SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O banco na sala de espera do 47° DP (Capão Redondo), na estrada de Itapecerica, na zona sul de São Paulo, nem esfria e alguém já se senta novamente para relatar aos policiais mais um roubo ocorrido na região.
Distante cerca de 30 km da praça da Sé, marco zero da capital paulista, a delegacia foi a que mais registrou roubos entre janeiro e agosto deste ano, dentre os mais de 90 distritos policiais espalhados pela cidade.
Foram 2.589 notificações do crime no período, segundo dados divulgados pela SSP (Secretaria da Segurança Pública) 6% a menos do que nos meses correspondentes de 2024. O Capão Redondo teve o segundo agosto com mais roubos desde 2001, quando teve início a série histórica, com 438 ocorrências.
A alta de roubos no bairro vai na contramão da tendência na capital paulista, onde os registros do crime caíram de 78,2 mil em 2024 para 68,2 mil neste ano menor patamar dos últimos 25 anos, de acordo com a SSP.
Policiais ouvidos pela reportagem afirmam que os criminosos do Capão Redondo têm entre 18 e 20 anos, são violentos e não temem punição do crime organizador por praticarem roubos na periferia.
Os ladrões, que antes preferiam agir longe de casa em áreas consideradas nobres ou próximas ao centro, agora atacam perto de onde residem, explicam os agentes. Celulares e alianças são os alvos prediletos dos criminosos, que já contam com uma rede de receptadores.
A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), por meio da SSP, afirma não ser recomendável a comparação entre distritos policiais, pois diversos fatores podem influenciar os índices de roubos e furtos em cada região, como sazonalidade, número de moradores, fluxo de pessoas, entre outros aspectos.
A pasta acrescenta que os índices criminais são monitorados de forma constante pelas forças de segurança do estado. A Polícia Militar atua no reforço no policiamento ostensivo em pontos estratégicos, com base na análise dos indicadores e no mapeamento das chamadas manchas criminais. A Polícia Civil, na identificação e prisão de reincidentes, com investigações conduzidas tanto por delegacias especializadas quanto pelas distritais (unidades de bairros).
Para tentar fugir dos roubos, os moradores da região têm evitado caminhar pelas vias sozinhos a pé, contando com a companhia de parentes ou até formando pequenos grupos para percorrer curtas distâncias.
A equina da rua Ellis Maas, nas proximidades da estação Capão Redondo da linha 5-lilás, tornou-se um ponto de encontro. Ali, os passageiros que desembarcam do metrô ou de ônibus são aguardados por parentes ou amigos. A presença de uma banca de jornais, uma igreja e um carrinho de tapioca garante a frequente circulação de pessoas no local, aumentando a sensação de segurança.
Na última quinta-feira (2), o avaliador de veículos Iverson Melo Ribeiro, 28, aguardava o pai para acompanhá-lo na volta para casa. Ele conta nunca ter sido vítima de tentativa de assalto, mas relata ter presenciado diversos crimes.
“Vi cara colocando um revólver em duas pessoas que estavam no carro e até roubando celular da mão de mulher na rua e sair correndo”.
Já Leandro Silva de Souza, 35, busca a mulher, Thais Akemi Rodrigues, 33, todos os dias na estação para que ela não siga sozinha para casa. Eles explicam que isso virou rotina após ouvirem relatos de conhecidos e presenciarem assaltos.
A doméstica Ana Geralda, 55, aguarda o marido buscá-la no ponto de encontro diariamente também. “A gente fica com medo. Olha para pessoa, se ficar olhando demais, a gente já fica desconfiada. Infelizmente, é a rotina aqui do Capão”, diz. Além da companhia do marido, ela relata que só tira o celular da bolsa ao andar pelo bairro em caso de urgência.
Segundo policiais da região, os alvos costumam ser pessoas que caminham sozinhas até pontos de ônibus, principalmente pela manhã, quando muitos dos criminosos saem de bares ou pancadões e cometem os crimes.
“Já assaltou na frente da minha casa e era meio-dia. Assaltou em outra ocasião e era de madrugada. Não tem horário mais”, desabafa a assistente administrativo Taís Rodrigues Braga, 40, que também aguardava companhia para voltar para casa.