA pela primeira vez no ano, a maioria das autoridades do banco central americano previu cortes de 0,25 ponto percentual nas reuniões de outubro e dezembro.

O cenário de juros mais baixos nos EUA e de juros altos por aqui tende a fortalecer a renda variável brasileira, com a chegada de investidores estrangeiros.