SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Israel desacelerou sua ofensiva na Faixa de Gaza neste sábado (4) após o presidente Donald Trump pedir que Tel Aviv parasse de bombardear o território em resposta a declaração do grupo terrorista Hamas de que aceita parte do plano dos Estados Unidos para o fim da guerra em Gaza.
Os bombardeios israelenses continuaram, ainda que com menor intensidade do que nos últimos dias, e ao menos 57 pessoas foram mortas desde a sexta-feira (3), segundo as autoridades palestinas. Um dos ataques teria atingido uma casa no bairro de Tuffah, na capital do território, matando dez pessoas, incluindo crianças.
O conflito já matou mais de 67 mil pessoas em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas. O Exército de Israel afirmou que a Cidade de Gaza segue sendo uma “zona de guerra perigosa” e advertiu os palestinos deslocados pelo conflito para que não retornem ao local.
O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu afirmou, em um pronunciamento na TV, que o único motivo pelo qual o Hamas está disposto a libertar todos os reféns é a pressão militar e diplomática. Ele disse que espera o retorno de todos os reféns “nos próximos dias”.
Ele também agradeceu ao apoio de Trump. “Nossa intenção, e a intenção de nossos amigos americanos, é concluir as negociações em questão de dias”, anunciou. Ao mesmo tempo, alertou que não abrirá mão de desarmar o Hamas “seja por via diplomática, seja por via militar”.
Mais cedo neste sábado, Trump agradeceu a Tel Aviv por ter “temporariamente interrompido os bombardeios” e voltou a pressionar o grupo terrorista. O americano afirmou em um post na sua rede Truth Social que não irá tolerar lentidão na resposta.
“O Hamas precisa agir rapidamente, caso contrário tudo poderá ir por água abaixo. Não tolerarei atrasos, algo que muitos acham que acontecerá, nem qualquer resultado em que Gaza volte a representar uma ameaça. Vamos resolver isso, RÁPIDO”, escreveu o republicano.
Ele ainda disse que Israel havia parado os ataques no território. “Agradeço que Israel tenha temporariamente interrompido o bombardeio para que o acordo de paz e a libertação dos reféns possa ter uma chance de ser concluída”, afirmou.
De acordo com o site Axios, Trump telefonou para Netanyahu neste sábado para assegurar o apoio de Tel Aviv ao plano de paz. Ainda segundo a imprensa americana, o enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e Jared Kushner, genro de Trump, viajariam ao Egito ainda neste sábado para negociações sobre os termos do acordo e a devolução de reféns. Netanyahu confirmou que enviará representantes ao Cairo.
O Jihad Islâmico, um grupo armado aliado do Hamas que também mantém reféns, apoiou neste sábado a resposta do grupo ao plano dos EUA, num movimento que pode ajudar a abrir caminho para a libertação dos israelenses sequestrados. Já o chefe do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que o plano de Washington para um cessar-fogo em Gaza é “cheio de perigos”, mas que a decisão de aceitá-lo caberia, em última instância, ao Hamas.
O Hamas aceitou na sexta-feira (3) partes da proposta de Trump, e no mesmo dia o gabinete de Netanyahu afirmou que “Israel está preparado” para a implementação imediata da primeira fase do plano.
Várias questões, no entanto, continuam sem solução, como se o Hamas aceitará se desarmar uma das principais exigências de Israel. À rede qatari Al Jazeera, um membro da liderança da facção que não quis se identificar disse que não seria possível aceitar a proposta de Trump sem mais negociações e que a libertação dos reféns provavelmente demoraria dias.
O Hamas concordou também com uma das exigências vistas como mais trabalhosas do plano: aceitou abrir mão do poder na Faixa de Gaza e entregá-lo a um governo tecnocrático, como queria Trump. Entretanto, o grupo terrorista afirma querer participar da “estrutura nacional palestina” que ajudará a formar esse governo. Ainda não está claro de que forma essa participação se daria.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou que esta é “uma oportunidade crítica” para pôr fim “à matança e ao sofrimento em Gaza”. O Itamaraty afirmou em nota que “acompanha com atenção” as discussões e que defende a “restauração da unidade político-geográfica da Palestina” e “a retirada das forças israelenses do território”.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que governa parcialmente a Cisjordânia, disse que a Palestina está em um momento decisivo e reafirmou que pretende realizar eleições um ano após eventual cessar-fogo no conflito. Abbas afirmou ainda que um esboço de Constituição temporária está em produção para servir de base para transição a um Estado palestino.