BRASÍLIA, DF E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Uma ala do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lideranças do setor privado receberam com preocupação a indicação do secretário de Estado, Marco Rubio, como o responsável por negociar o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos contra o Brasil.
O chefe da diplomacia americana é considerado alguém com forte viés ideológico e que faz oposição ferrenha à esquerda latino-americana, principalmente aos regimes da Venezuela e de Cuba.
Sua escalação também pode indicar, segundo interlocutores, que os americanos tentarão colocar na mesa de negociação temas de alta sensibilidade política, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e ações de regulação de redes sociais que os EUA veem como censura.
Apesar dessa avaliação, auxiliares de Lula diretamente envolvidos nas conversas em curso com Washington apostam que prevalecerá o pragmatismo de Donald Trump e que Rubio cumprirá a orientação que receber da Casa Branca.
O secretário de Estado foi designado por Trump para dar sequência às tratativas com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda).
Uma fonte com conhecimento das tratativas destaca que Rubio é um profissional da política e que ele já teve relação com diferentes interlocutores brasileiros, inclusive com o ministro Mauro Vieira -o atual chanceler era embaixador em Washington quando o americano exercia mandato no Senado.
Neste ano, com a crise bilateral já instalada, Rubio e Vieira tiveram uma reunião no fim de julho, em um escritório de advocacia em Washington. Depois, se falaram ao menos em duas ocasiões por mensagem.
O principal para a gestão Lula, segundo essa fonte, era que Trump indicasse um interlocutor oficial para as tratativas com o Brasil, o que ocorreu. Isso deve dar mais liberdade para que as equipes dos dois governos dialoguem.
Outro interlocutor do governo ouvido pela reportagem avalia que Rubio foi escolhido por Trump porque a negociação com o Brasil transcende a discussão sobre temas econômicos e considera que há espaço para uma negociação construtiva.
Desde que os americanos sinalizaram a Brasília que estavam dispostos a iniciar conversas sobre o tarifaço, os contatos bilaterais foram mantidos em sigilo.
O principal interlocutor do lado brasileiro tem sido o vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula as funções de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Em menos de uma semana, ele teve duas reuniões com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
Lula e Trump tiveram uma conversa telefônica na manhã desta segunda-feira (6).
Trata-se do primeiro contato desde a breve conversa entre os dois na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York.
Na ocasião, Trump disse em seu discurso que houve excelente química com Lula. O petista, por sua vez, afirmou em coletiva de imprensa que o republicano havia recebido informações erradas sobre o Brasil e que havia sido uma surpresa boa a referência de Trump à química entre eles.
Sob Trump, o governo dos Estados Unidos impôs um tarifaço de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, com exceções para setores estratégicos, como o de aviação -nesse caso, sujeito a uma sobretaxa de 10%.
Quando anunciou a imposição do tarifaço, Trump justificou a medida pelo que considera uma caça às bruxas contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado.
As sanções contra o Brasil -que incluíram punições financeiras ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, e a cassação de vistos de autoridades- foram impulsionadas pela atuação do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os Estados Unidos.