SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Por trás do Audax que surpreendeu e foi finalista do Paulista com Fernando Diniz, Sidão, Tchê Tchê e Camacho em 2016 estava o advogado Ricardo “Rico” Moreira. Hoje, nove anos depois, o brasileiro é a mente por trás do Orlando City, o principal rival do Inter Miami, time de Messi, na MLS (liga de futebol dos Estados Unidos).
DE JOGADOR FRUSTRADO A HOMEM FORTE NA MLS
Ricardo Moreira tentou ser jogador, mas não deu certo. A falta de oportunidades fez com que ele decidisse estudar direito. Como advogado, passou a atuar na área esportiva.
Ex-cliente de Ricardo Moreira, o Audax foi a porta de entrada dele na gestão esportiva. Ele foi o responsável por tomar decisões em um clube que disputava divisões inferiores do Paulistão e que não tinha o mesmo poder de mercado dos rivais.
O trabalho chamou a atenção de Gregg Berhalter, então técnico do Columbus Crew, da MLS, que decidiu visitar o Audax. A conexão foi imediata: Ricardo começou a trabalhar como scout, ajudando o clube em solo brasileiro entre 2014 e 2015.
A ida em definitivo para o Columbus Crew deixou Ricardo de fora da campanha que terminou com o vice do Paulistão para o Audax. Mesmo de longe, ele acompanhou o sucesso do time que ajudou a montar ao longo do ano anterior e usou os aprendizados para crescer nos Estados Unidos.
“O Audax já era um clube-empresa àquela altura. Trabalhar nessa realidade, entender como funciona trabalhar para alguém que investe no clube para ter resultado esportivo e financeiro me deu as bases para trabalhar nos Estados Unidos. Todos os clubes na MLS, assim como na NBA e na NFL, são empresas com fins lucrativos”, afirma Ricardo à reportagem.
Ricardo teve sucesso no Columbus Crew e chegou ao Orlando City no final de 2018. Ele foi contratado como diretor-técnico e de scout em um clube em que o dono era o brasileiro Flávio Augusto e o CEO, Alex Leitão, também.
O brasileiro ganhou estabilidade e foi promovido a General Manager, função similar à de presidente de futebol, neste ano. Aos 58, ele é o mais novo a ocupar o cargo em toda a liga atualmente. A avaliação dos sete anos no clube até aqui é positiva.
“[Até 2018] O Orlando nunca tinha se classificado para os playoffs, sido protagonista. Sete anos depois, é o único clube da MLS a se classificar seis vezes consecutivas aos playoffs. Ano passado fomos finalistas da conferência, perdemos em casa para o Red Bull. Em 2022, fomos campeões da Copa dos Estados Unidos. O projeto de performance de futebol aqui tem sido muito positivo. Somos protagonistas do mercado também, comprando e vendendo jogadores”, diz Ricardo.
RIVALIDADE BRASIL X ARGENTINA COM TIME DE MESSI
A chegada de Messi revolucionou o Inter Miami. O time, que está na MLS há pouco tempo, é do estado da Flórida, assim como o Orlando City, e agora tem uma “legião” de jogadores argentinos contratados após a chegada do astro.
Mais do que a rivalidade local, Ricardo quer transformar a disputa com o Inter Miami em um Brasil x Argentina. O Orlando City tem planos para atrair talentos brasileiros.
“Nossos vizinhos aqui de Miami [Inter Miami] são bastante barulhentos […] O Orlando City quer se posicionar como um clube de destino de jogadores brasileiros. A conexão da cidade de Orlando com o mercado brasileiro é natural.
A quantidade de brasileiros que vivem aqui, que passam para visitar a Disney, a Universal Studios é algo absolutamente gritante, e a gente tem que se aproveitar disso. O fato de que eu estou no clube obviamente também ajuda, porque as conexões com o futebol brasileiro acabam sendo mais naturais com os agentes do mercado”, afirma.
Atualmente, o Orlando City não tem nenhum jogador brasileiro no elenco. O clube já teve nomes como Kaká, Alexandre Pato e Júnior Urso. No time feminino, o Orlando Pride, Marta é a grande estrela.
Internamente, Ricardo e seus comandados tentam quebrar os preconceitos que a MLS enfrenta. Eles tentam mostrar que a liga é uma porta de entrada para atletas brasileiros no exterior, e não um refúgio para grandes estrelas em reta final de carreira.
“A gente tem mil exemplos de jogadores sul-americanos que vieram para a MLS antes de ir para outros mercados. A liga se posicionou como um mercado como o de Portugal: do primeiro passo do jogador sul-americano fora do seu país, aprendendo uma cultura nova, línguas novas e aprendendo a se adaptar a uma outra realidade de futebol, antes de dar o segundo passo”, afirma Ricardo.
PLANOS PARA SER CASA DA SELEÇÃO
Ricardo Moreira trabalha para tornar as instalações do Orlando City em uma das casas da seleção brasileira na Copa do Mundo do ano que vem. O Brasil chegou a utilizar propriedades do clube durante a Copa América do ano passado.
As conversas acontecem, mas um desfecho positivo depende do sorteio da Copa. O evento, que será realizado em 5 de dezembro, definirá por onde o Brasil vai passar ao longo do Mundial existe a possibilidade de a seleção jogar no Canadá ou no México, além dos EUA.
“A gente tem um pouquinho de Brasil nos Estados Unidos”, diz o advogado.
O Orlando City também quer receber um dos amistosos preparatórios da seleção. A CBF planeja enfrentar dois adversários do top-10 do ranking da Fifa em solo estadunidense.