Da Redação

Um café reservado entre os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG), realizado no Palácio dos Bandeirantes na última semana, reacendeu a disputa pelo protagonismo dentro da direita brasileira. O encontro, embora tratado como “institucional”, foi interpretado nos bastidores como uma movimentação estratégica de olho nas eleições presidenciais de 2026.

Tarcísio insiste publicamente que sua prioridade é buscar a reeleição em São Paulo, mas sua proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alimenta rumores de que ele possa ser o nome escolhido para disputar o Planalto com apoio do bolsonarismo. Zema, por sua vez, evita se comprometer e diz que é cedo para falar de uma chapa nacional, embora demonstre sintonia política com o paulista.

Nos bastidores de Brasília, há expectativa de que Bolsonaro anuncie até novembro o apoio formal a Tarcísio — gesto que pode praticamente inviabilizar as pretensões do governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil), que tenta se firmar como alternativa dentro do campo conservador.

O cientista político Lehninger Mota avalia que uma eventual aliança entre Tarcísio e Zema teria forte impacto eleitoral. “São Paulo e Minas concentram o maior número de eleitores do país. Uma dobradinha entre os dois seria, no mínimo, simbólica e estrategicamente poderosa”, explicou. No entanto, ele ressalta que a decisão final sobre candidaturas na direita ainda depende de Bolsonaro. “Ele continua sendo o fiador desse grupo. Tarcísio pode ter prestígio, mas é Bolsonaro quem dita o ritmo.”

Enquanto isso, Caiado perde espaço. Mota observa que o governador de Goiás enfrenta dificuldades para manter o próprio partido unido em torno de sua pré-candidatura. “Há figuras de peso, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que já se movimentam para ocupar espaço ao lado de Tarcísio. Mesmo com o apoio formal do União Brasil, é improvável que Caiado consiga consolidar um projeto nacional”, afirmou.

Para o cientista, o goiano teria dois caminhos possíveis: buscar uma legenda menor para disputar a Presidência ou tentar uma vaga no Senado. “Caiado é um político ativo, e dificilmente ficará sem mandato. A tendência é que ele se reposicione no jogo político”, completou.

Outro fator decisivo é o desempenho do governo Lula (PT). Mota acredita que a recente melhora na avaliação do presidente influencia as estratégias da direita. “O recuo de Tarcísio ao afirmar que só pensa na reeleição é, na verdade, uma forma de evitar desgaste antecipado. Ele deve ser lançado no momento certo, quando o cenário estiver mais favorável.”

Já o especialista em marketing político Luiz Carlos Fernandes tem uma leitura cética sobre os efeitos de uma união entre Tarcísio e Zema. “Pesquisas recentes mostram que, mesmo com a direita unificada, Lula ainda sairia vitorioso. A base do ex-presidente continua sólida, e a falta de um nome com apelo nacional pesa muito”, argumentou.

Fernandes acrescenta que, com Bolsonaro inelegível, o grupo enfrenta um vácuo de liderança. “Nem Tarcísio nem Zema conseguem reproduzir o carisma e o poder de mobilização de Bolsonaro. Nesse cenário, até Eduardo Bolsonaro teria mais potencial eleitoral do que os dois juntos”, disse.

Entre cálculos e incertezas, o quadro que se desenha é de uma direita fragmentada e em busca de rumo. “A eleição de 2026 já parece encaminhada. Parte da direita começa a aceitar que o foco deve ser o Congresso, não o Planalto”, conclui Fernandes.