SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar sobe no começo da tarde desta terça-feira (7), acompanhando o avanço da moeda norte-americana ante outras divisas no exterior, com investidores atentos às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
O mercado também permanece de olho na tramitação da MP 1.303 no Congresso, que define medidas de compensação para o recuo na cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Às 12h35, a moeda norte-americana registrava alta de 0,56%, cotada a R$ 5,339. A movimentação acompanha o cenário internacional, com o índice DXY que mede o desempenho da moeda americana ante outras moedas em alta de 0,30%.
No mesmo horário, a Bolsa tinha forte queda de 1,33%, a 141.697 pontos, com as ações da MRV liderando as perdas do pregão após geração de caixa no 3º trimestre frustrar analistas.
Em entrevista nesta manhã, Haddad afirmou que espera se reunir com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, nesta semana. O ministro vai a Washington participar de reuniões do G20, do Banco Mundial e do FMI.
“Pode ser que nós encontremos espaço para uma nova conversa com Scott Bessent”, afirmou durante entrevista no programa Bom Dia, Ministro, no Canal Gov. “Devo fazer até o final da semana um movimento para saber da disponibilidade, do interesse.”
Na segunda-feira (6), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump conversaram por telefone sobre economia e comércio.
Trump classificou o diálogo como “muito bom”, em postagem na rede Truth Social. “Teremos mais conversas e nos encontraremos em um futuro não muito distante, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Gostei muito da ligação. Nossos países irão prosperar juntos!”, escreveu.
De acordo com o Palácio do Planalto, Lula pediu para que Trump retirasse o tarifaço imposto ao Brasil e solicitou a suspensão de “medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras”. Ainda segundo o Planalto, Trump escalou seu secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às negociações sobre o tema.
Ambos líderes concordaram ainda em realizar uma reunião presencial em breve, e Lula sugeriu a cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), no fim de outubro na Malásia, como uma opção. Lula também se colocou à disposição para viajar aos Estados Unidos.
Na segunda-feira (6), o dólar fechou em queda de 0,49%, a R$ 5,310, e a Bolsa recuou 0,41%, a 143.608 pontos.
O mercado também permanece atento às negociações envolvendo a MP 1.303, que busca compensar a revogação do aumento do IOF.
Em entrevista, Fernando Haddad disse não acreditar que a medida provisória perderá validade e que as conversas para aprovar a medida estão bem encaminhadas.
“Eu acredito que a negociação está indo bem e sabendo a dose, que eu acho que está sendo bem administrada, vamos sair do outro lado numa situação melhor.”
A MP precisa ser aprovada pelos plenários da Câmara e do Senado até quarta-feira (8) para não perder a validade.
Relator da MP (Medida Provisória), o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) tirou da proposta o aumento de imposto sobre bets (casas de apostas), diante de resistências dentro da própria base aliada.
Ele, no entanto, propõe um programa para tributar as bets que operaram no Brasil antes da fase de regulamentação o Regime Especial de Regularização de Bens Cambial e Tributária (RERCT Litígio Zero Bets). A ideia é cobrar o imposto de forma retroativa, para evitar disputas judiciais.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o mercado financeiro apresenta volatilidade por causa da MP. “[Os principais motivos] são a questão fiscal e a votação da MP 1.303. O governo prevê perda de arrecadação e teria que compensar, porém o aumento de cobranças está gerando desconforto”, diz.
Para Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, o governo deve aceitar concessões para aprovar a medida provisória. “A arrecadação menor trará mais dificuldades para o governo se manter dentro do arcabouço, e isso piora um pouco a perspectiva fiscal brasileira”.
Também nesta manhã, Haddad afirmou em entrevista à Record que a proposta de tarifa zero no transporte público deve integrar a campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026.
Segundo Haddad, um estudo técnico sobre a viabilidade da medida está em andamento por determinação de Lula.
“Nós estamos fazendo, neste momento, uma radiografia do setor a pedido do presidente Lula. Ele sabe que esse tema é importante para os trabalhadores, para o meio ambiente e para a mobilidade urbana”, disse Haddad.
Para Mattos, da StoneX, o fato de o Ministério da Fazenda estudar a proposta aumentou a percepção de risco entre investidores. “Há um temor de que o governo federal tente expandir gastos públicos antes das eleições de 2026, o que também poderia prejudicar a sustentabilidade da dívida nacional”, afirma.
Na ponta internacional, mercado permanece atento ao shutdown do governo norte-americano. A paralisação do governo limita a visibilidade dos agentes, já que a divulgação de novos dados oficiais está suspensa. O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, estava previsto para sexta-feira passada e foi adiado indefinidamente.
Investidores acompanham os dados com atenção pois eles podem sinalizar a continuidade do ciclo de cortes de juros na economia americana. Juros mais baixos nos EUA e a perspectiva de juros altos por aqui tendem a aumentar o ânimo na renda variável brasileira, com a chegada de investidores estrangeiros.
A agenda da semana é relativamente leve, mas pode sinalizar os próximos passos do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
“Destaque para as expectativas de inflação do Fed de Nova York na terça-feira, a divulgação da ata do Fed na quarta e o índice de confiança do consumidor da Universidade de Michigan na sexta. Dirigentes do Fed discursam, entre eles [o presidente] Jerome Powell, o que pode trazer pistas sobre a política monetária”, afirma.