SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Duas onças-pardas (Puma concolor) foram filmadas em uma interação pouco incomum. Os felinos aparecem na gravação vocalizando entre eles, na Rebio (Reserva Biológica) União, na região do município de Rio das Ostras (RJ).
Para a equipe da reserva, as imagens e os sons captados por câmeras de monitoramento ambiental são objetos de estudos para a ciência, pois ajudam a entender aspectos do comportamento social desses animais considerados ameaçados de extinção.
Gisela Carvalho, chefe da Rebio, destaca que este foi o primeiro registro da “conversa” entre as onças-pardas no local. O vídeo foi gravado em junho deste ano e divulgado nesta segunda (6). Seus gêneros não foram identificados, nem foi possível saber se eram casal ou da mesma família.
Segundo ela, o registro do vocalizar simultâneo pode indicar interação reprodutiva e territorial. A presença desses animais, diz ela, fornece ainda pistas sobre a densidade populacional e a qualidade do ecossistema.
“Essa vocalização pode ter vários significados. Quando os felinos vocalizam, pode ser um chamado de mãe para filhote, pode ser uma mensagem entre eles, ou até algo relacionado ao acasalamento”, explicou.
O registro ocorreu no âmbito de um programa de monitoramento da fauna, que utiliza câmeras específicas para estudar a presença e o comportamento da vida silvestre em seu habitat. Os equipamentos foram cedidos pela Vale, em parceria com a gestora da Rebio, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Originalmente, a área pertencia a Fazenda União e tinha cerca de 2.100 hectares de mata atlântica, o restante era de plantação de eucaliptos e pastagens, que atendia, no passado, a Rede Ferroviária Federal. Da área original, já foram recuperados cerca de 300 hectares.
Com o fim da estatal de ferrovias, em 1999, as áreas foram cedidas para Rebio, que veio a se chamar Rebio União. Com a ampliação da Rebio União, em 2017, foram adicionadas todas as áreas de mata das propriedades do entorno.
“Naquela época, a sociedade de pesquisadores e ambientalistas se manifestou para preservar a fazenda por causa da viabilidade da população de mico-leão-dourado [Leontopithescus rosalia], que tinha naqueles fragmentos. E aí virou uma reserva biológica”, disse Carvalho.
“Atualmente, a Reserva preserva cerca de 7.756 hectares de mata atlântica. Toda essa extensão de floresta nativa permite que as onças-pardas tenham qualidade ambiental para se reproduzirem e manifestarem seu comportamento natural”, completou.