Da Redação

A aprovação unânime do projeto que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil mensais reacendeu o otimismo no Congresso em torno de outras pautas consideradas populares. Entre elas, ganha força a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que busca acabar com a tradicional escala 6×1, modelo que garante apenas um dia de folga por semana aos trabalhadores.

A movimentação ocorre em um momento de alta pressão política e popular. Analistas apontam que a votação do IR foi impulsionada não apenas pelo impacto social da medida, mas também pelo receio de desgaste eleitoral entre os deputados. Votar contra um tema tão bem recebido pela população poderia custar votos em 2026.

Para o cientista político Lehninger Mota, o sucesso da proposta do IR deu novo fôlego ao governo. “O Planalto vinha sem conseguir emplacar projetos de grande apelo. A isenção do IR virou um ponto de virada — agora, o fim da escala 6×1 aparece como o próximo passo para consolidar uma agenda popular”, explica.

A ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, compartilha do otimismo e acredita que a proposta pode seguir o mesmo caminho da isenção fiscal. “O tema está amadurecendo. Assim como o Imposto de Renda era tratado como um tabu, a escala 6×1 também começa a ser vista de outra forma. Acredito que o desfecho será semelhante”, afirmou.

Impactos sociais e trabalhistas

Defensora da proposta, a deputada Adriana Accorsi (PT) critica a carga horária atual, classificando-a como “desumana” — especialmente para as mulheres. “A jornada 6×1 rouba o tempo de descanso e o convívio familiar. Muitas mulheres ainda enfrentam dupla jornada ao cuidar da casa e dos filhos. É uma sobrecarga injusta”, afirma.

Na mesma linha, o deputado Rubens Otoni (PT) defende que a flexibilização da jornada traria benefícios diretos à saúde mental dos trabalhadores. “Mais tempo livre significa mais espaço para estudar, conviver com a família e investir no próprio bem-estar”, avalia.

Resistência e críticas

Apesar do apelo popular, o tema enfrenta resistência em setores empresariais e dentro do próprio Congresso. O deputado Ismael Alexandrino (PSD-GO) considera a proposta arriscada para o equilíbrio do mercado de trabalho. “A CLT já permite acordos flexíveis entre empregado e empregador. Acabar com a escala 6×1 pode prejudicar a sustentabilidade dos empregos e gerar insegurança jurídica”, argumenta.

Enquanto o governo tenta capitalizar o clima favorável após a vitória do IR, o debate sobre a jornada de trabalho promete dividir o plenário. Resta saber se o mesmo impulso popular que garantiu isenção fiscal será suficiente para alterar uma das estruturas mais tradicionais do mercado de trabalho brasileiro.