SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia do Reino Unido informou nesta sexta-feira (3) que uma das vítimas do ataque à sinagoga de Manchester foi atingida por disparos feitos pelos próprios agentes que respondiam à ocorrência.

O ataque, classificado de terrorista, ocorreu na quinta (2) durante o Yom Kippur, a data mais sagrada do calendário judaico, e deixou dois mortos: Adrian Daulby, 53, e Melvin Cravitz, 66.

Segundo as autoridades, um homem de origem síria, identificado como Jihad al-Shamie, 35, avançou com um carro contra pedestres e, em seguida, passou a esfaquear pessoas na entrada da Sinagoga da Congregação Hebraica de Heaton Park, em Crumpsall, no norte de Manchester.

O agressor foi morto por policiais no local. Segundo o chefe da polícia de Manchester, Steve Watson, ele parecia usar um cinto explosivo, mas não estava armado com arma de fogo. O agente acrescentou que uma das vítimas foi atingida por disparos feitos por agentes em uma “consequência trágica e imprevista” da operação para deter o ataque.

Outra vítima baleada sobreviveu e não corre risco de morte. Elas estavam próximos à porta da sinagoga, na qual frequentadores tentavam impedir a entrada do agressor. O órgão que supervisiona a atuação policial no Reino Unido abriu investigação para apurar o caso.

As autoridades acreditam que Al-Shamie possa ter sido influenciado por ideologia islamista extremista. Ele não era monitorado pelos serviços antiterrorismo, mas possuía antecedentes criminais, incluindo uma prisão recente por estupro, da qual respondia em liberdade. Até agora, seis pessoas foram detidas sob suspeita de ligação com terrorismo.

Em nota, a família de Al-Shamie disse estar em “choque profundo” e repudiou o que chamou de “ato hediondo”.

O governo britânico prometeu reforçar o combate ao antissemitismo, que vem crescendo no país desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023. O primeiro-ministro Keir Starmer visitou o local do ataque e elogiou a atuação rápida da polícia e dos serviços de emergência. O vice-premiê David Lammy foi vaiado durante uma vigília ao pedir união, em que manifestantes exigiram o fim das marchas pró-Palestina que ocorrem com frequência em várias cidades.

Relatórios mostram que 2024 foi o segundo pior ano já registrado em incidentes antissemitas no Reino Unido, com mais de 3.500 ocorrências, atrás apenas de 2023, quando a guerra em Gaza começou, segundo a organização Community Security Trust. Incidentes islamofóbicos também aumentaram no mesmo período.

O episódio reacendeu tensões políticas. O governo israelense acusou Londres de permitir a expansão do antissemitismo em universidades e cidades, enquanto a ministra do Interior, Shabana Mahmood, criticou protestos pró-Palestina realizados logo após o ataque, classificando-os como desonrosos e pedindo mais solidariedade à comunidade judaica em luto.

Mesmo com pedidos da polícia para cancelar uma manifestação prevista em Londres neste fim de semana, em apoio aos palestinos, os organizadores confirmaram que o ato ocorrerá. Desde o início da onda de protestos, mais de 1.500 pessoas já foram presas.

Manchester, a segunda maior comunidade judaica do Reino Unido, amanheceu sob forte presença policial nesta sexta-feira. Flores foram deixadas diante da sinagoga, e várias pessoas prestaram homenagem às vítimas no local.