SÃO PAULO, SP E BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – José Luis Espert, o principal candidato a deputado nacional pela província de Buenos Aires, na Argentina, renunciou à candidatura neste domingo (5). Espert anunciou a decisão publicando uma carta em sua conta no X, na qual ele afirma que o presidente Javier Milei, que apoiava sua candidatura, aceitou a renúncia.

O grupo político de Milei vivia uma crise pré-eleitoral após a divulgação na noite de quinta-feira (2), pelo jornal La Nacion, de um extrato do Bank of America apontando que Espert, candidato do partido governista A Liberdade Avança, recebeu US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) de Fred Machado, um suspeito de envolvimento com narcotráfico que é investigado nos Estados Unidos.

A província de Buenos Aires é o maior colégio eleitoral do país, com cerca de 14 milhões de pessoas habilitadas para votar. Em setembro, o grupo político de Milei sofreu uma derrota nas eleições legislativas locais, ficando 13 pontos atrás dos peronistas liderados pelo governador Axel Kicillof.

No dia anterior à divulgação, Espert se negou a dizer a jornalistas em um programa de TV se recebeu os dólares de Machado. Depois, publicou um vídeo em suas redes sociais admitindo ter recebido pagamentos da empresa de mineração Minas del Pueblo, da Guatemala e associada a Machado, e afirmando que os valores estavam relacionados ao seu trabalho como consultor econômico.

“Esta é uma operação claramente orquestrada por um sistema que destruiu a Argentina por décadas e sustentada por um impiedoso julgamento midiático contra minha pessoa, ao qual não continuarei me prestando”, disse Espert na carta de renúncia.

“Diferentemente daqueles que, a cada campanha eleitoral, utilizam as mesmas armas, eu não tenho nada a esconder e demonstrarei minha inocência perante a Justiça, sem foros nem privilégios. O tempo demonstrará que tudo isso foi uma grande mentira para sujar este processo eleitoral e assim evitar discutir o que os argentinos temos que fazer para mudar o rumo do nosso país.”

“O processo de mudança profunda que estamos realizando é a única coisa que importa. Não vamos permitir que uma operação maliciosa o coloque em risco”, escreveu Javier Milei no X ao criticar o que considera uma acusação contra Espert liderada pela oposição e em tom eleitoral.

A saída de Espert, 20 dias antes das eleições, vai marcar uma guinada na estratégia eleitoral dos mileístas, que estavam escondendo o candidato nas últimas semanas desde o estouro do escândalo. Ele teve sua participação em atos de campanha cancelada ou reduzida; a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que disputa uma vaga no Senado, não podia defender sua plataforma de combate ao crime organizado sem ter de explicar o caso Espert.

Na última sexta-feira (3), o deputado e Milei se encontraram na residência oficial da Presidência da Argentina, a Quinta de Olivos. O deputado foi até o local com a intenção de entregar sua renúncia ao presidente. Milei, no entanto, contrariando os demais políticos de A Liberdade Avança, pediu que ele continuasse candidato.

No fim de semana, em uma entrevista à rádio, o deputado chorou ao se defender e ao falar de sua família, dizendo que as denúncias eram parte de uma operação do peronismo para prejudicar o partido de Milei nas eleições de 26 de outubro.

“Eu estava com ele, mas nunca pensei em renunciar nem ele sugeriu nada assim. Estou totalmente convencido de que vou demonstrar a infâmia que é essa denúncia desse [Juan] Grabois pouco apresentável”, esclareceu o deputado em diálogo com a Rádio Mitre, após a cúpula de sexta-feira em Olivos, da qual também participou a secretária da Presidência, Karina Milei. “Javier Milei sabe quem eu sou.”

Uma nova revelação, no entanto, desmentia a versão dada por Espert na semana passada, sobre não conhecer Fred Machado, e o candidato teve de admitir que viajou 17 vezes em aviões de Machado -e não duas ou cinco, como havia dito em versões anteriores.

A Justiça do Texas avalia o envolvimento de Machado, um empresário argentino do setor de aviação particular, em um esquema de tráfico de drogas. Sua empresa atuaria na parte logística do esquema.

Ele também tem participação em uma mineradora da Guatemala para a qual Espert disse ter prestados serviços de consultoria econômica, ao explicar o recebimento dos US$ 200 mil. Machado está em prisão domiciliar em Viedma (Río Negro), enquanto a Justiça dos EUA aguarda sua extradição.

O grupo político de Milei deverá nomear o deputado Diego Santilli para encabeçar a lista de candidatos à província de Buenos Aires agora. Ele é um político do PRO (o partido do ex-presidente Mauricio Macri, que concorre em aliança com o de Milei) e já foi vice-chefe de governo da cidade de Buenos Aires (que tem status de província), de 2015 a 2021.

Um problema prático para os mileístas é que as cédulas eleitorais com o rosto de Espert já foram impressas e a Justiça Eleitoral não garante que haverá tempo suficiente para a substituição. De todo modo, deputados peronistas apresentaram um projeto de lei para que os custos de reimpressão sejam pagos pelo partido de Milei e não pelos contribuintes.